
Em 1980, Curitiba vivia um marco histórico na mobilidade urbana. Com 1,52 milhão de habitantes à época — hoje são cerca de 1,8 milhão —, a Prefeitura iniciou estudos para melhorar o transporte coletivo. No mesmo ano em que o Papa João Paulo II visitou a cidade, a capital implementou uma série de inovações que projetaram Curitiba como referência: a criação da Rede Integrada de Transporte (RIT), a bilhetagem magnética, a inauguração de terminais e outras medidas estruturantes.
Bilhetagem magnética: pagamento antecipado e menos filas
Na manhã de 12 de janeiro de 1980, os ônibus da linha expressa Boqueirão receberam o sistema de bilhetagem magnética. A partir dessa data, o passageiro deixou de depender exclusivamente do dinheiro em espécie e passou a usar bilhetes magnetizados, perfurados em máquinas e vendidos antecipadamente.
A novidade atendeu cerca de 60 mil passageiros diários e os cartões podiam ser comprados nos terminais Hauer e Carmo, além da Praça Rui Barbosa. Com base em estudos do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), o sistema foi gradualmente ampliado aos demais terminais, reduzindo filas e permitindo melhor planejamento de viagem.
A bilhetagem automática evoluiu para fichas metálicas e, posteriormente, para o cartão-transporte, hoje utilizado por mais de 80% dos usuários.
Tarifa Social padroniza valores e amplia o acesso
Em 28 de abril de 1980, entrou em vigor a Tarifa Social, que padronizou o preço das passagens em todo o sistema, independentemente da linha. Até então, os valores variavam: no expresso Sul a tarifa era de Cr$ 7,50; no Boqueirão, Cr$ 7; e na linha Norte, Cr$ 6,50. Com a mudança, todo o sistema passou a operar com passagens a Cr$ 5,05, medida implementada em conjunto com a inauguração do Terminal Pinheirinho. Moradores de áreas mais afastadas do Centro deixaram de pagar mais pelo deslocamento. Inicialmente, houve reclamações de usuários das áreas centrais por um pequeno aumento, e a Tarifa Social operou apenas no período diurno, passando à integralidade após aprovação popular.
Integração em teste: cercados e adaptação do usuário
Nos primeiros meses, a integração entre estações e linhas ocorreu com cercados que ordenavam a troca entre ônibus alimentadores e expressos. O modelo ajudou a população a entender a rede integrada. Com a adaptação gradual, os cercados foram removidos.
RIT: 142 alternativas de viagem a partir de 1º/12/1980
No dia 1º de dezembro de 1980, a Rede Integrada de Transporte transformou a lógica do deslocamento em Curitiba. Antes, os 156 mil passageiros diários tinham apenas quatro alternativas de utilização. Com a inauguração de três novas linhas Interbairros e uma linha diametral do sistema Expresso, o total saltou para 142 alternativas. A RIT permitiu usar mais de uma linha pagando apenas uma tarifa, trazendo economia e praticidade.
Evolução contínua: estações-tubo e integração temporal
Ao longo dos anos, o processo de integração avançou com a criação das estações-tubo, a ampliação de terminais e, mais recentemente, a integração temporal, que autoriza a troca de ônibus por um período determinado sem nova cobrança, inclusive fora dos terminais. A Praça Rui Barbosa passou a operar como terminal de integração temporal, beneficiando 55 mil passageiros por dia e conectando 39 linhas convencionais e quatro expressas. Assim, o passageiro consegue compor o próprio trajeto para se deslocar por diversos bairros de Curitiba.
Mudanças no transporte coletivo em 1980
1. Bilhetagem magnética nos interiores dos ônibus da linha expresso Boqueirão. O bilhete, que era perfurado em uma máquina automática, deu agilidade ao embarque nos veículos e foi precursor da bilhetagem eletrônica que funciona atualmente no sistema.
2. Aumento no número de ônibus alimentadores, primeiro dentro de Curitiba e depois na Região Metropolitana.
3. Desestímulo para a utilização de automóveis. A Prefeitura passa a realizar a campanha “É com esse que eu vou”, com o objetivo de diminuir o número de carros e colocar o transporte coletivo como uma opção viável, econômica e de deslocamento rápido.
4. Inauguração do Terminal Boqueirão. Junto ao novo terminal, calculava-se a diminuição de cerca de 32% no consumo de óleo diesel por passageiro com os ônibus articulados.
5. Novas linhas para ônibus expressos. As canaletas começaram a ser ampliadas, com destaque para os eixos Leste e Oeste.
6. Inauguração do Terminal Pinheirinho. Na época, 35 mil pessoas passaram a utilizar o novo terminal, número que passou por um novo aumento após a integração. Hoje o Pinheirinho é o maior terminal de Curitiba, com mais de 90 mil passageiros/dia.
7. Instituição da Tarifa Social Única. Sistema de tarifa padronizada, válida para os ônibus expressos, alimentadores e convencionais.
8. Implementação do Ramal Oeste. Criação de pistas exclusivas para a região que engloba bairros como Bigorrilho e Campina do Siqueira.
9. RIT começa a valer. Passa a vigorar o sistema que integra o terminais da cidade.
10. Passagem única com a RIT. A partir de dezembro, o passageiro podia pagar apenas um bilhete para percorrer mais de uma linha integrada.
11. Instalação de abrigos em todos os pontos de ônibus.
12. Aumento em 53 veículos na frota durante o ano. Dentre os números, quatro articulados, 14 expressos e 35 para as linhas interbairros.
13. Integração do transporte na Grande Curitiba. Os municípios de Piraquara e São José dos Pinhais passavam a fazer parte do novo sistema.
14. Alterações nas linhas Interbairros. A linha Interbairros I para vias próximas à área central; Interbairros II atendendo o Ramal Oeste, Portão, Capão Raso e Hauer; Interbairros III fazendo a ligação entre o Terminal Oficinas e o Terminal Capão Raso, passando pelo Terminal Carmo; Interbairros IV partindo do Terminal Boqueirão e passando pelo Pinheirinho, Terminal CIC e rumando pela Rua João Bettega, atendendo o Campo Comprido, São Braz e Santa Felicidade.
15. Escalonamento de horários que permitiu uma maior eficiência e conforto para os usuários.
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