Próximo do fim, supercomputador Tupã vem operando na ‘gambiarra’

Comprado por US$ 23 milhões em 2010, o Tupã já foi o principal supercomputador do Brasil. Durante oito anos, ele foi uma ferramenta fundamental no processamento e na análise de dados do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Sem recursos para ser atualizado, porém, o equipamento chega a 2021 operando por meio de “gambiarras” – e o seu desligamento iminente, anunciado no começo de junho, deve causar um apagão de informações meteorológicas no País.

Com gasto anual de R$ 5 milhões de energia elétrica e de R$ 1 milhão em manutenção, o Tupã teve seu desligamento antecipado para agosto de 2021 (o plano inicial era dezembro), como anunciado pela diretoria do Inpe no começo de junho.

Dos R$ 76 milhões previstos no orçamento do órgão, só R$ 44,7 milhões foram liberados – a verba de cerca de R$ 31,3 milhões destinada pela Agência Espacial Brasileira (AEB) não chegou, segundo o Inpe. A AEB contesta, e diz que repassou R$ 26 milhões em junho. Diz também que essas verbas não são destinadas ao custeio do Inpe.

Mesmo que os recursos chegassem na totalidade, o orçamento é menor do que os R$ 118,2 milhões destinados em 2020. O desligamento por falta de verba é só o capítulo final do percurso de dificuldades do supercomputador – desde o fim de 2014, a sua operação vem encontrando obstáculos.

Jeitinho. Tupã, claro, é só um apelido carinhoso: o equipamento é o modelo XE-6 da Cray, empresa americana especializada em supercomputadores. Em 2015, a Cray deixou de vender o modelo XE-6. A partir de dezembro de 2014, o Inpe começou a negociar com a empresa processos de manutenção para a extensão da vida útil da máquina. O último desses acordos tinha validade até 24 de outubro de 2017, ano final em que a Cray garantia peças de reposição para o modelo XE-6.

Foi em 2017 que o Inpe comunicou ao MCTIC sobre a necessidade da compra de uma nova máquina. Como conta ao Estadão Ricardo Galvão, diretor do Inpe na época, pleiteava-se uma máquina 30 vezes mais veloz. O custo estimado era de R$ 150 milhões, o que fez com que o projeto não fosse aprovado.

A solução encontrada para manter a capacidade de processamento foi mais simples. Por R$ 9,6 milhões, o Inpe recebeu o modelo CX-50, também da Cray, que tinha velocidade um pouco maior do que alcançava o Tupã original.

Em 2018, o CX-50 foi anexado ao Tupã. Porém, a operação precisou passar por adaptações importantes. Dos 14 gabinetes que compõem o equipamento original, seis precisaram ser desligados. Além da economia de energia, a medida visava preservar seus componentes, que ganharam status de peças de reposição para os oito gabinetes que permaneceram ligados.

Com a capacidade do XE-6 reduzida, as atividades foram separadas. O equipamento mais novo ficou com aquilo que o Inpe chama de processos operacionais: a previsão do tempo, que ocorre ao menos duas vezes por dia, e a previsão sazonal, que mira mudanças climáticas para os três meses seguintes.

Sem tempo. O Tupã ficou com a geração de cenários futuros de longo prazo. Ele manteve também o processamento de outras pesquisas climáticas e o backup da operação diária.

Com o CX-50, o Inpe planejou estender até 2020 a vida útil do Tupã. Uma das formas para tentar ganhar tempo até a compra de um novo computador foi pleitear junto ao MCTIC a compra de mais dois equipamentos com especificações similares às do CX-50.

Além disso, o Inpe e o MCTIC iniciaram em 2019 conversas com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e acertaram a compra de um equipamento auxiliar.

O processo para a chegada da máquina foi conduzido ao longo de 2020. Esse é o mesmo equipamento que, no último dia 15 de junho, foi anunciado pelo ministro Marcos Pontes como uma espécie de substituto, após a repercussão negativa sobre o desligamento do Tupã. A máquina, porém, chegaria de qualquer maneira ao Inpe. Pior: o novo equipamento não resolve as demandas do órgão. “É só um paliativo, pois ele é um computador de menor porte”, explica ao Estadão Gilvan Sampaio, coordenador-geral de ciências da Terra no Inpe.

O preço indica que se trata de um equipamento auxiliar: US$ 729 mil. Sampaio estima que o custo de um novo Tupã gire em torno de US$ 40 milhões. O valor incluiria também a reforma da infraestrutura do Inpe – a mesma desde 1994 – para receber a nova máquina. “Precisamos modernizar o sistema de refrigeração”, diz.

Em outras palavras, em mais de uma década, o Inpe retrocedeu em capacidade computacional, movimento contrário ao que demanda o processamento de modelos climáticos atuais.

Procurado, o MCTIC não respondeu. Em visita a São José dos Campos na quarta-feira passada, o ministro Marcos Pontes afirmou à TV Globo que o orçamento do Inpe está “normalizado”. Ele disse também que planeja a compra de um novo supercomputador, mas não deu prazo.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

você pode gostar também

Comentários estão fechados.