Com o crescimento, o Brasil aprofunda mais sua dependência do mercado chinês. O país asiático é hoje o destino de 34% dos produtos brasileiros, nível mais alto da história e mais que o triplo das vendas para os EUA (10%), o segundo maior importador. No ano de 2001, que marcou a entrada da China na Organização Mundial do Comércio, 24% das exportações brasileiras tinham como destino os EUA e apenas 2%, a China.
Ao mesmo tempo, o governo Jair Bolsonaro continua a criticar os chineses, o que traz preocupações ao mercado. No episódio mais recente, no início deste mês, o presidente insinuou que o país asiático poderia ter criado o coronavírus propositalmente, como parte de uma “guerra química”. “As críticas do presidente só não prejudicam mais o comércio porque a China não tem um fornecedor alternativo ao Brasil”, diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
Alta de preços
O crescimento do primeiro quadrimestre foi puxado principalmente pelas exportações de minério de ferro, cujo preço da tonelada nos mercados internacionais passou de US$ 80 para mais de US$ 200 em um ano. Com isso, as vendas do produto para a China tiveram uma alta de 96%, somando mais de US$ 7,6 bilhões de janeiro a abril.
As exportações de soja e petróleo para a China também subiram, mas em um nível menor (22% e 27%). Juntos, os três produtos correspondem a 81% de tudo que o País exporta para a China. “O Brasil tem produtos competitivos e uma taxa de câmbio favorável. Os exportadores ganham mercado onde é possível. Assim, a China vai continuar sendo o principal destino”, diz Mário Cordeiro, economista-chefe da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).
A maior demanda por commodities com preços elevados já faz especialistas preverem um ano excepcional para o setor externo. Em relatório obtido pelo Estadão, a AEB estima um superávit comercial recorde de US$ 79,8 bilhões de dólares para 2021, superando o nível em 2017 (US$ 67 bilhões). “Temos uma situação favorável. Tudo vai crescer em relação ao ano passado, que foi mais fraco”, diz Castro. “O problema é que temos de rezar todo dia para que a demanda na China continue bem.”
O crescimento da China como compradora de produtos brasileiros também tem elevado a participação das commodities nas exportações brasileiras, e a uma redução dos produtos manufaturados.
De acordo a AEB, todos os dez principais produtos exportados pelo Brasil são commodities agrícolas e minerais, e a China é a maior compradora de seis desses produtos (soja, minério de ferro, petróleo bruto, carne bovina, carne de aves e celulose). Castro lembra que 75% das exportações brasileiras são commodities, enquanto 85% das importações são de produtos da indústria de transformação.
Para Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior (2007-2011) e sócio-fundador da BMJ Consultores Associados, o aquecimento das exportações no Brasil tem relação com os preços em alta, e não necessariamente com um maior volume. “Havia uma demanda reprimida e a economia chinesa teve uma rápida recuperação. Além disso, problemas com a oferta do minério de ferro fizeram os preços subirem”, diz Barral. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Comentários estão fechados.