O último dia 20 de junho de 2024 celebrou-se de modo bastante tímido e até mesmo desapercebido, o dia mundial do refugiado, algo antigo e mais atual do que nunca, num mundo que se gaba cada vez mais conectado, globalizado, mas com poucas interações satisfatórias para onde quer que olhemos, o clima humano hoje é recheado por vários barris de pólvora em todos os cantos, cada um deles a seu modo explodindo de forma variada, mas com uma intensidade crescente. A policrise, minuciosamente descrita por Edgard Morin tem causas profundas no tempo e no espaço da existência humana, o que se tem hoje não deveria ser surpresa alguma, haja vista que nunca nenhum governo que se preze buscou resolver as diferentes crises existentes, cada país, cada povo, foi deixado à sua própria sorte; uns poucos afortunados conseguiram resolver mais ou menos as suas crises.
A grande maioria dos países hoje, foram de modo geral cooptados a fazerem parte de um novo mundo, mais interativo, mais participativo, com menos restrições e um mercado livre de todas as amarras, nesse cenário, verdade seja dita, poucos tem tido chances reais de prosperar com efetividade, poucos são aqueles países que conseguiram alguma coisa concreta com a globalização, essa por onde passou e tem passado tem deixado rastros de muita destruição, e desestruturação de todo tipo, atingindo principalmente as populações mais vulneráveis, os mais indefesos. O deus mercado nunca resolveu absolutamente nada, seja na esfera política, comercial ou humana, as bravatas de desenvolvimento infinito que ele prega não passam de miragens impossíveis de serem alcançadas em qualquer esfera, a competição desleal em que o mercado lançou seus adeptos, vem fazendo novas vítimas.
Hoje mais do que nunca contemplamos silenciosos, uma nova classe de pessoas deslocadas das suas terras, dos seus valores, dos seus trabalhos, famílias, amigos, tudo aquilo que um dia fez parte dos hoje refugiados, acabou se perdendo com as guerras, as travessias perigosíssimas dos mares e oceanos, quantas famílias não se desintegram de modo forçado, por tanta violência e conquista de mais poder? Quem em sã consciência pode realmente dizer que estamos num mundo de iguais oportunidades? Politicamente, socialmente, humanamente, cada um de nós em maior ou menor grau é também um refugiado. É terrível saber que onde o ser humano coloca suas mãos com terceiras e quartas intenções, pouco ou nada fica em pé, que tudo se transforma numa enorme confusão, sobrando sim sempre para as futuras gerações que elas resolvam o que aí está.
Hoje mais do que nunca, uma nova e assombrosa categoria de refugiados juntou-se à já existente, são os refugiados climáticos, algo antes impensável, agora tem sido uma realidade muito presente entre nós, a crise climática é produto não só da natureza, mas principalmente da atuação do ser humano nos últimos tempos, a crise climática desanda inevitavelmente para a crise humanitária da qual poucos governos estão preparados para enfrentar, por outras palavras, enchentes, secas, incêndios, vieram para ficar, não deveria ser assim, mas está ficando assim, nossas inúmeras qualificações técnicas nunca abordaram a revolta climática, nunca nos preparam para o pior, elas (qualificações) quase sempre são voltadas para o desenvolvimento sem controle; os grandes operadores da tecnologia, mostram-se poucos preparados para essa tarefa, muitos fecham os seus olhos.
Bioeticamente, o dia mundial dos refugiados nos faz lembrar, que segundo as estimativas atuais, cento e vinte milhões de pessoas encontram-se nessa situação degradante, na última reunião do G7, na Itália, vimos com pesar sete líderes mundiais, cambaleantes, trôpegos, que praticamente viraram seus rostos para essa realidade mundial, como se não tivessem nenhum tipo de responsabilidade, quando na verdade são os grandes promotores de variadas diásporas mundo afora. Nosso querido e amado Brasil também tem seus refugiados, sejam eles estrangeiros ou climáticos, caso emblemático é o estado do Rio Grande do Sul, com as últimas e gigantescas enchentes; mostrando assim que absolutamente ninguém mais está livre de uma hora ou outra passar por uma enorme provação, os refugiados são um problema humano, somos todos nós que podemos ajudar.
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