Entre os vencedores está o curta-metragem paulistano Baiacu. Dirigido e roteirizado por Luiza Ishikawa, foi considerado a melhor animação na categoria Estudantes Brasileiros Maxi Modais, pelo júri popular. Em pouco mais de 120 segundos, o filme conta a história da chegada de um novo peixe a um aquário que já tem outros três moradores. Os animais representam, na verdade, seres humanos, e, por meio deles, o curta trata sobre exclusão social.
“A mensagem que queríamos passar é a de que você não precisa ter as mesmas atitudes que te fizeram mal, é possível quebrar o ciclo”, afirma a estudante de animação de 19 anos, ao Estadão. Para produzir Baiacu, ela contou com a ajuda de mais seis colegas: Grazi Rosmaninho, Heloisa Pinheiro, Henrique Takashi, João Pedro Lins, Lally Kaguimoto e Felipe Furquim.
Baiacu foi produzido em 2020. Por conta da pandemia, o grupo precisou trabalhar de forma remota, cada um de sua casa. “Foi um pouco difícil”, confessa Luiza. Para que tudo desse certo, eles precisaram ser criativos e pensar fora da caixa, por isso, decidiram mesclar um cenário 3D a personagens 2D.
A vitória foi uma grande surpresa para os estudantes. “É muito especial saber que as pessoas viram o curta e acreditaram na história”, comemora a estudante de animação. Além do prêmio recebido no Anim!Arte, Baiacu também foi selecionado para o University of East London Awards (UELAA).
Na mesma categoria de Luiza, só que pelo júri oficial, o premiado foi Nícolas de Sousa, com o curta-metragem Modais. O videógrafo e estudante de audiovisual potiguar conta que o projeto surgiu de uma brincadeira: “eu postei um vídeo no Instagram, brincando com latinhas de cerveja”. O cantor Silvio Filgueira viu o vídeo e pediu a Sousa que desenvolvesse um videoclipe para sua música Modais.
A animação pareceu, na visão do estudante, a única opção viável para dar vida à canção, devido às limitações da pandemia. Entre junho e outubro de 2020, o quarto de Sousa tornou-se, ao mesmo tempo, ateliê e estúdio de gravação. Com apenas um celular, ele gravou imagens que “mostram como a arte tem o poder de nos fazer viajar.”
Assim como Luiza, Sousa recebeu o prêmio com grande surpresa. “Eu jamais imaginei receber esse reconhecimento, só a seleção estava de bom tamanho. Foi felicidade dobrada”, conta.
Na categoria Filme Ambiental, o curta-metragem vencedor, pelo júri de especialistas, foi o baiano Òpárá de Òsún: Quando Tudo Nasce, dirigido pela carioca Pâmela Pelegrino. O curta, que também recebeu menção honrosa na categoria Culturas do Mundo, fala sobre diversos aspectos de Oxum, orixá das águas doces, do ponto de vista de povos afro-brasileiros. O roteiro é uma criação coletiva de voluntários do terreiro de candomblé Abassà da Deusa Òsùn de Idjemim.
Pâmela explica que a animação aborda, sobretudo, a relação entre ser humano e natureza. “Em nosso país, falar desse tema é muito importante para pensar tanto sobre os territórios indígenas e quilombolas quanto sobre a necessidade dos terreiros acessarem espaços naturais preservados, que são necessários ao culto”, explica a cineasta e professora.
Em 2018, Pâmela mudou-se para a Bahia para coordenar o projeto. Foram aproximadamente quatro meses para que o curta-metragem ficasse pronto – desse tempo, duas semanas foram reservadas somente para a formação dos integrantes do terreiro.
A cineasta conta que o projeto foi tocado com poucos recursos, como os vindos de um edital da Secretaria de Cultura do Governo do Estado da Bahia (SecultBA), e “muito trabalho voluntário e afetivo”. Na visão dela, a vitória demonstra a necessidade do investimento público no cinema nacional. “Há milhões de histórias a serem contadas, falta apenas a oportunidade de produzi-las”, destaca ao defender cotas para povos originários e periféricos em editais de fomento ao audiovisual.
Outro curta-metragem baiano se destacou na disputa. Maria Quitéria Honra e Glória foi considerado o melhor filme na sessão Culturas do Mundo pelo júri popular. O curta produzido em 2019, mas lançado em 2020, fala sobre Maria Quitéria de Jesus (1792-1853), combatente na guerra da independência na Bahia.
Como explica o diretor Antonio da Silva, o filme é dividido em dois momentos temporais distintos: o presente, no qual o soldado Medeiros, nome assumido por Maria Quitéria, tenta tomar a trincheira inimiga; e o passado, representado pelas memórias da infância dela em uma fazenda de um território onde, hoje, fica Feira de Santana.
Com o filme, Silva buscou responder a uma pergunta: “O que leva uma mulher, que viveu há 200 anos, a ir para guerra e torna-se soldado?”. A produção levou dez meses para ficar pronta e contou com a participação do animador Michael Nery.
Como assistir ao Festival Anim!Arte
A mostra com 452 curta-metragens de mais de 60 países começou no dia 24 de maio e segue até o dia 25 de junho. Os filmes podem ser vistos a qualquer hora e em qualquer lugar por meio da plataforma Kinow, basta adquirir o ingresso no valor de R$ 25. Professores e estudantes são isentos do valor e acessam aos curtas e aos workshops de forma gratuita. Para tanto, é necessário que preencham o formulário fornecido pela organização do evento.
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