Cristina Vargas, Marcilei Rossi e Mariana Salles
O ex-juiz, ex-ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Jair Bolsonaro (PL), Sérgio Moro (União Brasil), esteve em Pato Branco nesta quinta-feira (14), divulgando sua pré-candidatura ao Senado. Ele já havia feito o anúncio publicamente na terça-feira (12), em Curitiba, e nesta semana vem percorrendo a região Sudoeste e conversando com a população.
Na carreira, Moro tornou-se juiz federal em 1996. Trabalhou em casos como o do Banestado, na operação ‘Farol da Colina’ que investigou suspeitos de crimes contra o sistema financeiro, evasão de divisas e lavagem de dinheiro.
Como juiz auxiliar no Supremo Tribunal Federal, assessorou a ministra Rosa Weber durante o julgamento dos crimes relativos ao escândalo do mensalão. Passou a ter mais notoriedade a partir de março de 2014, com o julgamento em primeira instância da Operação Lava Jato.
Após as eleições de 2018, aceitou deixar a carreira de 22 anos como juiz federal para comandar o Ministério da Justiça, onde permaneceu até abril 2020, quando pediu demissão do cargo.
Na sequência, o ex-ministro da Justiça e ex-juiz filiou-se ao partido Podemos, em novembro do ano passado. No evento de filiação, o senador Alvaro Dias (Podemos-PR) chegou a dizer que era o desejo do partido que Moro fosse um candidato à Presidência da República nas eleições de 2022, com o intuito de “recuperar o Brasil”.
Após rompimento com o Podemos, filiou-se ao União Brasil em março deste ano, partido pelo qual é pré-candidato ao Senado.
Cumprindo agenda em Pato Branco, Moro conversou com empresários na Associação Empresarial (Acepb) e concedeu entrevista exclusiva ao Diário do Sudoeste.
Diário do Sudoeste – Por inúmeras vezes, enquanto magistrado o senhor afirmou que não tinha intenções políticas. “Penso que [para entrar na política] precisa ter um certo perfil e, sinceramente, não me vejo com esse perfil”, foi sua fala em 2016. Depois disso o senhor assumiu um Ministério, e mais, se mostrou um ser político. Em que momento da vida, Sérgio Moro se viu político?
Sérgio Moro (União Brasil) – Quando fui para o Ministério da Justiça sempre me vi como um cargo técnico, assim também considerado pela imprensa. No caso, não estava fazendo política partidária.
Agora estou me colocando como um pré-candidato ao Senado, pelo Paraná. Agora é diferente, precisa fazer política partidária, mas a ideia principal é resgatar aquela noção de que a política é tratar do bem comum, para melhorar a vida das pessoas.
Tive que me adaptar. O que a gente esperava com todas as revelações feitas pela Lava Jato e com a corrupção endêmica no país, que o mundo político ia se autocorrigir, que seriam aprovadas as leis que evitassem que situações de escândalos de corrupção, iguais os revelados pela Lava Jato, surgissem.
No entanto, o que a gente viu, infelizmente, foi uma reação do sistema político contra a investigação. Não contra a corrupção, mas contra o combate a corrupção.
Isso me motivou a colocar meu nome à disposição para a política, porque se a gente não levantar essas bandeiras – e eu tenho uma voz importante nesta luta – em Brasília, ninguém vai levantar. Ou não vai levantar com a força e a convicção necessárias. Por isso que estou me colocando à disposição, e tive que fazer essa adaptação e mudança de rumo.
Esta semana o senhor anunciou sua pré-candidatura ao Senado, afirmando que “o Paraná precisa de vozes fortes no Senado, lideranças que não se omitam e não sumam do cenário político”. Como o senhor se descreve como político, uma vez que tentou transferir seu domicílio eleitoral para São Paulo e vai concorrer pelo Paraná por força de Legislação Eleitoral?
Acho que o paranaense compreende. Houve um pedido do partido União Brasil, quando me filiei à legenda, essa transferência de domicílio eleitoral. Como existia um projeto nacional envolvido, acabei concordando no primeiro momento. Mas quando houve a decisão no Tribunal de São Paulo, pela minha permanência no Paraná, escolhemos não recorrer.
Se tivéssemos todo esse desejo de permanecer em São Paulo, estaríamos recorrendo até hoje. Mas vimos como uma janela de oportunidades, para apresentar meu nome ao Paraná, que é o que queríamos, na verdade.
O que digo, sincero, é que fiquei radiante com essa oportunidade. Porque foi aqui que eu nasci, sou de Maringá, meus pais são de Ponta Grossa, eu vivi aqui no oeste do Paraná, em Cascavel, moro hoje em Curitiba, onde tive meus filhos, e aqui também foi importante, porque foi no Paraná que a gente escreveu uma página da história do Brasil, pela Lava Jato.
Muita gente diz, inclusive, que a Lava Jato só foi possível porque foi no Paraná. A gente mudou o Brasil e teve, inclusive, uma influência e repercussão mundial, pelos desdobramentos da Lava Jato.
Agora o que queremos fazer é escrever uma nova página na história do Brasil, a partir do Paraná. Para isso, precisamos de lideranças fortes, de gente no Congresso que não se vende por cargo, que não se vende por emenda, que vai ter princípios firmes e não vai mentir para os eleitores, dizendo que vai fazer uma coisa e chega lá e faz algo completamento diferente. O parlamentar, seja no Senado ou na Câmara, precisa de independência. E eu acredito que eu demonstrei, pelo que fiz no passado, que a gente tem essa independência para representar os paranaenses.
Pela sua fala podemos acreditar que se a sua candidatura fosse por São Paulo, seria uma candidatura frustrada?
Acho que esta questão de São Paulo é passado. Não tem a menor relevância. Temos que olhar o presente e o futuro. O que posso dizer é que fiquei muito feliz com a oportunidade de concorrer pelo Paraná.
Ao se confirmar as prévias partidárias, o senhor deve concorrer por uma vaga ao Senado com o senador Alvaro Dias (Podemos), um dos seus padrinhos políticos, que já anunciou a pré-candidatura. Como que esse pleito deve ocorrer, tendo essa proximidade, ainda mais que o senhor entrou na política pelo Podemos?
Quero deixar claro que o senador Alvaro Dias é alguém que eu respeito, mas que nunca foi meu padrinho político. Não teve nenhuma relevância na minha trajetória profissional. Na Lava Jato, eu fiz o meu trabalho. Os processos anteriores, no caso do Banestado, por exemplo, que foi um caso relevante aqui no Paraná, e nacionalmente também, não tem nenhuma influência do senador Alvaro Dias.
Tive processos aqui no Paraná contra grandes traficantes de drogas, no processo onde condenei o Beira-Mar e a quadrilha dele. Depois, como Ministro da Justiça, que a gente conseguiu implementar uma série de políticas públicas que levaram a uma redução inédita do número de crimes no Brasil – caíram 22% assassinatos, em 2019 em comparação com 2018 –, da mesma forma, o senador Alvaro Dias não tem qualquer relação com isso.
O que aconteceu foi que nesse início da minha vinda para a política, fui convidado pelo senador Alvaro Dias, mas a minha carreira pública é totalmente independente dele. De todo modo é alguém que eu respeito e caso seja confirmada a candidatura dele, o debate será tratado em alto nível.
O Bolsonarismo surgiu e elegeu o atual presidente baseado no discurso anticorrupção, bandeira que o senhor levantou durante a Lava Jato. Baseado nisso, o senhor se arrepende de ter deixado a magistratura para estar no governo Bolsonaro?
Acho que fiz boas coisas ali. Não consegui fazer tudo o que eu queria. A consolidação do combate a corrupção não foi possível porque tivemos uma grande resistência de parte do Legislativo, de parte do Judiciário que proferiu uma série de decisões infelizes, nos últimos anos, e também de parte do Executivo, que motivou a minha saída do Ministério para manter a minha coerência com aquilo que eu acredito, que são os princípios de valores também da população brasileira.
Mas, ainda assim, realizamos uma série de políticas públicas que foram importantes, e algumas delas permanecem até hoje, como o programa vigia nas fronteiras, a rede nacional de perfis genéticos [que possibilitou a elucidação do assassinato daquela menina em Curitiba, a Rachel Genofre], e como já mencionei, tivemos 22% de queda nos assassinatos no país. Foram dez mil vidas brasileiras a menos, assassinadas. Só isso já é motivo para uma grande satisfação pessoal. O que me sinto na verdade é desapontado. Porque eu queria ter continuado e consolidado aquele combate à corrupção, mas não me foram dadas as possibilidades de permanecer no cargo. As circunstâncias exigiram a minha saída.
Acho que é o sentimento da maioria dos brasileiros, que acabou votando na eleição de 2018, mas que também se desapontou em vários aspectos relacionados ao atual governo, entre eles a falta de continuidade daquele trabalho que fizemos na Lava Jato.
No período anterior a entrar no Ministério, o senhor falava que votaria em Bolsonaro em 2022. Se arrepende, após ter participado do governo?
Nunca manifestei minhas intenções eleitorais ou em quem eu votaria em 2022, até porque estávamos em 2018/2019, e como ministro do governo, obviamente, a minha posição seria apoiar o atual governo.
Hoje estou no União Brasil, o maior partido do país, e tenho um pré-candidato à Presidência da República, que é o Luciano Bivar, um candidato de centro moderado.
Nosso objetivo, aqui, vai além da eleição presidencial. Importante que a gente desperte para a necessidade de se ter um bom Congresso, um bom Senado, uma boa Câmara, assim como um bom governo do Estado, boa Assembleia Legislativa. Porque tem muita gente insatisfeita com essa polarização que está dividindo o país e é o momento da gente, além de pacificar os ânimos, olhar para a possibilidade de que a melhoria da vida das pessoas, com emprego, renda, economia, segurança pública e combate a corrupção, pode vir do Congresso, do governo do Estado.
O União Brasil chegou a articular com o MDB, PSDB e Cidadania, mas decidiu lançar uma “chapa pura”, com a pré-candidatura de Luciano Bivar. Na briga de egos da política, esse movimento não contribui para o fortalecimento da polarização que está estabelecida no Brasil?
Acho que foi uma opção. O União Brasil é um partido que defende uma economia liberal, mas também robustos projetos sociais. Tem uma discussão profunda dentro do partido, por exemplo, pela necessidade de melhorar nosso sistema tributário. Diminuir a carga tributária para quem ganha menos. O partido não se sentiu confortável de abraçar nenhuma das candidaturas do extremo político, porque essas candidaturas acabam dividindo o país.
esse aí se estragou na capação