O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), que era o gestor da cidade nos jogos de 2016, é medalha de ouro na categoria “empolgação” com a Olimpíada. Interessado em defender o legado da Rio 2016, Paes já publicou 37 tuítes sobre o tema (28% de um total de 133 mensagens) desde o dia 23, data da abertura dos Jogos.
Em tom bem-humorado, Paes procura mostrar sua “aptidão esportiva”, ora andando de skate, ora lembrando do dia em que “disputou” uma corrida contra Usain Bolt, a lenda do atletismo mundial que se tornou tricampeão olímpico no Rio. Também fez questão de compartilhar uma foto em que aparece próximo à ginasta Rebeca Andrade, primeira brasileira (paulista) a conquistar medalhas olímpicas na modalidade.
A oposição notou que, antes de Paes publicar a foto, foi apagada a imagem de Carlos Arthur Nuzman, ex-presidente do Comitê Olímpico Brasileiro que já foi preso pela Operação Lava Jato e é suspeito de ter comprado votos para que o Rio fosse escolhido como sede em 2016. A ausência virou motivo de piada nas redes.
O governador do Rio, Cláudio Castro (PSC), não fica atrás. Político de pouca expressão nacional e baixa popularidade – assumiu o posto em 2020 após o impeachment de Wilson Witzel -, Castro faz questão de cumprimentar os medalhistas e, quando possível, destacar a importância do Estado na conquista.
O sucesso de Rebeca também é reivindicado pelos petistas, já que a atleta iniciou sua trajetória no esporte como integrante de um projeto social desenvolvido pela Prefeitura de Guarulhos, sua cidade, durante a gestão do prefeito Elói Pietá (PT).
No Rio Grande do Norte, a governadora Fátima Bezerra (PT) foi além. Publicou um vídeo no Twitter no qual “convoca” o artista Guaraci Gabriel a fazer uma escultura para homenagear o primeiro surfista campeão olímpico Ítalo Ferreira, que é de Baía Formosa (RN). O “presente” deverá ter o nome de Fátima, que deve concorrer à reeleição, na placa.
Entre os possíveis presidenciáveis, passar a imagem de incentivador do esporte é estratégia unânime. Ciro Gomes (PDT), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), João Doria (PSDB) e Eduardo Leite (PSDB) cumprimentam os vencedores pelas redes e destacam programas que já desenvolveram ou desenvolvem em prol do esporte. Lula ainda postou fotos treinando boxe, nadando ou andando de skate.
O governador do Rio Grande do Sul recepcionou os gaúchos medalhistas com uma homenagem no Palácio Piratini, mas não sem fazer propaganda de seu programa na área.
Em disputa direta com Leite pela vaga de candidato ao Planalto em 2022 pelo PSDB, o governador paulista prepara também a sua festa em casa. Como mostrou ontem a Coluna do Estadão, Doria homenageará os atletas paulistas ou radicados no Estado que brilham nos Jogos de Tóquio com uma comenda. O mesmo deve ocorrer nas cidades dos atletas, como Guarulhos, casa de Rebeca, ou São Joaquim da Barra, onde mora o velocista Alison dos Santos.
Já o presidente Jair Bolsonaro, que gosta de ressaltar seu “histórico de atleta”, tem sido mais tímido. Desde que os Jogos começaram, em 23 de julho, ele só usou o Twitter para dar os parabéns aos skatistas Rayssa Leal e Kevin Hoefler, ambos medalhistas de prata. Na ocasião, aproveitou para dizer que seu governo reduziu o imposto sobre importação de skate.
Em Niterói, o prefeito leva a homenagem no sobrenome. Axel Grael (PDT) é irmão dos medalhistas Torben Grael e Lars Grael e tio, portanto, de Martine Grael, bicampeã olímpica na vela em Tóquio. Velejador como toda a família, Axel comemora duas vezes e aproveita para divulgar o projeto municipal que incentiva a prática do esporte. Desde que Martine e Kahena Kunze levaram o ouro, o prefeito já postou 17 tuítes para homenagear a dupla e destacar a importância da modalidade.
A iniciativa dos políticos, no entanto, pode não encontrar respaldo entre os atletas. Ao retornar ao Maranhão como campeã olímpica de skate, Rayssa Leal se negou a posar para fotos ao lado de políticos locais. Motivo: não recebeu apoio deles enquanto atleta.
‘Madrinha’ do skate
No ranking dos políticos que tentam faturar com o sucesso dos medalhistas brasileiros, uma pode se considerar vencedora: a deputada Luiza Erundina (PSOL-SP), que liberou a prática de skate em São Paulo quando assumiu o cargo de prefeita, em 1989. Seu antecessor, Jânio Quadros, havia proibido o esporte na cidade e liberado a Guarda Civil a quebrar skates de quem tentava furar o veto. Desde que revogou a lei da censura do skate, Erundina passou a ser considerada a “madrinha” do esporte, hoje “vovó do skate”. Depois das três medalhas de prata conquistadas por brasileiros nos primeiros Jogos Olímpicos da modalidade, Erundina virou “medalha de ouro”, com direito a agradecimento público direto de Tóquio. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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