Por uma correção de rumo

            Nossa sociedade idolatra sobremaneira os seres humanos com tendências a serem de ferro, aqueles que gostam de exibir-se como sendo acima do bem e do mal, os que se dizem saberem o que é melhor para uns e outros, é o mundo onde imperam muitos contra valores, as ilusões brilhando sempre mais alto no espaço e no tempo, difícil passar uma semana sem ficarmos sabendo por um meio ou outro de comunicação que esse ou aquele são influencers, youtubers, enfim pessoas, muitas delas ilustres desconhecidos, que tem conseguido arregimentar multidões consideráveis de adeptos, não por acaso a juventude tem se atirado a eles de corpo e alma, por mostrarem aspectos da vida que nem sempre se coadunam com a realidade; usam quase sempre uma linguagem quase mágica, seres travestidos de rei Midas; adoçam as palavras num momento onde as certezas evaporaram.

            Há novos deuses no ar, os antigos continuam sim entre nós, com pouca ou nenhuma força, segundo nossas vãs convicções, mas estão ali, volta e meia eles nos deixam atônitos, mostram o que não queremos ver, falam aquilo que odiamos ouvir, muitos detestam recorrer aos antigos porque eles sabem que terão diante si verdades duras, incontestáveis, aquilo que era, é e será sempre, não se suporta aquilo que é tido como imutável, por isso a busca quase enlouquecida pelo efêmero, da brevidade, do instante final e decisivo, nossas queridas crianças já em tenra idade são persuadidas a adotarem esse estilo de vida carregado de poder sem limites, mal elas começam a frequentar a escola, é colocado em seus ombros pesadas mochilas, quase sempre cheias de cacarecos; e o que realmente importa para ela é facilmente negligenciado ou esquecido de propósito e isso dia e noite.

            Vivemos o tempo em que cada um precisa se realizar ao máximo e isso em todas direções, nas entrelinhas dessa maximização está embutido o ser primeiro lugar em tudo, cada um sendo desafiado a todo instante a se superar, a se sacrificar em prol de um futuro melhor, que aliás nunca chegou, não chega e não chegará, pois a realização absoluta, cem por cento nos é impossível, essas transgressões que somos obrigados a enfrentar, mesmo que a contragosto em muitas ocasiões violam o nosso ser mais profundo, nos empurram para um estilo de vida que não condiz com aquilo que sou, somos provados a todo instante por profundas mudanças, a nossa modernidade adere ao que lhe é mais rentável no mínimo de tempo possível, as engrenagens que se movem quase sempre não estão a nosso favor, estamos em continuo movimento, não para mim mesmo, mas para o outro que é estranho.

Os antigos devem conhecer o Supertramp e a sua canção chamada “canção lógica”, apesar de antiga é demais atual, dentre outras coisas ela retrata: “Quando eu era jovem, a vida parecia tão maravilhosa, um milagre, era linda, mágica, e os pássaros nas árvores, eles cantavam tão felizes, com prazer, olhando para mim, mas então eles me mandaram embora para me ensinarem a ser sensato, responsável, prático e eles me mostraram um mundo onde eu poderia ser confiável, clínico, intelectual, cínico. Há momentos quando todos estão dormindo, as perguntas são muito profundas, para um homem tão simples, por favor, diga-me o que sabemos, eu sei que parece absurdo, mas por favor diga-me quem eu sou; cuidado com o que você diz ou vão te chamar de radical, liberal, fanático, criminoso, gostaríamos de saber se você é aceitável, respeitável, apresentável”. A nossa realidade.

Bioeticamente, o nosso comportamento diante de um mundo em ebulição desenfreada, no meio de tantas contradições que nos fazem fremir, no tempo que estamos vivendo, não poderíamos aceitar tantas misérias, tantos desencontros, não sentimos nenhuma mobilização para remediarmos a agressividade espantosa que veio, mas que não é a ultima palavra, o fazer muitas vezes insensato na atualidade não tem nada de humano e muito menos de reciprocidade, é no mais das vezes é um fazer para aniquilar, o outro fazê-lo rastejar no mar das contrariedades tão perto de nós, mas ao mesmo tempo tão distantes de nossas consciências. Quanto mais nos afastamos dos seres que nos são próximos e queridos, mais as feridas aumentam, mais difícil torna-se a convivência, as badaladas máquinas pensantes e com tons miraculosos nunca nos dão o que precisamos.

Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, Mestre em Bioética, Especialista em Filosofia, ambos pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, Doutor e Mestre em Filosofia, professor titular do programa de Bioética pela PUC-PR. Emails: ber2007@hotmail.com e anor.sganzerla@gmail.com

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