Por ter feito a melhor campanha, o São Paulo terá a vantagem de fazer o segundo confronto em casa, no Morumbi, no domingo, às 16h. Em caso de igualdade nas duas partidas, o título será decidido nas penalidades.
Esse duelo vai encerrar um longo tabu no Paulistão. Desde 1975, nenhum técnico estrangeiro levantou a taça no estadual mais importante do País. Já são 46 anos. Na ocasião, o argentino José Poy, lendário comandante tricolor, derrotou a Portuguesa, nos pênaltis. De lá para cá, não tem sido fácil para um estrangeiro sequer chegar ao pódio. Isso só aconteceu duas vezes, ambas com o São Paulo. A primeira foi com o mesmo José Poy, vice em 1982. A segunda foi com Dario Pereyra, em 1997.
Esses dados vão além das curiosidades históricas. Crespo e Abel reafirmam o aquecimento do mercado brasileiro para professores de outras nacionalidades. Foram valorizados sobretudo depois das conquistas de Jorge Jesus no Flamengo e dos novos conceitos de Jorge Sampaoli com o Santos. Só na temporada passada, dez comandantes estrangeiros trabalharam em clubes da primeira divisão. É um recorde desde 2001.
No Paulistão, Crespo e Abel personificam as estratégias dos clubes que dirigem. O são-paulino administra o peso emocional de um jejum de nove anos sem títulos. Nesse contexto, o troféu estadual é sinônimo de respaldo e tranquilidade para o restante da temporada para ele próprio e para a diretoria. Essa obsessão orientou o planejamento da comissão técnica, principalmente nas fases mais agudas do Paulistão. Com o aval dos diretores, o argentino poupou os titulares nos dois últimos jogos da Libertadores. Tudo para que o time principal estivesse focado e descansado na ida da decisão.
Tiago Volpi nega ansiedade do grupo do São Paulo, mas fala em “muita vontade”. “Quando se trata do São Paulo, o título tem de estar permanente na cabeça de cada um. Clube grande que não ganha há muito tempo não ganha. Temos no Estadual uma grande oportunidade de começar isso novamente. Estamos com vontade, ansioso não é a palavra correta”, disse o goleiro.
Abel Ferreira adotou estratégia oposta. Depois que a Federação Paulista negou o pedido de adiamento do jogo com o Corinthians, ainda na fase de classificação, o Palmeiras passou a escalar um time B. Às vezes, até o C no torneio. A prioridade se tornou a Libertadores. Nas fases finais, a escalação reserva passou a ser mais encorpada. Nas quartas de final diante do Bragantino, jogaram vários titulares. Diante do Corinthians, na semifinal, a escalação foi a principal.
Para o treinador, a taça estadual tem um peso menor. Em pouco mais de seis meses, o português liderou as conquistas da Copa do Brasil e da Libertadores, mas foi superado nos pênaltis nas disputas da Supercopa e da Recopa Sul-Americana. É a sua quinta decisão desde que chegou ao clube, em novembro de 2020. O torneio estadual é uma conquista inédita – no ano passado, o treinador era Vanderlei Luxemburgo.
“Quando cheguei aqui, não disse que ia conquistar títulos, disse que ia ter trabalho de qualidade, que tínhamos condições com jogadores de qualidade de poder lutar por títulos. Se vamos ganhar ou não, não sei. Orgulho por perceber que essa equipe tem estado presente em todas as finais. Tem de valorizar os processos para chegar até as finais”, analisou o técnico.
Taticamente, os dois são parecidos. A final deve apresentar um duelo de espelhos táticos: os dois times costumam usar o esquema com três zagueiros. Com mais tempo no cargo, Abel Ferreira adotou o sistema eventualmente em 2020, e o São Paulo não jogava assim desde Rogério Ceni, em 2017. Hernán Crespo treina titulares e reservas no sistema, com a mesma ideia de ter zagueiros que avançam a criam superioridade nos lados. Os alas jogam bem abertos para facilitar a busca de espaço entre as linhas. Recuperado de lesão, Daniel Alves deve começar a partida. Destaque nas últimas vitórias, o meia Martín Benítez tem sido o principal articulador. Os jogadores “compraram” a ideia do treinador que, em muitos aspectos, deu continuidade ao trabalho de Fernando Diniz. O time quer sempre ficar com a bola.
Sistema da histórica vitória sobre o River Plate na Argentina, o 3-5-2 resolveu alguns problemas defensivos que culminaram nas derrotas no Mundial, Supercopa e Recopa. Mas também ajudaram o Palmeiras a melhorar a produção ofensiva. Com a ligação dos zagueiros com os alas ou os atacantes Rony ou Luiz Adriano e a grande fase de Raphael Veiga nos lançamentos e finalizações, o time ganha objetividade e verticalidade. Foi assim que a equipe sobrou diante do Corinthians.
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