Fernando Ringel*
Dia 17 de julho é a data em que o Brasil conquistou o tetracampeonato mundial. Naquela época, 1994, não era necessário especificar se o título tinha sido da seleção brasileira e nem se ela era masculina. Não existiam muitas alternativas: ídolos do tal “esporte nacional” eram Romário, Bebeto e nas escolas só os meninos jogavam bola. Era um mundo muito mais simples, feito com muitos “nãos”, sem internet e pouco espaço para os pontos de interrogação.
Ao longo desses 29 anos, o ex-craque que não gostava de formalidades, incluindo treinar antes dos jogos, se tornou o senador Romário (PL-RJ) e o país passou a ter a sua seleção de futebol feminino. Lideradas por Marta, e com os jogos transmitidos ao vivo pela Globo, a Copa começou no dia 20, com direito a ponto facultativo no serviço público federal. Essa medida beneficia os servidores, mas não necessariamente os nobres deputados e senadores porque… eles já estão de folga!
O Brasil tem dessas coisas, que até parecem piada, mas são apenas a realidade. Nesse caso, o recesso deveria ter começado só no dia 18, caso os parlamentares tivessem analisado a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), o que não aconteceu. Como pautas mais urgentes foram priorizadas, incluindo a votação da Reforma Tributária, que teve boa repercussão até no mercado financeiro, saíram de férias mesmo informalmente. Pode não ser bonito, mas é só pensar: se está todo mundo ganhando a partida, por que alguém vai dar cartão amarelo para quem é dono da bola? Segue o jogo.
Sorte no azar?
Se a política aqui poderia ser melhor, com certeza existem lugares com ainda mais dificuldades. Só para citar um exemplo da América do Sul, a queda de um avião na Colômbia matou uma ex-senadora, um deputado, um vereador e um candidato a governador. Por aqui, a notícia seria tratada como uma fatalidade, mas em um país marcado pelo terrorismo e pela luta contra o tráfico de drogas, liderados por nomes como Pablo Escobar, a primeira coisa que se pensa é em atentado. Pior ainda para os colombianos foi, após o presidente Gustavo Petro já ter declarado que seu governo pode sofrer um golpe de Estado, o WhatsApp ter parado de funcionar momentaneamente. No caso, foi alarme falso porque os problemas técnicos do aplicativo também afetaram o seu uso no Brasil.
Por aqui, quem levou a culpa pelo apagão do “ZapZap” foram os pobres roteadores, computadores e celulares, mas ninguém pensou em nada mais grave do que dar uns tapas ou xingar os pobres aparelhos eletrônicos. Dos males, o menor.
*Fernando Ringel
Jornalista
Mestre em Educação
Professor universitário
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