Revisão de previsão de inflação no curto prazo contamina longo, diz Campos Neto

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quinta-feira que existe um processo de revisão de expectativas de inflação de curto prazo no Brasil, que começou a contaminar o longo prazo. Segundo Campos Neto, grande parte das surpresas inflacionárias está nos preços monitorados. Recentemente, houve ainda o aumento da inflação de serviços.

Como mostrou o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) na última terça-feira, desde o início do segundo semestre de 2020, quando a alta das commodities (produtos básicos) no mercado internacional passou a impulsionar os preços de alimentos no Brasil, o Banco Central vem errando seguidamente, para baixo, suas projeções de inflação de curto prazo.

De julho de 2020 a julho de 2021, o BC subestimou a inflação em suas projeções em 9 dos 13 meses considerados.

Em evento virtual nesta quinta, Campos Neto reiterou que o BC fará “o que for preciso” para controlar as expectativas de inflação. “Vamos fazer o que for preciso para a inflação ficar ancorada no médio e no longo prazos”, disse, em participação no Congresso Nacional Abrasel, promovido pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes.

Campos Neto afirmou ainda que a inflação implícita de longo prazo está caindo, embora ainda haja influência da inflação implícita de curto prazo. Ao mesmo tempo, ele pontuou que a inflação implícita longa está ligada em grande parte à percepção fiscal dos investidores em relação ao Brasil. Por isso, segundo ele, é importante passar uma mensagem de controle fiscal.

Green inflation

O presidente do Banco Central também expressou nesta quinta publicamente uma visão nova em relação à agenda de sustentabilidade que ganha espaço ao redor do mundo e que, no Brasil, tem o BC como um dos principais agentes. Segundo ele, existe uma dicotomia entre o avanço da agenda e a inflação gerada na esteira de iniciativas adotadas.

Campos Neto citou o conceito de green inflation (inflação verde, em inglês), que traduz a percepção de que o combate às mudanças climáticas pode adicionar inflação à economia.

Para ilustrar a questão, ele citou os casos das cadeias de alumínio e madeira, que para se tornarem mais sustentáveis estão sujeitas a uma elevação de custos. “A agenda de sustentabilidade tem implicações econômicas”, disse.

Em meio à piora da imagem do Brasil no exterior, o BC vem, desde o ano passado, intensificando sua agenda de sustentabilidade. Um dos focos é a incorporação de riscos ambientais ao processo de decisão da política monetária. Outro objetivo é a incorporação de critérios ambientais ao mercado de crédito.

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