Dirceu Antonio Ruaro
Amigos leitores, na semana que passou, conversamos sobre relacionamento familiar, dando ênfase ao relacionamento entre o casal.
Pois bem, hoje quero destacar algumas questões referentes ao relacionamento familiar entre irmãos.
Sabemos que nenhuma família pode ser considerada como um “mar de rosas” quando se trata do relacionamento interpessoal envolvendo os irmãos. Por mais que os pais ensinem, ocorrem “rusgas” entre os irmãos desde a mais tenra idade.
Mesmo que os pais tentem dar o exemplo mostrando como se relacionam, cada criança tem sua individualidade e é interessante, então, que os pais os ensinem como se relacionar fraternalmente.
Conforme especialistas em desenvolvimento humano, as relações afetivas entre os familiares, especialmente irmãos, são fundamentais para o desenvolvimento de traços de personalidade e comportamentos de uma pessoa.
A convivência diária pode não ser uma tarefa fácil para os pais e para os irmãos mesmo, mas é preciso que os pais invistam num modelo de convivência fraterna e respeitosa que valorize o companheirismo e a confiança entre os pares a fim de que também aprendam uma forma fraterna de se relacionar com outras pessoas.
É verdade que, além de nos preocuparmos com relacionamento entre os pares familiares, precisamos dar atenção ao próprio relacionamento interpessoal da pessoa consigo mesma.
A criança precisa aprender a se “reconhecer” em sua individualidade, porém os pais não podem reforçar a ideia de que cada um tem seu jeito e deixar que as coisas fluam sem intervenção.
Evidentemente que há uma questão que facilita as intervenções dos pais pois, além do laço sanguíneo, há uma ligação afetiva muito forte entre eles, construída pela convivência diária, pelas experiências compartilhadas e pelo cuidado que um dispensa ao outro.
De certa forma, desde pequenos um “defende o outro”. Há um sentimento afetivo muito profundo desenvolvido pelo compartilhamento do lar e das coisas que envolvem uma família.
Porém, como dissemos acima, nenhuma família é um “mar de rosas”, obstáculos e desafios se apresentam diariamente na construção dos vínculos que são os mais duradouros na vida de uma pessoa.
Os pais desempenham, por isso, um papel preponderante no equilíbrio familiar e no desenvolvimento da personalidade de cada componente dela.
Não é saudável que os pais não intervenham nas desavenças sob o pretexto de que “elas se ajeitam” ou que devem resolver seus conflitos por si só.
A intervenção precisa ser adequada, evidentemente, na resolução de conflitos e brigas entre irmãos, pois é preciso auxiliá-los a se desenvolverem com equilíbrio emocional e crescerem saudáveis emocionalmente.
Os vínculos fraternos precisam ser estimulados por meio de um relacionamento baseado no respeito, no companheirismo, na confiança, na empatia, na harmonia e na estima entre os irmãos.
Nesse sentindo é preciso que os pais criem situações para que os irmãos possam agir em conjunto, como pequenas tarefas cotidianas (eles precisam aprender a arrumar a cama, organizar os brinquedos e, conforme a idade responsabilizar-se por alguma tarefa da casa), brincadeiras familiares compartilhadas, passeios, atividades físicas.
Eu sei que muitos pais dirão, mas e o tempo? Pois é, e o tempo? Quando se decide ter filhos, o tempo é uma questão que não pode ser improvisada. Mesmo com o cansaço do trabalho, os pais (mãe e pai) precisam de alguma forma partilhar brincadeiras e atividades com os filhos.
É preciso que os pais entendam que o relacionamento entre os irmãos faz parte do desenvolvimento social das crianças e adolescentes. E, apesar dos esforços dos pais, sempre haverá algum tipo discordância ou desavença. E, nesse momento os pais precisam agir com imparcialidade. Não podem e nem devem tomar partido.
Ensinar a pensar sobre o conflito, seja uma cena de ciúme, alguma competição, é relevante que os pais aprendam a conversar sem desvalorizar um em detrimento do outro.
Claro que os pais precisam ter em mente a individualidade de cada um, as diferenças de cada um, diria a singularidade de cada um, mas não podem, na medida da necessidade se furtar a uma intervenção (quando necessário) a fim de que a harmonia possa ser restabelecida ou até mesmo construída entre os irmãos.
Penso que a qualidade das relações entre os irmãos não está no tempo que os pais dispensam as ações familiares, o tempo pode ser pequeno, mas de efetiva participação dos pais na vida de cada um deles, individualmente, como, também no grupo familiar, pense nisso enquanto lhe desejo boa semana.
Doutor em Educação pela Unicamp, Psicopedagogo Clínico-Institucional e Pró-Reitor Acadêmico Unimater
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