Propostas de intervenção sobre bullying ainda são poucas

Flori Antonio Tasca

Ainda são poucas as pesquisas feitas no Brasil com propostas de intervenção para combate do bullying. A maioria delas trata apenas da ocorrência de bullying e de fatores que possam melhor caracterizar o fenômeno. O fato de essas pesquisas terem constatado uma significativa incidência de bullying no país reforça a necessidade de estratégias para enfrentar o problema. Entretanto, elas ainda parecem ser bastante escassas.
Pelo menos foi a essa conclusão que chegaram as pesquisadoras Pamela Lamarca Pigozi e Ana Lúcia Machado, que, em 2015, produziram o artigo “Bullying na adolescência: visão panorâmica no Brasil”, publicado na revista “Ciência & Saúde Coletiva”. Elas fizeram uma revisão da literatura sobre o tema no país e puderam, portanto, perceber as características daquilo que se estava produzindo cientificamente acerca do bullying.
Mais de metade das pesquisas encontradas era de cunho quantitativo e tinha como método a aplicação de questionários que visavam a um maior entendimento a respeito dos casos de bullying em determinadas escolas. Elas revelavam a prevalência dos casos de agressões no país e constatavam diferenças entre os gêneros, pois os meninos seriam mais propensos a sofrer bullying. Também destacavam uma forte relação entre bullying e comportamentos de risco, como o uso de álcool e drogas, ou mesmo cabular a aula, e sugeriam que as consequências do bullying podem se estender por toda a vida.
Essa constatação reforça a necessidade de orientação dos adolescentes sobre o bullying e suas consequências para a vida psíquica e emocional, ainda mais que alguns estudos mostraram que os próprios alunos costumam enxergar as agressões como brincadeiras. Em suma, os artigos existentes versam sobre prevalência e tipos de bullying, diferenças entre os gêneros, fatores associados, consequências e sentimentos dos adolescentes. Eles fazem um panorama do fenômeno no país, mas poucos sugerem intervenções.
As autoras destacaram essa lacuna na produção de pesquisas que possuam abordagens interventivas de cunho estratégico, preventivo e restaurativo, ou mesmo de pesquisas qualitativas que possam compreender o bullying a partir de relação com o sujeito e suas experiências com outros contextos, como a família e a comunidade. Também parecem ser poucos os estudos que tratam das impressões dos próprios envolvidos nos conflitos, com seus motivos e causas para o envolvimento no bullying, em seus diferentes papéis.
Por outro lado, todos os artigos encontrados pelas autoras relatam a urgência de se criar e manter políticas públicas de caráter interventivo, incluindo o desenvolvimento de habilidades interpessoais aos alunos e o treinamento e amparo aos profissionais de educação. Alguns artigos destacavam a necessidade de uma discussão interdisciplinar para fortalecer as ações de combate. São sugeridos ainda programas que considerem as diferenças entre os gêneros e a investigação de outras variáveis associadas ao bullying.
Os poucos artigos com propostas de intervenção destacavam a importância do pediatra no auxílio à identificação do bullying ou a da criação de “círculos de conversa” entre alunos e professores, por meio de grupos focais, o que estimularia o diálogo, além de servir para amparar estudantes e educadores na busca por soluções para os conflitos escolares, sobretudo os relacionados à violência. São citados estudos da UNICEF e de pesquisadores de Lisboa que sugerem que essas medidas podem ser mesmo eficazes.
Recomenda-se, pois, que sejam feitos estudos interventivos e outros para avaliar essas intervenções, considerando escola, serviços de saúde e outros setores da comunidade.

Educador, Filósofo e Jurista. Diretor do Instituto Flamma – Educação Corporativa. Doutor em Direito das Relações Sociais pela Universidade Federal do Paraná, fa.tasca@tascaadvogados.adv.br

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