Johnson, o primeiro líder mundial a admitir estar contaminado por covid-19, acabou por afastar Cummings de seu governo em 13 de novembro do ano passado, depois de desentendimentos entre os dois e de um forte desgaste que sofreu publicamente. Entre outras coisas, o então conselheiro foi flagrado em uma viagem pela Inglaterra, enquanto o governo impedia a locomoção de seus cidadãos para conter a disseminação do vírus.
Figura controversa, Cummings foi apontado como o idealizador da estratégia de “imunização de rebanho” no país. O Reino Unido foi uma das últimas nações europeias e decretar o lockdown, e tomou a decisão por pressão de vizinhos, mas depois decidiu manter uma linha dura nas regras de isolamento social e agora, com a vacinação também avançando, a vida no país começa a voltar ao normal.
Assim como no Brasil, a imprensa local acompanha seu depoimento em uma comissão do Parlamento britânico. Afinal, Cummings é visto como uma “bomba” para o governo local por saber demais. No mínimo, será um momento embaraçoso para o premiê. E ele não está decepcionando os que ficaram indignados com a falta de ação do governo no momento que as primeiras informações sobre a rapidez e a letalidade do surto começaram a surgir. “O governo do Reino Unido falhou publicamente na resposta da Covid”, afirmou aos parlamentares.
O ex-conselheiro-chefe do primeiro-ministro disse que “ministros, altos funcionários e conselheiros como eu ficaram desastrosamente aquém do que o público espera durante uma crise como esta”. Ele acusou o ministro da Saúde Matt Hancock de estar “completamente errado” ao sugerir que a imunidade coletiva nunca fez parte do plano original do governo. Hancock foi abordado por jornalistas mais cedo e saiu correndo da imprensa. As imagens viralizaram nas redes sociais como um meme.
Cummings continuou a focar sua artilharia em Hancock durante o depoimento, dizendo que ele “deveria ter sido demitido” por “pelo menos 15 a 20 coisas” erradas que teria feito, incluindo mentir em reuniões. O ex-conselheiro disse também que, em fevereiro do ano passado, BoJo avaliou a doença como algo “assustador” e que a levaria para a televisão, para que a população local tomasse conhecimento.
O depoente chegou a fazer mea culpa, se desculpando por seus erros, mas garantiu que não estava só e que Downing Street “falhou” quando a população “mais precisava de nós”. Cummings, porém, garantiu que a mídia “exagerou maciçamente” o poder de sua influência no endereço Número 10, residência oficial do premiê. Em participação em outra sessão no Parlamento, que acontece sempre às quartas-feiras na Câmara dos Comuns (o equivalente à Câmara dos Deputados brasileira), Johnson disse que não acompanhava a participação de seu ex-funcionário.
Cummings também descreveu o primeiro-ministro como “alguém que muda de ideia dez vezes por dia” e levou aos parlamentares que sofreu ameaças de morte por ter sido apontado como o disseminador da ideia de imunização de rebanho. Para ele, o problema é que BoJo não traçou uma linha de ação e a seguiu.
“Ele (o premiê) era como um carrinho de compras se espatifando de um lado a outro do corredor”, ilustrou. O ex-conselheiro disse que se tivesse realmente poder, teria “estalado os dedos” e agido, citando que gostaria de ter feito uma política de fronteira séria, tornado o uso de máscaras obrigatório e demitido Hancock.
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