Queijo de Chopinzinho entre os melhores do mundo

Com alguns anos de muito trabalho, Claudemir Roos e Cleunice Kurpel de Andrade, de Chopinzinho, já conseguem colher os frutos dessa caminhada. O casal, que reside na comunidade de Mato Branco, resolveu ingressar no ramo de queijaria em 2012. No último sábado (10), eles, que são proprietários da “Queijaria São Bento”, foram contemplados com a medalha Prata no Mundial Queijo Brasil 2019.

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Realizada, em Araxá (MG), a iniciativa, em sua primeira edição, foi promovida pela associação sem fins lucrativos SerTãoBras — que defende a legalização do queijo de leite cru e a valorização do pequeno produtor rural — e pela Guilde Internationale des Fromagers, da França.

Conforme o comissário geral do concurso, Élvio Rocha de Oliveira Sobrinho, foram 956 produtores candidatos, tanto de vários estados brasileiros, como também de outros países, como Austrália, França e Itália.

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Os queijos foram avaliados em duas etapas. “Na primeira, foram julgados em mesas divididas por categorias de famílias tecnológicas de fabricação, segundo o regulamento. Na segunda etapa, o melhor queijo de cada mesa foi julgado novamente, no auditório do Cine-Teatro Tiradentes, no primeiro pavimento do hotel. Foi eleito o melhor queijo do concurso diante do público”, explica o site oficial do evento.

Os jurados avaliaram os quesitos: aparência, textura, sabor e aroma; sendo que os melhores receberam diplomas (medalhas de Super Ouro, Ouro, Prata e Bronze), conforme as suas pontuações. Além disso, os vencedores terão direito à utilização da logomarca do concurso na embalagem dos seus queijos.

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Categorias

Ao todo, o concurso contou com 34 categorias, distribuídas entre “Leite de vaca”, “Leite de cabra”, “Leite de ovelha”, “Leite de búfala”, “Todos os tipos de leite”, “Especialidades queijeiras e criações” e “Queijos de Kefir”.

Dentro da produção de “Leite de vaca”, havia 14 categorias. Claudemir e Cleunice se inscreveram em duas: na Categoria 106, que consistia em Queijo de massa mole e casca lavada (tipo livarot, époisses); e na Categoria 107, que era a Massa prensada não cozida (tipo queijo minas artesanal, saint-nectaire).

Conforme o casal, eles foram premiados com “Prata” na categoria 106, que também é conhecido como “meia cura”. A queijaria do interior de Chopinzinho foi a única contemplada do Sudoeste do Paraná no concurso. Houve também outro produtor paranaense, na “Super Ouro”, mas de outra região.

História

Claudemir Ross e Cleunice Kurpel de Andrade são filhos de pequenos agricultores. Viveram durante as suas infâncias nas áreas rurais de São João e de Coronel Vivida, respectivamente.

Claudemir, quando adolescente, resolveu fazer o curso Técnico em Agropecuária. Após se formar, em 1990, passou a atuar como técnico na cooperativa Coasul, em Chopinzinho, dentro de um projeto voltado à pecuária leiteira, onde supervisionava, com outros cinco profissionais, a qualidade do leite nas propriedades dos associados.

“Nesse projeto de fomento, tive a oportunidade de adquirir muito conhecimento. Inclusive, durante um período, houve uma parceria com um grupo de franceses, que nos auxiliaram com conhecimento, formação de dietas, e conseguimos estender isso às propriedades. Com isso, aprendemos o quanto é importante um equilíbrio na dieta para se ter um produto final — o leite — com qualidade”, explica.

Com esse trabalho desenvolvido na cooperativa, entre 1992 e 2003, despertou a iniciativa no produtor em atuar nessa atividade. Casou com Cleunice e foram residir na propriedade da família da agricultora, no interior de Coronel Vivida.

A princípio, o casal trabalhava com a produção de leite, vendendo para um laticínio vividense. Devido a vários fatores, eles decidiram mudar de ramo por um ano, com atividade de suínos, porém, após esse período, resolveram voltar e adquiriram a propriedade de 4,2 alqueires, na comunidade de Mato Branco, às margens da BR-158, em Chopinzinho.

“Chegamos a Mato Branco em janeiro de 2012. Não tínhamos dinheiro para construir a casa, ficávamos acampados, com muitas dificuldades. Mas, com muito trabalho, começamos a fabricar queijo e fomos conquistando as nossas coisas”, conta Cleunice, acrescentando que dois, dos quatro alqueires são de eucalipto.

Para começar a produção queijeira, o casal adquiria leite de dois produtores e comercializava as peças de porta em porta. Contudo, Cleunice e Claudemir passaram a observar que a qualidade do produto não era padronizada, devido à matéria-prima. “Comprávamos 30 litros. Nós dois fazíamos o queijo na cozinha mesmo. Comecei ali a criar alguns tipos de queijos, depois passamos a comprar 50, 100 litros por dia. Mas não dava o resultado que queríamos; o queijo não ficava tão bom”, conta a produtora.

Assim, “fizemos o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e, com esse crédito, conseguimos aumentar nosso negócio aos poucos, compramos três vaquinhas e produzimos a matéria-prima do jeito que queríamos. Como Claudemir tinha todo o conhecimento em assistência técnica e com gado de leite, fomos ajustando a dieta. Já o conhecimento que eu tinha em queijo, no começo, era o básico que aprendi com a família. Produzíamos duas a três peças por dia naquele tempo”, acrescenta.

Atualmente são 16 animais em ordenha e a produção é de 300 a 350 litros de leite por dia — o rebanho é misto, composto por raças Holandesa, Jersey, Jersolanda e Pardo Suíço. “O crescimento dos derivados foi gradativo, sempre ia explorando e fazendo novidades, porque gosto de criar. Fui descobrindo os tipos de queijos e sabores, analisando os resultados. Hoje, produzimos mais de 15 derivados, como queijos colonial, tradicional, coalho, meia cura, amanteigado, temperado; além de nata, doce de leite, ricota e doce de leite”, enumera a produtora.

No começo, somente os dois trabalhavam na produção. Hoje são em sete pessoas. O casal trabalha nas vendas — feitas de porta em porta ou na própria queijaria na propriedade —, no administrativo e na fiscalização; dois cuidam das vacas e do leite; duas funcionárias são responsáveis pela produção; e outra funcionária atua na residência da família, anexa à queijaria e que está começando também na agroindústria, que tem o Serviço de Inspeção Municipal (SIM).

Prêmio

Essa é a segunda vez que a queijaria participa de um concurso — o primeiro foi promovido pelo Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), no ano passado.

“A Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) de Francisco Beltrão está fazendo um trabalho de pesquisa em relação ao queijo de leite cru. E eu participei de um curso, com um módulo de quatro meses. Com isso, formamos um grupo de queijeiros da região Sudoeste. E aí surgiu a oportunidade de participar do Mundial Queijo Brasil 2019, para que tivéssemos ideia de como estaríamos diante do cenário nacional de queijos artesanais. Mesmo com muita modéstia e falta de coragem praticamente, nos sentimos da obrigação de participar. Escolhemos dois queijos, que não foram preparados exclusivamente para o concurso. E enviamos para concorrer em duas categorias. Na noite de sábado soubemos que fomos classificados com a premiação ‘Prata’. Nos sentimos muito orgulhosos com essa novidade”, comemora Roos.

De acordo com Cleunice, o queijo premiado precisa de 30 a 40 dias para curar e estar pronto para consumo. Assim, foi produzido no mês de junho. “Essa premiação, esse selo que recebemos é muito mais importante do que qualquer dinheiro que pudéssemos ganhar. Isso é motivação pura para prosseguirmos e melhorar cada vez mais. E inspirar muito mais produtores, que estejam desanimados, pois sonhando e correndo atrás é possível realizar”, declara a produtora, finalizando que o céu é o limite.

Além da realização da SerTãoBras e da Guilde Internationale des Fromagers, da França, o evento contou com a correalização e promoção do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Instituto Antonio Ernesto de Salvo (Inaes) e Sindicatos.

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