Dirceu Antonio Ruaro
Amigos leitores, no texto da semana passada, enfatizei a importância dos direitos e deveres na educação de nossas crianças. Salientei que, na atualidade, parece que as crianças pensam que são seres de direitos, e que não há deveres que lhes correspondam.
Evidentemente que há correspondências entre a educação familiar e o comportamento dos filhos. Logicamente que isso interfere na formação da sociedade e na forma como as crianças (quando se tornam adultos) se comportam.
A escola é um dos termômetros sociais e, na atualidade, pela maneira como as famílias se relacionam entre si e na escola, é possível, até certo ponto, entender e até classificar as famílias e, por via de consequência, a sociedade.
Quem exerce funções pedagógicas na sala de aula, como também, na gestão da escola, tem sentindo que ao longo dos últimos anos do século XX e nos primeiros anos do século vinte e um, percebe-se diferentes entendimentos dos pais em relação à formação de valores e, é claro, na educação dos filhos.
Pode-se perceber, claramente, que despontam comportamentos individualistas e egocêntricos nas crianças para muito além daquilo que os especialistas consideram como “normal” e certamente esses comportamentos tendem a interferir no relacionamento familiar e escolar.
Além do que é visível que as crianças tendem, cada vez mais, a se isolar no seu “mundo particular” reforçando o sentimento de que na vida é “cada um por si e Deus por todos”, como se diz popularmente.
Seria muito interessante que os pais, responsáveis primeiros pela educação de valores, ou se quiserem, a educação de berço, das crianças, pudessem “revisitar” os valores e princípios que assumiram e que estão transmitindo aos seus filhos.
Nesse sentindo é preciso estar atento ao que os pais “dizem” e “fazem”, pois, as crianças de hoje, estão atentas, muito atentas a tudo que se fala e se faz ao derredor delas.
Penso que há se considerar que muito mais do que a “transmissão de valores” os pais precisam se preocupar com a “vivência” desses valores em suas famílias, porque as “experiências” de vida em família calam mais profundamente na mente das crianças.
Assim, de nada adianta adotar como um dos valores a “verdade”, se na prática não há “experiência” da verdade, pois é na interação entre o que se fala e o que se faz que se constrói a dinâmica familiar em torno da fraternidade, do amor ao próximo, do respeito, do cumprimento das leis, regras e normas, do bom relacionamento interpessoal.
E é, na dinâmica familiar que se constrói o caráter e se prepara a pessoa para sua experiência social como cidadã. Por isso, os pais (chefes e responsáveis pela família) precisam adotar uma dinâmica interpessoal familiar que possa contribuir para a formação da pessoa num modelo mais adequado à contemporaneidade, levando em consideração todas as demandas latentes da sociedade em torno de questões como a educação ambiental, o respeito às minorias, a compreensão das etnias, o respeito às crenças, entre outras.
Inclusive, é necessário que as próprias famílias possam entender os processos de constituição dessa “célula mater” da sociedade, que se transforma, especialmente, nos últimos anos, reorganizando o modelo tradicional (pai, mãe e filhos) em função de uma sociedade globalizante em arranjos dos mais variados: monoparental, homoafetiva masculina e feminina, a produção independente, resultante de fertilização, que, em essência são as famílias que compõem a nossa sociedade e que, precisam adotar e construir valores humanos com seus membros.
É certo que a diversidade familiar reflete no ambiente escolar. Porém, se todos são iguais perante a lei, resta que as famílias (representadas pelos pais e ou responsáveis) saibam educar seus membros na direção de um comportamento que seja construído tendo como base os valores e princípios humanos da igualdade, da liberdade, do respeito.
Ora, é preciso, portanto, cuidar da convivência, das experiências que são vividas no ambiente familiar pois é nele que vamos construindo o nosso modo de nos relacionar com os outros.
Por isso, é importante se cuidar da maneira de se comunicar, de expressar afetos, lidar com opiniões próprias e dos outros, lidar com emoções e sentimentos, enfrentar desafios e limites, estabelecer regras e normas de convivência, entender que existe uma hierarquia nas instituições (começando pela família) e que há um funcionamento adequado de cada instituição social.
Sabemos que os comportamentos familiares são sustentados por valores e que, esses valores, precisam ser éticos e morais (mesmo que variem de cultura para cultura). Por isso, a família, seja formada da forma que for, precisa estar atenta aos valores e princípios que vivencia e transmite a seus membros, se quisermos uma sociedade mais humana e mais justa, pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.
Doutor em Educação pela UNICAMP, Psicopedagogo Clínico-Institucional e Pró-Reitor Acadêmico UNIMATER