Por Rosel Antonio Beraldo e Anor Sganzerla*
O Brasil está deveras muito longe das guerras atuais que envergonham e mancham o Planeta inteiro, mas por outro lado nosso país está muito perto daqueles que promovem tais desventuras, não está imune e muito menos a salvo, isto é, o que acontece a milhares de quilômetros daqui tem uma influência instantânea sobre tudo e sobre todos, sempre foi assim e agora mais do que nunca isso se tornou ainda mais visível; nosso querido Brasil, no cenário internacional tem tomado algumas posições um tanto quanto duvidosas, o que acaba gerando desconfiança perante o restante da comunidade internacional, nossa diplomacia em tempos de crise tem sido uma anã, resultado de escolhas equivocadas e mal planejadas; nosso mundo se orgulha de ter os melhores aparelhos de comunicação, mas essa comunicação tem falhado em muitos âmbitos, precisamos melhorar muito mais.
O Brasil atual precisa dar uma guinada, ser ele analisado por um dos grandes nomes da filosofia contemporânea, qual seja Gunther Anders (1902-1992), este filósofo se ocupou por toda a sua vida da questão tecnológica e depois das duas explosões atômicas em Hiroshima e Nagasaki em 1945, ocupou-se da questão nuclear, introduziu a filosofia num campo novo, isto é, o campo da morte instantânea de milhares de pessoas, bem como do uso irresponsável da energia nuclear. Anders, praticamente ignorado no Brasil, vem sendo aos poucos redescoberto por suas profundas intuições, bem como pela sua atualidade avassaladora num mundo que praticamente esqueceu a palavra diálogo; sua ironia peculiar atinge o centro do ser humano, pois tem propriedade, foi um soldado, operário em fábricas de automóveis, sentiu na sua pele o que é ser uma engrenagem no sistema mundial atual.
A discussão se mostra necessária, devido ao atual momento altamente tensional entre as maiores nações beligerantes do Planeta, nove países apenas possuem armas nucleares, milhares de ogivas espalhadas por todos os cantos do globo, a Terra podendo ser destruída por tais armas, diversas vezes, tal aniquilamento já foi sentido em seis e nove de agosto de 1945, uma pequena amostra diante do arsenal monstruoso que se tem hoje, uma capacidade tecnológica de fazer o mal a quem quer que seja, que nos enche de pavor e medo. Uma hecatombe nuclear, juntamente com todos os problemas já existentes, em especial a questão climática, quando juntas e misturadas, poderão ocasionar o fim da vida como a conhecemos atualmente; longe ou perto, absolutamente ninguém estará a salvo; a energia nuclear mesmo que seja usada para fins pacíficos pode se tornar mortal um dia.
Gunther Anders faz a nós um diagnóstico clínico, usando apenas a razão, entra nas minúcias do tema, onde a maioria esmagadora de nós encontra-se apenas no campo do senso comum, sua obra seminal, “ O Homem obsoleto”, mostra que estamos muito aquém do desenvolvimento tecnológico atual, por outras palavras, o ser humano não dá conta de enfrentar frente a frente todas as inovações tecnológicas que inundam as pessoas todos os dias, pior ainda é justamente no campo da ciência, onde poucos tem acesso e milhões são meros consumidores zumbis, pessoas essas que tem abdicado em demasia de pensar sobre o seu presente e futuro; o fim total seria para Anders a pior das incapacidades humanas em gerir a sua existência, a inteligência natural vem cada vez mais dando espaço para uma inteligência que poderá nos aniquilar; nesse campo então estamos decrescendo.
O Brasil não tem tradição em armas nucleares, mas de tempos em tempos sai algo aqui, uma coisa ali, sobre o sonho brasileiro de ter armas nucleares, uma completa insanidade, diga-se de passagem, um dinheiro jogado fora, um empreendimento extremamente caro, altamente perigoso, que precisa ser operado por pessoas altamente capacitadas, mas que convenhamos, ninguém está cem por cento apto para tratar dessa matéria. Não bastasse isso, a questão nuclear emporcalha o meio ambiente, por onde ela passa contamina tudo e todos, pode ficar milhares de anos em atividade, deixando imprestáveis, solos, água e habitações. Hoje o paradigma cientifico nuclear deveria ser completamente revisto, ou seja, deveria ser banido para todo o sempre do nosso meio; não existe futuro algum nas armas nucleares, seus promotores deveriam parar imediatamente.
Bioeticamente, no dia doze de junho último, praticamente sem alarde algum, um renomado grupo de entendidos em energia nuclear emitiu uma nota afirmando que “o mundo está entrando em um dos períodos mais perigosos da história da humanidade”, no sentido que pouca ou nenhuma atenção a esse perigo os nove países que detém armamento nuclear estão aumentando, ao invés de diminuírem seus gastos com esse tipo de armas, tem aumentado cada vez mais as somas nesse campo, outro dado alarmante, é que esses países tem cada vez mais aumentado a falta de transparência, por outras vias, ninguém sabe ao certo quanto armamento tais possuem. Gunther Anders, com propriedade nos diz que “nenhum de nós tem um conhecimento condizente ao que pode ser uma guerra atômica. O que significa que neste campo, ninguém é competente e que o apocalipse está portanto por essência nas mãos dos incompetentes”. Sabemos muito bem que os grandes detentores de armas nucleares estão ávidos por encontrarem subalternos que as apoiem.
*Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, Mestre em Bioética e Especialista em Filosofia pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, é Doutor e Mestre em Filosofia, é professor titular de Bioética na PUCPR.
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