Pe. Lino Baggio, SAC
Desde 1964 a Igreja do Brasil promove, durante a Quaresma, uma Campanha da Fraternidade. A Quaresma é um tempo marcado pelo chamado à conversão: mudança de vida (mentalidade, sentimento, atitude), volta ao Senhor, adesão ao seu Evangelho. Essa conversão é tanto pessoal (conversão do coração), quanto social (transformação da sociedade). Para ajudar na vivência do espírito quaresmal, a Igreja convida a intensificar a prática da oração, do jejum e da caridade. E para que a caridade não se reduza a uma ação meramente assistencial, a Igreja do Brasil, retomando a doutrina social da Igreja, promove uma Campanha da Fraternidade que trata de algum problema grave da sociedade que exige mudança e que compromete pessoas e instituições.
Pela terceira vez a Campanha da Fraternidade trata do problema da fome, chamando atenção para um dos pecados mais graves de nossa sociedade e convidando os cristãos e o conjunto da sociedade a se empenharem na superação dessa injustiça e desse pecado que clama ao Céu: “Dai-lhes vós mesmos de comer”.
A fome não é um dado natural. Não é fruto do acaso ou do destino. Não é mera consequência de preguiça ou comodismo pessoal. Nem muito menos é vontade ou castigo de Deus. Ela é um produto social. É resultado das tremendas injustiças e desigualdades que caracterizam nossa sociedade e fazem com que uns tenham tanto e outros tenham tão pouco ou quase nada.
O drama da fome está presente ao longo da história do Brasil. Hoje, os dados são alarmantes: 33 milhões de pessoas passando fome e mais de 125 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar. Essa situação é muito mais escandalosa se considerarmos que não falta alimento no Brasil. Aliás, o país bate recordes anuais na produção para exportação de milho, soja, trigo, carne etc. A fome no Brasil, vale repetir, é fruto da injustiça e da desigualdade social. E pode ser eliminada com a solidariedade de todos e com vontade e decisão políticas.
A ordem de Jesus aos discípulos diante da multidão “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14, 16) ecoa, com muita força entre nós, sobretudo nesse tempo quaresmal em que somos chamados à conversão. Certamente, nenhuma pessoa ou comunidade pode resolver o problema. Mas cada um pode compartilhar um pouco do que tem e cada comunidade, grupo, pastoral ou movimento pode contribuir para superar essa situação através da solidariedade e da caridade. Desta forma, o Tempo da Quaresma é também o momento em que a fé deve ser traduzida em obras que beneficiam o próximo, de modo especial o faminto, e essas mesmas obras possam glorificar dignamente a Deus.
Vigário Paroquial na Paróquia São Roque – Coronel Vivida
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