14 de fevereiro de 2024, Quarta-Feira de Cinzas, início da Quaresma, dia de jejum e abstinência e abertura da Campanha da Fraternidade 2024, com o tema “Fraternidade e Amizade Social” e o lema “Vós sois todos irmãos e irmãs (cf. Mt 223,8).
Na semana passada, o Papa Francisco recordou aos católicos que “a Quaresma é o tempo de graça em que o deserto volta a ser – como anuncia o profeta Oseias – o lugar do primeiro amor. Deus educa o seu povo para que saia das suas escravidões e experimente a passagem da morte para a vida. Como um esposo, atrai-nos novamente a si e sussurra ao nosso coração palavras de amor”. Prossegue Francisco dizendo que a “quaresma em primeiro é querer ver a realidade. Também hoje o grito de tantos irmãos e irmãs oprimidos chega ao Céu”. A seguir, Francisco pergunta: “o grito desses nossos irmãos e irmãs chega também a nós? Mexe conosco? Comove-nos? Há muitos fatores que nos afastam uns dos outros, negando a fraternidade que originariamente nos une”.
A Quaresma é tempo de conversão, tempo de liberdade
Francisco relembra algo tão antigo e atual que “Deus não se cansou de nós”. A Quaresma é tempo de conversão, tempo de liberdade. O próprio Jesus foi impelido pelo Espírito para o deserto a fim de ser posto à prova na sua liberdade. O deserto é o espaço onde a nossa liberdade pode amadurecer numa decisão pessoal de não voltar a cair na escravidão. Na Quaresma, encontramos novos critérios de juízo e uma comunidade com a qual avançar por um caminho nunca percorrido”. Sublinhou Francisco que na Quaresma, agir é também parar: parar em oração, para acolher a Palavra de Deus, e parar como o Samaritano na presença do irmão ferido. Destacou Bergoglio que a “a oração, esmola e jejum não são três exercícios independentes, mas um único movimento de abertura, de esvaziamento: lancemos fora os ídolos que nos tornam pesados, fora os apegos que nos aprisionam. Então o coração atrofiado e isolado despertará, propõe-nos o Papa.
O Pontífice alarga o espaço quaresmal, às vezes, reduzimo-lo ao espaço individual, às conversões subjetivas, todavia, que a Quaresma também é um tempo favorável às decisões comunitárias, eclesiais, ou seja, o tempo quaresmal é de alteridade, de compromisso com o outro, de caminhar juntos, na solidariedade “porque vós sois todos irmãos”, disse-nos Jesus Cristo. Convicto, Francisco afirma que “a forma sinodal da Igreja, que estamos redescobrindo e cultivando nestes anos, sugere que a Quaresma seja também tempo de decisões comunitárias, de pequenas e grandes opções contracorrente, capazes de modificar a vida quotidiana das pessoas e a vida de toda uma coletividade: os hábitos nas compras, o cuidado com a criação, a inclusão de quem não é visto ou é desprezado”.
Uma conversão geradora de esperança mesmo que arriscada!
Finalmente, disse Francisco que na “medida em que esta Quaresma for de conversão, a humanidade extraviada sentirá um abalo de criatividade: o lampejar de uma nova esperança. Em 2023, durante a Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa, aos jovens o bispo de Roma, provocou aos jovens: “Procurai e arriscai; sim, procurai e arriscai. Neste momento histórico, os desafios são enormes, os gemidos dolorosos: estamos vivendo uma terceira guerra mundial feita aos pedaços. Mas abracemos o risco de pensar que não estamos numa agonia, mas num parto; não no fim, mas no início de um grande espetáculo. E é preciso coragem para pensar assim”. Para estes 40 dias de um grande deserto, de retiro recordo aos nossos leitores e diocesanos de que o silêncio, a oração, o jejum, a penitência, a ascese são necessárias para libertar-nos do que nos escraviza; somente assim podemos ser completamente de Deus, tanto interior como exteriormente, abandonando-nos a Ele e com Ele ressuscitaremos para uma vida nova, vida transformada, convertida, vida plena de sentido segundo a proposta de Jesus.
Dom Edgar Xavier Ertl – Diocese de Palmas-Francisco Beltrão
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