Responda rápido: o que um Prêmio Nobel, o gol de bicicleta e os riffs das canções da Legião Urbana têm em comum? A pergunta parece absurda, mas a resposta é simples: nenhuma dessas coisas existiria não fosse a descoberta da insulina, em 1921. O medicamento completa seu centenário na semana que vem e permitiu que as pessoas com diabetes tipo 1, como os autores dos feitos e obras de arte acima, pudessem literalmente sobreviver.
Embora o senso comum costume associar as causas do diabetes com um consumo exagerado de açúcar, essa é uma doença muito mais complexa. O diabetes tipo 1 é, na verdade, uma doença autoimune, causada pelo próprio organismo, caracterizada pela destruição total ou parcial das células do pâncreas responsáveis pela produção da insulina, hormônio fundamental para o metabolismo da glicose no sangue. A falta de insulina leva ao acúmulo de açúcar no organismo e causa danos a diversos órgãos a curto e longo prazo e, em casos extremos, pode levar à morte. Por isso esses pacientes precisam aplicar insulina diariamente e, em alguns casos, a cada refeição.
Antes da descoberta do medicamento, o tratamento disponível para a doença era principalmente restrição de alimentação. Devido ao corte de carboidratos necessário para o controle da doença, algumas dessas pessoas só poderiam ter uma ingestão diária de apenas 450 calorias, o que levava os pacientes a terem uma expectativa de vida muito menor e, em alguns casos, morrerem por inanição. A descoberta da insulina ocorreu no Canadá, em 1921, e foi um divisor de águas na vida das pessoas com diabetes. É ela que permite que, Hoje, no mundo, cerca de 463 milhões de pessoas vivam normalmente, a não ser pela dependência à aplicação de insulina diversas vezes ao dia.
Não fosse esse marco da medicina, uma série de fatos nunca teria acontecido. Para homenagear essas histórias, a Novo Nordisk, maior produtora global do medicamento, separou uma lista com algumas personalidades e suas obras, que nunca teriam existido sem a insulina. Confira:
Leônidas da Silva e o gol de bicicleta
Nascido em 1913 e considerado um dos atacantes de futebol mais importantes do século XX, o jogador também chamado de “Diamante Negro” ficou famoso por ajudar a popularizar um dos lances mais aclamados e difíceis do futebol. O que poucos sabem é que o atleta também tinha diabetes, algo que não o impediu de representar o Brasil em duas Copas do Mundo e nem de ganhar os céus para performar seus característicos gols de bicicleta. Ele viveu até os 90 anos e chegou até a encenar o movimento no cinema nacional, na comédia “Suzana e o Presidente” (1951).
James Brown, seu gingado e influência
Reconhecido como um dos artistas mais influentes do século XX, o rei do Soul e do Funk nasceu em 1933 nos Estados Unidos e vendeu mais de 100 milhões de álbuns durante sua carreira, em que acumulou as funções de cantor, dançarino, compositor, produtor musical e multi-instrumentalista. O fato de ter sido diagnosticado com diabetes tipo 1 ainda na infância também não o impediu de mudar o cenário da música para sempre com seu talento e inclusive influenciar, com seus gritos e movimentos característicos, o então novato Michael Jackson
Dado Villa-Lobos e os sucessos da Legião Urbana
Ainda no universo da música, guitarrista Dado Villa-Lobos foi diagnosticado com diabetes tipo 1 aos 11 anos após um desmaio4. Depois de uma semana no hospital ao descobrir a doença, ele seguiu em frente com sua paixão pela música e foi o responsável pelos riffs e arranjos que embalaram os hits da Legião Urbana, uma das bandas de maior sucesso do Brasil com mais de 14 milhões de álbuns vendidos e canções atemporais como “Pais e Filhos”, “Faroeste Caboclo” e “Que País é Esse”.
George Richards Minot, o primeiro Prêmio Nobel com diabetes
Embora a própria descoberta da insulina tenha rendido aos médicos Frederick Banting e John Macleod o maior prêmio da área médica em 1923, existe ainda um outro Nobel muito importante para as pessoas com diabetes. O médico e pesquisador George Richards Minot nasceu em 1885 e foi diagnosticado com diabetes aos 35 anos na época em que a doença era considerada uma sentença de morte rápida. Ele teve acesso ao tratamento recém-descoberto a tempo de ser salvo e poder viver até os 64 anos, tempo suficiente para ele se dedicar ao estudo da anemia perniciosa, doença que também não tinha tratamento à época. O trabalho de Minot ajudou a mudar essa realidade, o que o rendeu o mesmo Prêmio Nobel de Medicina em 1934, fazendo dele a primeira pessoa com diabetes a receber a láurea.
Leonard Thompson: o primeiro
O canadense Leonard Thompson é o último nome da lista, mas está longe de ser menos importante. Sua relevância não se dá por qualquer tipo de produção musical, esportiva ou acadêmica, mas por ter sido a primeira pessoa com diabetes tipo 1 a receber uma dose de insulina para o tratamento da doença na história. Essa aplicação histórica ocorreu em janeiro de 1922, quando o garoto de 14 anos se encontrava em um estado crítico de desnutrição. Foi ao analisar a queda no nível de glicose do sangue de Leonard que os médicos puderam ver pela primeira vez a ação da insulina no corpo humano, inaugurando um novo capítulo na história do diabetes.