Quaresma e espírito de Penitência

Estamos iniciando o tempo da Quaresma e, com ela, nossa anual subida a Jerusalém com Jesus, para celebrar a Páscoa. Nesse período, a liturgia, de maneira belíssima e em unidade com toda a Igreja, nos reserva já na Quarta-feira de Cinzas, uma oração singela que exprime, de forma clara, a vontade que devemos fomentar em nossos corações nesse período quaresmal: “Concedei-nos, ó Deus todo-poderoso, iniciar com este dia de jejum o tempo de Quaresma, para que a penitência nos fortaleça no combate contra o espírito do mal. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém”.

Observemos a riqueza desta prece de petição: “…para que a penitência nos fortaleça no combate contra o espírito do mal”. Não é uma frase hipotética, mas sim uma certeza de que, por meio da penitência, somos fortalecidos. Não se trata de uma conjectura qualquer, mas de uma certeza concedida por Deus para que possamos combater o espírito do mal, por meio da penitência e do sacrifício.

Mas, como adquirir esse espírito de penitência de que nos fala a liturgia da Igreja e as Sagradas Escrituras?

O primeiro passo é rezar! É da oração de poucos que muitos dependem, não nos esqueçamos jamais disso! E, como nos ensinou o Papa Francisco na Quaresma de 2018: “Somos chamados a enfrentar o mal mediante a oração para sermos capazes, com a ajuda de Deus, de derrotá-lo em nosso dia a dia. Infelizmente, o mal está presente em nossa existência e ao nosso redor, onde existem violências, negação do próximo, fechamentos, guerras e injustiças”.

Nesse contexto, uma pergunta pessoal e, de certo modo incômoda, mas que, no entanto, faz-se necessária é: Tens rezado? Tens feito esse encontro diário com Deus? Reserva um tempo fixo para a oração da manhã e da noite? Procura não faltar a essa audiência diária com Deus? Um outro aspecto a ser considerado: realiza um sincero e regular exame de consciência?

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São Pio X (1835-1914), na sua Exortação, dizia a esse respeito: “Seria uma vergonha que nisto [não fazer o exame de consciência] se cumprissem as palavras de Jesus: ‘Os filhos deste mundo são mais prudentes que os filhos da luz’ (Lc 16,8). Salta à vista o cuidado com que administram os seus negócios, a frequência com que conferem os seus gastos e as suas receitas, a atenção e o rigor com que fazem suas contas, como lhes doem as perdas e o enorme empenho que põem em recuperá-las. E nós, descurando com enorme negligência o negócio mais importante e mais difícil: o da nossa própria santificação”.

A Exortação de São Pio X é de 1908 e nos faz formular outra questão incômoda: Tens dedicado a fazer um exame geral e particular com o mesmo empenho que os filhos deste mundo? Quais são os pontos de lutas identificados e a serem examinados diariamente? Quais virtudes a ganhar e  vícios a perder? Recorre à direção espiritual e ao sacramento da Penitência para aprofundar-se nessa jornada de conversão e crescimento espiritual? Reflitamos sobre isso!

Também, neste tempo quaresmal, a Igreja do Brasil nos propõe, a cada ano, uma iniciativa concreta para realizarmos ações que testemunhem um profundo arrependimento e uma verdadeira conversão, em âmbito pessoal, comunitário, eclesial e social: a Campanha da Fraternidade. Este ano, a Campanha traz consigo o tema: “Fraternidade e Ecologia Integral” e o lema: “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31). Esta iniciativa nos recorda o nosso papel de guardiões da Criação. Para isso, é importante que estejamos sempre atentos aos perigos constantes que ameaçam a dignidade de todo ser humano e a integralidade da Casa Comum.

Que Maria Santíssima nos ajude a viver esta Quaresma com o espírito de penitência e mortificação, com uma oração incessante, como fez Jesus no deserto. A “Quaresma é tempo de penitência, mas não é de tristeza”, como nos ensina o Papa Francisco.

Pe. Lino Baggio, SAC

Paróquia São Roque – Coronel Vivida

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