Sejam elas mães em tempo integral ou mães que querem retornar ao trabalho. A sociedade sempre encontra uma forma de julgar a mulher
Ser mãe faz parte de uma experiência suprema, um ato de entrega e amor, onde a maturidade e as responsabilidades precisam estar presentes a todo momento. Na maioria das vezes, esse é uma das fases mais belas da vida de uma mulher e a relação entre mãe e filho deixará marcas inesquecíveis em sua trajetória, deixando seu caminho com mais brilho, aromas e sabores.
No entanto, como tudo na vida, a maternidade é subjetiva. São como dois lados de uma moeda. Enquanto algumas mães se percebem completas com a chegada dos filhos, há muitas situações onde a mulher vivência uma experiência negativa com a maternidade, enfrentando desafios únicos, onde são julgadas por uma sociedade que insiste em romantizar o maternar, gerando nas mulheres a expectativa de um período calmo e feliz, enquanto na realidade, a chegada de um filho carrega muitas mudanças assustadoras.
A experiência de ter um filho chega com preocupações, necessidade de cuidados de um novo ser humano que depende inteiramente dessa mulher e, quando a mãe não teve uma gravidez planejada ou não tem uma rede de apoio, as chances da mulher se sentir sobrecarregada e perdida, são muito grandes.
A psicóloga Claudete Grassi (mãe de Francisco, 32 anos e Eduardo, 24 anos) explica que a relação da mulher com o mundo, suas relações familiares e até a percepção que ela tem de si mesma, muda completamente. “O mundo dela passa a ser o bebê. A maternidade é muito romantizada ainda, de fato é um momento ímpar e nada se compara à experiência de cada mãe, que pode ser lindo desde que a mãe tenha apoio e conforto necessários para lidar com os desafios e fragilidades do momento”.
Entre os aspectos que mais sofrem mudanças na vida da mulher após a chega do filho, de acordo com a psicóloga, tem a ver com as prioridades, pois tudo passa a girar em torno da criança. “Na verdade, todos os aspectos mudam, o sono, a hora das refeições, o orçamento, férias, passeios, vida social, o amor, a coragem… enfim, tudo passa a ser direcionado para incluir o novo integrante”, afirma.
A profissional destaca que, com o passar do tempo, de acordo com cada fase do bebê, ambos vão se adaptando aos desafios, porém, é necessária atenção para perceber quando a mãe passa a negligenciar os cuidados consigo mesma, garantindo que a mulher consiga enfrentar o processo com naturalidade.
Influência hormonal
Durante o primeiro ano de vida do bebê, a mulher passa por inúmeras dificuldades não apenas ao tentar adaptar-se ao bebê, mas também com a transição vivenciada por seu corpo, destaca Claudete. “Temos o puerpério, onde alterações fisiológicas e emocionais, envolvendo aspectos hormonais, familiares, sociais e culturais”, afirma, ao comentar que o período é finalizado apenas 12 meses após o nascimento.
“A mulher lida com alterações hormonais, demandas com o bebê, ganho de peso, alterações metabólicas causadas pela privação de sono, pressão social… ‘voltar ao corpo perfeito’. Tudo isso somado a outros fatores e desafios que podem desencadear ansiedade, melancolia, autoestima baixa”, fala Claudete.
A psicóloga afirma que, ainda que o nascimento seja um evento associado a alegrias, sentimentos ruins fazem parte da experiência para muitas mulheres. Para que a situação não saia do controle, a profissional destaca ser importante que familiares e amigos estejam atentos para perceber quando os sentimentos ruins deixam de ser fisiológicos e precisam de atenção e acompanhamento especializado de profissionais.
Cada experiência materna é única
Da mesma forma que existem mulheres que sonham desde criança em ser mães e não se importam em parar suas vidas para maternar, outras mulheres nunca se imaginaram nesse papel até ter um filho.
De um lado, temos a maternidade idealizada, romantizada e perfeita. De outro lado, uma maternidade real, intensa e difícil.
A psicóloga explica que esses parâmetros não são definidos por dinheiro, mas com o peso e o amor de ser mãe, “não bastando apenas a mulher estar pronta para vivenciar o período, tem a ver com a história de vida de cada uma, com respeitar-se acima de tudo em suas escolhas e também no ser respeitada”.
De acordo com Claudete, as famílias e também a sociedade não pode esquecer que essa mulher é dona do seu corpo e de sua vida e ela tem direito de escolher ou não ser mãe. “A quebra de paradigmas que envolvem a maternidade tornaria tudo mais fácil, evitando uma série de problemas e sequelas emocionais causadas por abandono social e afetivo”.
Mães em tempo integral tem outros setores da vida pausados
Quanto mais os anos passam, mais as mulheres se preparam para ter seus filhos, tentando consolidar a carreira profissional e ter estabilidade financeira para depois dedicar-se por um determinado período para o cuidado da criança.
Segundo a psicóloga, a tendência, para mulheres que abrem mãe de suas vidas profissionais para se dedicar a maternidade em tempo integral, é que os primeiros anos sejam saudáveis, “no entanto, a longo prazo a mãe passa a ter danos emocionais e frustrações severas”.
A tendência, explica Claudete, é que essa mulher se sinta oprimida pela maternidade, onde não possui folga. “Ser mãe não é uma profissão, mas vivemos em uma sociedade em que a mulher se dedica muito a maternidade e sofre pela falta de reconhecimento pelo árduo trabalho que é cuidar, educar e prover os filhos”.
Para as mulheres que escolhem retomar para o mercado de trabalho, o desafio também existe, já que lidam com o preconceito de uma sociedade ainda muito machista, tornando mais difícil a conciliação da vida profissional com a maternidade.
Maternidade pode ser uma agressora para mulheres
O apelo social para que mulheres se tornem mães na vida adulta ainda é muito frequente e, quando a mulher não quer ser mãe, mas cedem a esses apelos, Claudete aponta que a maternidade pode se tornar uma tortura.
“Há o sentimento de ter o corpo invadido, sonhos frustrados e sequelas emocional. É triste, mas a mulher ainda tem muito que conquistar no quesito de querer ou não ser mãe, já que isso é uma escolha dela. É preciso lembrar que a mulher precisa querer ser mãe”. Destaca a psicóloga, apontando que a agressão psicológica que parte da sociedade e os julgamentos levam mulheres e sentir ansiedade, pânico, sentimento de incapacidade e frustrações.
Eterno aprendizado
“No exercício da minha profissão posso dizer que já ouvi lindas histórias sobre mães e filhos, já ouvi histórias duras, de abandono, rejeição, sentimentos de culpa de ambos os lados, muitos desafios da maternidade, mães obstinadas, guerreiras, mães frustradas, mães que planejaram cada detalhe, mães que não tiveram escolhas…, mas acima de tudo, muito amor, entrega e doação envolvidos.
Considero particularmente que ser mãe é um desafio imenso, um eterno aprendizado, é divino é sublime. Ser mãe é inevitável que filhos sejam como termômetro de felicidade, se eles estão bem, estamos bem, se não estão bem sofremos também, simples assim.
Sou Psicóloga e uma mãe extremamente apaixonada pelos filhos, posso afirmar que considero a maternidade a melhor escolha que fiz na minha vida”. – Claudete Grassi.