Deraa al-Balad e seus arredores, um distrito da cidade de Deraa, na província sulista de mesmo nome, foi alvo de artilharia pesada em conjunto com um ataque terrestre de duas divisões do Exército sírio e milícias aliadas apoiadas pelo Irã na manhã de ontem, numa grande ofensiva que continuou ao longo do dia.
Em resposta ao bombardeio, rebeldes lançaram contra-ataques em todo o interior de Deraa, matando pelo menos oito combatentes pró-regime e capturando dezenas de soldados em várias posições militares e postos de controle, disseram fontes locais.
Pelo menos quatro civis morreram nas áreas bombardeadas, de acordo com os moradores, e um grande número de pessoas começou a fugir. É a pior onda de combates a atingir Deraa – berço do levante da Primavera Árabe na Síria em 2011 – desde que a área se “reconciliou” com Damasco em um acordo negociado pela Rússia três anos atrás.
“Acordamos sob ataque às 7 horas. Estamos sob cerco total, há disparos de artilharia indiscriminados, granadas de morteiros, tudo”, disse Abu Ahmed, residente em Deraa al-Balad, à agência Associated Press. “Civis repeliram o avanço para impedir os tanques e soldados de entrarem na cidade, mas não temos resistência armada real. Não há água, não há energia e estamos sem comida.”
Ao contrário de outras áreas da oposição reconquistadas por Assad, com a ajuda de seus aliados em Moscou e Teerã no acordo de rendição de julho de 2018, a maioria dos habitantes de Deraa permaneceu em casa em vez de ser transportada de ônibus para a Província de Idlib, na fronteira com a Turquia. Em vez disso, Moscou supervisionou o recrutamento dos rebeldes de Deraa para uma nova força de segurança local conhecida como Quinto Corpo, criada para ajudar o exausto Exército sírio na luta contra o Estado Islâmico.
Desde que o EI foi expulso do sul da Síria, um status incômodo emergiu: o Quinto Corpo recebe salários de Moscou e deve seguir ordens russas, mas conseguiu manter um certo grau de autonomia, barrando os militares e a polícia secreta síria de áreas sob seu controle, protegendo as pessoas procuradas pelo regime e os grandes protestos de rua contra a forma como o governo lida com a economia da Síria.
Atentados a bomba e assassinatos entre ex-figuras da oposição e forças do regime se tornaram rotina desde então. Mas, ciente do potencial de escalada militar se as forças iranianas e do Hezbollah fossem totalmente incorporadas tão perto de Israel, a Rússia frustrou as tentativas do regime de erradicar a insurgência incipiente.
A situação em Deraa piorou drasticamente quando a população local decidiu boicotar as eleições gerais fraudulentas de maio, nas quais Assad foi eleito para mais sete anos no cargo com 95% dos votos. Os soldados do regime começaram a bloquear estradas e desligar o fornecimento de água e energia aos bairros onde vivem cerca de 50 mil pessoas, levando à escassez de alimentos e remédios.
Várias tentativas de negociação entre um comitê de segurança do governo e representantes tribais de Deraa al-Balad falharam, levando Damasco a enviar reforços militares para a área no início desta semana.
Houve relatos não confirmados de que o Quinto Corpo – que ficou fora dos combates – está mediando um acordo de cessar-fogo. Mas moradores disseram que os combates prosseguiam.
“A escalada em Deraa al-Balad representa um colapso das negociações entre os líderes dos rebeldes ‘reconciliados’ e o regime. Assad agora está implementando a ‘solução’ que queria impor a Deraa desde o início – forçando a rendição completa e o deslocamento dos que rejeitam agir como súditos leais do regime sírio”, disse ao jornal britânico The Guardian Elizabeth Tsurkov, pesquisadora do Newlines Institute.
“A menos que a Rússia intervenha para pôr fim aos combates e intermediar um cessar-fogo, os combates resultarão em mais mortes de civis e deslocamento, e provavelmente na subjugação de Deraa al-Balad sob o controle total do regime.” (Com agências internacionais)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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