Nos três últimos pedidos do Pai Nosso, seguiremos as catequeses do Papa Francisco, sobre a Oração de Jesus. Vimos que é próprio do ser humano ser devedor diante de Deus: d’Ele recebemos tudo, em termos de natureza e de graça. A nossa vida não só foi querida, mas foi amada por Deus. Deveras não há espaço para a presunção quando juntamos as mãos para rezar. Todos somos devedores para com Deus e para com tantas pessoas que nos proporcionaram condições de vida favoráveis. A nossa identidade constrói-se a partir do bem recebido. O primeiro é a vida.
Quem reza aprende a dizer “obrigado”. E nós muitas vezes esquecemo-nos de dizer “obrigado”, somos egoístas. Quem reza aprende a dizer “obrigado” e pede a Deus para ser benévolo com o próximo. Por muito que nos esforcemos, permanece sempre uma dívida impagável diante de Deus, que nunca poderemos restituir: Ele ama-nos infinitamente mais de quanto nós o amamos. E depois, por muito que nos empenhemos para viver segundo os ensinamentos cristãos, na nossa vida haverá sempre alguma coisa da qual pedir perdão: pensemos nos dias passados na preguiça, nos momentos em que o rancor invadiu o nosso coração e assim por diante. São estas experiências, infelizmente não raras, que nos fazem implorar: “Senhor, Pai, perdoai-nos os nossos pecados”. Deste modo pedimos perdão a Deus.
Pensando bem, a invocação podia até limitar-se a esta primeira parte; teria sido bela. Ao contrário Jesus liquida-a com uma segunda expressão que é um todo com a primeira. A relação de benevolência vertical por parte de Deus desvia-se e é chamada a traduzir-se numa relação nova que vivemos com os nossos irmãos: uma relação horizontal. O Deus bom convida-nos a sermos todos bondosos. As duas partes da invocação ligam-se com uma conjunção impiedosa: pedimos ao Senhor que perdoe os nossos pecados, as nossas faltas, “como” nós perdoamos aos nossos amigos, às pessoas que vivem conosco, aos nossos vizinhos, a quem nos fez alguma coisa desagradável.
O perdão gera alegria!
Cada cristão sabe que existe para ele o perdão dos pecados, isto todos o sabemos: Deus perdoa tudo e perdoa sempre. Quando Jesus conta aos seus discípulos o rosto de Deus, esboça-o com expressões de terna misericórdia. Diz que há mais alegria no céu por um pecador que se arrepende, do que por uma multidão de justos que não precisam de conversão (cf. Lc 15, 7-10). Nos Evangelhos nada deixa suspeitar que Deus não perdoa os pecados de quem está bem disposto e pede para ser reabraçado.
Mas a graça de Deus, tão abundante, é sempre exigente. Quem recebeu muito deve aprender a dar muito e a não reter só para si aquilo que recebeu. Não é ocasional que o Evangelho de Mateus, logo depois de ter oferecido o texto do “Pai-Nosso”, entre as sete expressões usadas frise precisamente a do perdão fraterno: “Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai Celeste vos perdoará a vós. Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai não vos perdoará as vossas” (Mt 6, 14-15). Mas isto é forte! Eu penso: algumas vezes ouvi quem disse: “Nunca perdoarei aquela pessoa! Nunca perdoarei o que me fez!”.
Jesus insere nas relações humanas a força do perdão. Na vida nem tudo se resolve com a justiça. Não. Sobretudo onde se deve pôr um limite ao mal, alguém tem que amar além do devido, para recomeçar uma história de graça. O mal conhece as suas vinganças, e se ele não for interrompido corre o risco de se alastrar sufocando o mundo inteiro. Jesus substitui a lei de talião – o que me fizeste, eu restituo-te – com a lei do amor: aquilo que Deus fez a mim, eu restituo-o a ti! Deus concede a cada cristão a graça de escrever uma história de bem na vida dos seus irmãos, especialmente daqueles que fizeram algo desagradável e errado. Com uma palavra, um abraço, um sorriso, podemos transmitir aos outros aquilo que recebemos de mais precioso. Qual é a coisa preciosa que recebemos? O perdão, que devemos ser capazes de dar também aos demais. Façamos a experiência do perdão!
Dom Edgar Xavier Ertl – Diocese de Palmas-Francisco Beltrão
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