Após ouvir pergunta lida pelo senador governista Ciro Nogueira (Progressistas-PI), Mandetta afirmou que já conhecia a íntegra da questão desde a véspera, quando Faria a enviou por aplicativo de mensagem. “Inadvertidamente, mandou para mim. Quando eu fui responder, ele apagou”, disse.
A pergunta tratava sobre as orientações do ex-ministro para que a população ficasse em casa nos primeiros sintomas da covid-19 e só procurasse atendimento especializado com o agravamento da doença. O questionamento foi acompanhado por alegações de que a estratégia propiciou um amplo cenário de subnotificações de casos, de agravamentos evitáveis e de mortes, uma vez que pacientes passaram a chegar nos hospitais com quadros irreversíveis.
O ex-chefe da pasta da Saúde afirmou que os argumentos fazem parte de uma narrativa criada por governistas para contradizer quem agiu com base na ciência. Mandetta disse que apenas 15% dos casos evoluíam para algum grau de complicação e que tomou as decisões com base em recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Tem que ter uma decisão de estar do lado da ciência. Falar em tratamento naquele momento seria criar um kit ilusão, ‘posso ir porque tomei isso daqui'”, disse.
Em vídeo postado nas redes sociais para responder Mandetta, Faria admitiu que conversou com Ciro sobre a questão e repetiu o perguntando se Mandetta se arrepende da recomendação dada a época.
Em outro momento do interrogatório, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), relator da comissão, fez pergunta semelhante. Na oportunidade, o ex-ministro afirmou que era outra fase da pandemia, sem casos confirmados no Brasil. Portanto, era pertinente tranquilizar a população para evitar que procurassem hospitais sem necessidade.
“Estávamos em janeiro, fevereiro. Não havia um caso registrado dentro do País. O que havia naquele momento eram pessoas em sensação de insegurança e pânico”, frisou. “A orientação é que se observe, que não vá imediatamente para o hospital porque aglomera. Lá, um paciente positivo vai contaminar na sala de espera. Tenho visto essa máxima ser repetida e tenho percebido que é mais uma guerra de narrativas”
Ciro Nogueira é o líder da tropa de choque do Planalto para tentar tirar o foco da CPI sobre o governo federal e transferir a governadores. O senador também cobrou Mandetta sobre uma declaração dele, de março de 2020, quando recomendou “reza, chá e canja de galinha” contra o coronavírus.
Era uma estratégia para mostrar que, em algum momento da crise, Mandetta também foi partidário de soluções sem comprovação científica. “A pessoa com virose deve fazer repouso, comer um alimento hiperproteico. Na linguagem do povo brasileiro, uma canja de galinha é uma alimentação hiperproteica, ele sabe o que eu estou falando. Repouso, ele sabe o que estou falando”, rebateu.
O aliado do Planalto também cobrou Mandetta pela autorização de exportação de respiradores e máscaras de proteção para a Itália, em março de 2020. “Ciro Nogueira quis saber se Mandetta achou correta a proposta e se o ato não permitiu que o País ficasse desfalcado. O ex-ministro disse que tomou uma decisão humanitária que não causou prejuízos ao Brasil.
Antes mesmo do início do depoimento de Mandetta, senadores aliados ao Planalto também formularam questões de ordem visando postergar o início da oitiva do ex-ministro. Questionamentos foram formulados pelos senadores Eduardo Girão (Podemos-CE) e Marcos Rogério (DEM-RO). O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), se exasperou com os colegas e os acusou de trabalharem para impedir o funcionamento do colegiado.
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