A queda na renda, a taxa básica de juros da economia (Selic) elevada e as dificuldades para consumo de produtos de maior valor agregado podem estar contribuindo com a desaceleração da produção nas indústrias paranaenses, sobretudo em alguns setores em que é preciso planejar um investimento de longo prazo, como moveleiro, automotivo, eletrodomésticos e máquinas e equipamentos. Segundo informações divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção industrial do Paraná ficou negativa em 1,5% na comparação com o resultado de julho, que já vinha de queda. O indicador também ficou 2,2% abaixo do registrado em agosto de 2021 e, no ano, acumula déficit de 1%. Nos últimos 12 meses, o estado registra leve queda de 0,9%.
A piora no desempenho do setor não é exclusividade paranaense. O estado acompanhou a tendência nacional, que também mostra que a indústria brasileira encolheu 0,6% em relação a julho. De janeiro a agosto, o Brasil registra queda de 1,3%, e, nos últimos 12 meses, o resultado é de -2,7%. Porém, na comparação com agosto do ano passado, os números apontam uma alta de 2,8%. Dos três estados da região Sul, apenas o Rio Grande do Sul está com boa performance este ano. Crescimento de 0,1% contra julho, de 6,3% quando comparado com agosto de 2021 e, no ano, a produção industrial no estado gaúcho aumentou 1,3%. Santa Catarina registra queda de 4,8% contra julho e o mesmo valor contra agosto do ano passado. De janeiro até agora, o resultado é uma redução de 3,6% na atividade industrial. Já na comparação com agosto do ano passado o estado apresenta um leve crescimento de 0,7%.
Para o economista Marcelo Alves, da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), os números apontam que essa é uma consequência natural das condições econômicas do país nos últimos meses. “Segundo dados da Confederação Nacional do Comércio, 80% das famílias brasileiras estão endividadas. Seja por conta dos reflexos do período crítico da pandemia, seja pela condição econômica de juros elevados ou pela queda na renda/desemprego”, explica. “Isso leva a dificuldades para alavancar o consumo, principalmente de bens de maior valor como automóveis, produtos da linha branca, máquinas e equipamentos e imóveis”, exemplifica. Segmentos da indústria que não produzem itens de consumo imediato são mais afetados, alega ele, já que o consumidor adia a compra e prioriza o essencial, como alimentos e itens básicos de higiene e limpeza.
Das 13 atividades avaliadas no Paraná, pelo IBGE, seis estão crescendo este ano. São elas a de bebidas (+0,86%), seguido por petróleo (+0,24%), papel e celulose (+0,21%), automotivo (+0,07%), máquinas e equipamentos (+0,06%) e borracha e material plástico (+0,04%). As que enfrentam maior dificuldade são produtos de madeira (-0,77%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-0,51%), alimentos (-0,46%), móveis (-0,31%) e minerais não-metálicos (-0,25%).
Já pelo resultado de agosto, comparado com o mesmo mês de 2021, o destaque positivo é o setor automotivo, com 5,17% de alta, seguido por bebidas (+0,48%), borracha e material plástico (+0,39%), produtos de metal (+0,38%) e celulose e papel (+0,19%). Os segmentos que ficaram abaixo do esperado foram máquinas e equipamentos (-4,33%), petróleo (-1,49%), madeira (-1,39%), fabricação e produtos químicos (-0,47%), alimentos (-0,39%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-0,31%), móveis (-0,24%) e minerais não metálicos (-0,20%)
“O setor automotivo teve bom desempenho em agosto, mas o resultado comparativo com agosto de 2021 tem como referência uma base baixa, ou seja, considera um período de retomada lenta, quando a atividade ainda se recuperava do período crítico da pandemia, sofria com falta de peças e insumos para produção e vinha aos poucos retomando a normalidade. De qualquer forma, o setor vem se recuperando bem”, justifica.
Para Alves, o crescimento do setor de bebidas pode estar atrelado à retomada da atividade em bares, restaurantes e similares, além da aposta deste segmento para a Copa do Mundo de novembro, quando o movimento nos estabelecimentos deve aumentar consideravelmente. “Há ainda o planejamento de supermercados e demais comércios de aumentar o estoque destes produtos para atender à demanda maior de consumo com as festas de fim de ano”, reforça. “Nesta mesma época, o setor de papel e celulose registra aumento nos pedidos de itens para embalagens mais elaboradas, inclusive para presentes no período natalino”, conclui o economista da Fiep.