O tempo da Quaresma carrega consigo a beleza simbólica de várias experiências do povo no caminhar da história. Um tempo de expectativa, de revisão de vida e de fortalecimento da consciência de que Deus é fiel às suas promessas. Deus se faz presente na caminhada, na luta e na dor da vida do povo.
O tempo quaresmal abriu-se com a liturgia da Quarta-feira de Cinzas. Por meio do sinal das cinzas iniciou o caminho de conversão, que atingirá sua meta na celebração do sacramento da penitência, nos dias antes da Páscoa.
Quarenta dias é um tempo bíblico que nos faz refletir sobre toda a vida do povo: a família de Noé que permanece na arca durante o dilúvio (Gn 7,4.12), e mais quarenta dias após o dilúvio, esperando as águas baixarem para tocar a terra firme (Gn 8,6); Moisés que passa os quarenta dias e quarenta noites, no Monte Sinai, aguardando o recebimento da Lei (Ex 24,18), e a caminhada de Israel no deserto em busca da terra prometida. O profeta Elias caminha quarenta dias até o Monte Horeb, onde se encontra com Deus (1Rs 19,8). E Jesus é apresentado ao Senhor após 40 dias de seu nascimento (Lc 2,22); permanece no deserto por quarenta dias e quarenta noites antes de iniciar sua missão (Mt 4,2; Mc 1,13; Lc 4, 1-2); o Cristo ressuscitado caminha 40 dias antes de retornar ao Pai (At 1,3).
O jejum, juntamente com a oração e a caridade, é praticado por muitos cristãos como sinal de conversão interior aos valores do Evangelho.
Como tempo de escuta profunda da palavra de Deus, a sua intervenção, em Cristo, que com o dom do seu Espírito nos renova interiormente, faz morrer em nós o pecado e nos oferece uma vida nova para ser celebrada na Páscoa de Cristo, mistério central da vida cristã.
É na Quaresma que a prática do jejum se torna mais presente. Significando uma privação voluntária, o jejum, juntamente com a oração e a caridade, é praticado por muitos cristãos como sinal de conversão interior aos valores do Evangelho. A Quarta-feira de Cinzas foi dia obrigatório de penitência em toda a Igreja, com a observância da abstinência e do jejum. E o primeiro domingo da Quaresma marca o início do sinal sacramental da nossa conversão, tempo favorável à nossa salvação.
O tempo da Quaresma, desde as primícias da nossa Igreja, foi estabelecido para ajudar os cristãos a se prepararem para Páscoa. Tempo privilegiado da redescoberta da inserção no mistério pascal de Cristo mediante o sacramento do batismo.
Vivenciado à luz do simbolismo bíblico, esse tempo tem o seu valor salvífico-redentor. Encerra-se com a Quinta-feira Santa, quando a Igreja celebra a missa vespertina, inaugurando o Tríduo Pascal.
Neste tempo quaresmal, a Igreja do Brasil nos propõe, a cada ano, uma iniciativa concreta para realizarmos ações que testemunhem um profundo arrependimento e uma verdadeira conversão, em âmbito pessoal, comunitário, eclesial e social: a Campanha da Fraternidade. Este ano, a Campanha traz consigo o convite a ultrapassar as barreiras geográficas do espaço com o tema: “Fraternidade e Amizade Social”, a fim de cumprir o mandato de Jesus a partir do lema: “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8).
Encerrado o tempo quaresmal, entramos no tempo pascal, que traz para nossa vida de cristãos outro símbolo milenar: o Círio Pascal, aceso na vigília do sábado à noite como símbolo de Cristo-luz. Façamos a nossa caminhada de conversão.
Pe. Lino Baggio, SAC
Paróquia São Roque – Coronel Vivida
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