O resultado surpreendeu e veio acima da mediana da taxa apontada pela pesquisa do Projeções Broadcast com as estimativas do mercado financeiro. Agora, os analistas devem rever suas projeções para o IPCA de setembro, quando o acumulado em 12 meses também deverá romper os 10%.
Diante das declarações recentes do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, de que a política monetária não alteraria seu “plano de voo” em função de cada novo dado de inflação, analistas preferiram seguir apostando na manutenção do ritmo de alta da Selic, a taxa básica de juros, mas reconheceram que aumentou a pressão sobre a autoridade monetária. Na quarta-feira, o BC anunciou alta de 1 ponto porcentual, para 6,25% ao ano, e informou que pretende repetir a dose em outubro.
Para Daniel Lima, economista do banco ABC Brasil, os números mostram um cenário indigesto para o BC, pois a composição do IPCA-15 de setembro veio ruim em todos os aspectos, seja porque a elevação de preços está difundida pelos diversos produtos e serviços pesquisados, seja porque os núcleos, ou seja, o cálculo da inflação que exclui as maiores variações, também estão acelerando. “A leitura geral desse IPCA-15 é de um número desfavorável: a média dos núcleos, a difusão, todas as categorias de bens industriais, serviços, preços administrados e alimentação no domicílio mostrando aceleração”, disse Lima.
O economista Homero Guizzo, da corretora Guide Investimentos, descreveu os dados do IPCA-15 de setembro como “assustadores”. “Em outras partes do ano, conseguimos identificar alguns ‘poréns’ nos números altos de inflação, como o índice geral pressionado por algum choque concentrado. Hoje, é mais difícil. Não podemos recorrer a esse argumento. Quando olhamos a abertura, tem pressão de todos os lados. Não há nenhuma trégua”, disse o economista.
Em setembro, sozinhas, a gasolina e a energia elétrica foram os itens com maior impacto no IPCA-15. A gasolina teve alta de 2,85% no mês e acumula um salto de 39,05% em 12 meses. Os combustíveis vêm encarecendo por causa da alta das cotações do petróleo e do dólar.
Já a conta de luz, que subiu 3,61% no IPCA-15 de setembro, está mais cara por causa da crise hídrica. Sem chuvas, os reservatórios das usinas hidrelétricas, principal fonte de geração no País, chegaram aos níveis mínimos históricos, exigindo o acionamento de usinas térmicas, com custo operacional maior. Quando isso ocorre, o custo maior é repassado para o consumidor por meio das “bandeiras tarifárias”, taxas adicionais cobradas na conta. Em agosto, o quadro ficou tão crítico que foi determinada uma nova bandeira, com uma taxa mais elevada do que todas.
A estiagem e as cotações elevadas das matérias-primas agrícolas também impulsionaram os preços de alimentos e bebidas. Esse grupo de despesas avançou 1,27% no IPCA-15 de setembro, acima do 1,02% em agosto e do 0,49% de julho. Entre os destaques de alta em setembro, estão as carnes (que subiram 1,10%), a batata-inglesa (10,41%), o café moído (7,80%), o frango em pedaços (4,70%), as frutas (2,81%) e o leite longa vida (2,01%).
Para piorar, o quadro é agravado por problemas associados à pandemia que ainda não se dissiparam. É o caso do travamento das cadeias globais da indústria e da reabertura das atividades de serviços. Com a vacinação avançando, negócios como bares, restaurantes e salões de beleza começam a voltar à normalidade, o que tem permitido reajustes nos preços desses serviços. Nas contas do economista Raphael Rodrigues, do Banco BV, eles ficaram 0,74% mais altos em setembro, ante 0,29% em agosto.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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