Flori Antonio Tasca
Um grupo de pesquisadores decidiu verificar qual era a percepção dos professores em relação aos problemas enfrentados pelos alunos obesos na escola. Miguel Ataíde Pinto da Costa, Marcos Aguiar de Souza e Valéria Marques de Oliveira escolheram então uma escola da rede estadual do Rio de Janeiro e aplicaram a 63 professores uma pergunta: “Você tem observado ou já observou algum tipo de problema enfrentado pelos alunos que estão acima do peso ideal? Qual (is)?”. Sob o título “Obesidade infantil e bullying: a ótica dos professores”, os resultados foram publicados em “Educação e Pesquisa” no ano de 2012.
Os autores começaram demonstrando que a existência de comportamentos negativos de rejeição ou agressão contra indivíduos obesos é pesquisada há muito tempo. Diversos estudos sugerem que as crianças obesas são menos desejáveis como amigas e rejeitadas com uma frequência maior pelos colegas, em relação às que não são. Em consequência, elas também apresentam maior nível de depressão e baixa autoestima. A percepção negativa dos estudantes obesos serviria como um estimulante para agressões como o bullying.
Por conta disso é tão importante o papel do professor, que deve ser o responsável por desenvolver estratégias que possam atenuar ou mesmo eliminar a prática do bullying no contexto da escola. Os professores ouvidos pelos autores apontaram o preconceito como o maior problema enfrentado pelos alunos obesos. Esse problema foi reportado por 55% dos professores, o que sugere a sua alta ocorrência. Outros problemas citados, como os de convivência, timidez e baixa autoestima podem ser a consequência do preconceito.
Entre as respostas, apareceu também, de forma inesperada, referência às dificuldades desses alunos com os uniformes e carteiras, feitos em tamanho único, o que é motivo de desconforto para os obesos. Os autores entenderam que essas situações demonstrariam descaso do Estado com o problema e contribuiriam para a gozação por parte de colegas.
Alguns professores também apontaram que os alunos obesos apresentavam problemas na realização de atividades físicas, mas, curiosamente, a maioria desses professores não lecionava Educação Física. Na visão dos autores, eles estariam apenas mostrando uma atitude superficial e até preconceituosa a partir de uma visão generalizada ou de senso comum.
Mas as respostas mais preocupantes obtidas foram as da categoria “cansaço”. Para descrever os alunos obesos, foram usados adjetivos como apáticos, desanimados, lentos, preguiçosos, distraídos, sem vontade, sempre atrasados, indispostos e vagarosos. Esse foi o segundo problema mais citado e revela atitudes negativas do professor em relação aos seus alunos. É possível, assim, que o próprio professor atue como autor de bullying e agente preconceituoso, caso ofereça tratamento diferenciado para esses alunos.
Os resultados evidenciaram que o preconceito, as gozações e as chacotas direcionadas aos estudantes obesos são percebidos pelos professores. Assim, há a possibilidade de se considerar o professor, pelo menos, como um espectador de situações de bullying. Os autores, entretanto, sugerem que mais pesquisas sejam desenvolvidas para buscar uma melhor compreensão do papel do professor em casos de bullying contra obesos.
Educador, Filósofo e Jurista. Diretor do Instituto Flamma – Educação Corporativa. Doutor em Direito das Relações Sociais pela Universidade Federal do Paraná, fa.tasca@tascaadvogados.adv.br