Proteger demais, machuca!

Por Dirceu Antonio Ruaro*

Em termos de “amor incondicional” é preciso entender que não se trata de “proteção incondicional”.

Inicio o texto de hoje com essa afirmação porque fui questionado sobre isso, quando afirmei, no texto da semana passada, que os pais devem amar “incondicionalmente seus filhos”.

Continuo afirmando isso. Os pais devem amar incondicionalmente seus filhos. Não há nenhuma condição para que o amor de pai ou de mãe exista. Ele nasce com o nascimento do (a) filho (a) e é incondicional. Não aceita “se”, não aceita, porém, não aceita apesar de.

Não é a mesma coisa proteger um filho incondicionalmente. Lembro com muita saudade de minha mãe e de sua sabedoria humana, mesmo sendo uma pessoa sem cultura escolar, ela sabia distinguir coisas e dizer coisas que somente uma pessoa de grandeza humana ilimitada saberia, e ela dizia que a gente deveria aprender, na vida, a julgar as situações e nunca as pessoas.

Mais, que as pessoas se tornavam vítimas de situações, (hoje eu diria, de contextos situacionais). Entendo, hoje, na distância que nos separa o que ela queria dizer com isso. Ou seja, que as pessoas não nascem boas ou ruins, nascem pessoas. Que a vida, que as situações, que a educação, que as famílias, que os contextos familiares podem contribuir para se tornem boas ou ruins.

Interessante observar que nós tentamos educar nossos filhos no sentindo de observarem regras, normas e valores, mas nunca saberemos o que se passa no interior deles, no íntimo de cada um deles. Não conseguimos saber o que sentem realmente como experiências de vida.

Por isso, ensinar os filhos a não julgarem os irmãos, os amigos, os vizinhos, os colegas de escola deve fazer parte de como ensinamos a amar e respeitar os outros.

Isso faz parte do crescimento humano de nossos filhos. Ensiná-los a não ser dependentes do nosso amor incondicional é uma forma de exercer o amor parental de maneira que eles saibam que sempre estaremos de prontidão para o que der e vier.

Ora, a vida das famílias mudou. Hoje, os filhos permanecem mais tempo na casa dos pais. E, muitos filhos, acham isso muito bom. Não ter de sair de casa, não ter de assumir responsabilidades maiores, é excelente. Muitos deles acham que o mundo dos adultos é repleto demais de responsabilidades.  Que precisa trabalhar, pagar boletos, honrar compromissos que nem sempre são agradáveis, tomar decisões difíceis, cuidar dos filhos, gerenciar o relacionamento ou casamento, organizar e limpar a casa, entre tantas outras coisas.

Ficar na casa dos pais é muito mais interessante. Contar com a proteção deles é muito melhor, afinal, o amor deles é incondicional, e se o amor é incondicional, a proteção também é.

E, para muitos adolescentes e jovens a perspectiva da vida adulta pode ser assustadora, principalmente para quem não precisou assumir muitas responsabilidades durante a adolescência ou foi superprotegido pelos pais, pois, segundo eles, se qualquer coisa saísse errada, tinha os pais para resolver o problema.

É preciso estar atentos, como pai e mãe, para educar os filhos no sentindo de assumirem suas responsabilidades desde cedo, evitando a super proteção econômica, acompanhando os resultados escolares, apoiarem os filhos na busca de um estágio, criarem um ambiente familiar de colaboram nas tarefas da casa, cuidar com o uso de celular e acesso às redes sociais, ou seja, não se pode usar indiscriminadamente o celular e redes sociais, em casa, sem tempo para convivência familiar.

O papel educacional dos pais é, sim, de amar sem limites e de proteger seus filhos de todas as intempéries da vida, mas não de torná-los cidadãos fora da lei, por meio da superproteção, pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.

*DIRCEU ANTONIO RUARO
Doutor em Educação pela UNICAMP
Psicopedagogo Clínico-Institucional
Pró-Reitor Acadêmico UNIMATER

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