Psiquiatras estudam o fenômeno do bullying

 Flori Antonio Tasca

Dois espanhóis psiquiatras de crianças e adolescentes, J. L. Pedreira Massa e Héctor S. Basile, publicaram em uma edição de 2009 da revista “Construção Psicopedagógica” o artigo “El acoso moral entre pares (Bullying)”, que trata da agressão moral ou bullying entre alunos. O objetivo era refletir sobre as relações de agressão e vitimização na escola, uma questão altamente preocupante.

Os dois profissionais observaram que cada vez mais chegam para serem consultadas por eles crianças com quadros diversos que têm como pano de fundo alguma agressão na escola. Eles ressaltaram que não apenas a vítima apresenta alterações psicopatológicas, mas também o agressor. Em seu artigo, os psiquiatras reviram os atributos do bullying e trataram da sua repercussão clínica, conforme a bibliografia e as suas experiências.

Assim, eles primeiro revisaram o conceito de bullying, abordando as diferentes formas pelas quais o fenômeno pode se manifestar. Trataram também de descrever os principais sujeitos envolvidos no bullying, agressor e vítima, conforme estudos já feitos. Em relação à repercussão clínica, eles observaram que um clima de violência traz consequências altamente negativas para o desenvolvimento psicológico, social e intelectual.

Numerosos estudos tratam dos sintomas de agressões em crianças, sugerindo, inclusive, uma relação muito estreita entre os transtornos mentais na idade adulta e o fato de ter sofrido diferentes tipos de vitimização durante a infância ou adolescência. Geralmente, as vítimas apresentam elevada tensão nervosa e sintomas como dor de estômago ou de cabeça, birras, pesadelos ou ataques de ansiedade, além de fobias e medo da escola. Existem também algumas crianças que reagem se tornando também elas agressores. Nos piores casos, identifica-se a relação do bullying com condutas suicidas da vítima.

Os autores do estudo ressaltaram ainda um tipo de bullying emergente, que é aquele praticado por meio eletrônico. O assédio virtual pode se dar de diversas maneiras, e os autores mencionaram diversos casos famosos, geralmente envolvendo pedófilos. Rasgos narcisistas da personalidade, assim como o retraimento e inibição social da vítima, são características que podem torná-la mais indefesa diante desse tipo de agressor.

Também foi abordada a questão do celular, usado cada vez mais cedo e inclusive nas escolas. Esse uso exagerado dos aparelhos eletrônicos pode levar a criança a apresentar sintomas de dependência, envolvendo ansiedade, irritabilidade, tendência ao isolamento, fuga da realidade e, o que é pior, não saber reconhecer os perigos a que está exposta. Sugeriu-se que os desenvolvimentos tecnológicos apenas tornaram visíveis fenômenos que antes estavam escondidos, que já existiam, mas apenas em espaços privados.

Os psiquiatras descreveram então alguns casos que atenderam e que se relacionam com a temática do fenômeno do bullying em ambiente escolar. Eles apresentaram como uma dificuldade a espécie de “pacto de silêncio” entre os companheiros de sala da vítima. Também destacaram a atitude dos pais dos agressores, geralmente minimizando o seu comportamento agressivo. E observaram que, em muitos casos, a atuação da escola é mais tolerante com os agressores do que com as próprias vítimas da prática de bullying.

Na opinião deles, a prevenção ao bullying não é fácil e exige constância e objetivos claros. Por isso, é de se destacar também o papel fundamental dos pais. Uma vítima que não se anima a contar aos pais o que está sofrendo pode significar a existência de uma relação familiar disfuncional, onde inexiste boa comunicação. Mas os pais são capazes de identificar mudanças na conduta dos filhos, em seus hábitos alimentares e de sono, bem como irritabilidade ou depressão. Detectados esses sintomas, podem confrontar o filho e falar com professores, o diretor, e mesmo os seus colegas para descobrir a verdade.

Muitas vezes, a vítima está isolada não apenas em sala, mas também em casa. Ela apenas reproduziria na escola o que acontece em casa: não ser escutada, não ser levada em consideração, não ser respeitada e nem valorizada. Por isso a atuação dos pais é de extrema importância como forma de prevenir as situações de agressão ou bullying.

Educador, Filósofo e Jurista. Diretor do Instituto Flamma – Educação Corporativa. Doutor em Direito das Relações Sociais pela Universidade Federal do Paraná, fa.tasca@tascaadvogados.adv.br

você pode gostar também
Deixe uma resposta