A ideia do leilão solidário, contudo, não partiu da velocista. Foi Úrsula Ranilly, proprietária da Athletics Champions, quem procurou Rosângela para saber se a atleta topava a iniciativa. A velocista está classificada para o Mundial Indoor de Atletismo, que vai acontecer em março de 2022, na Sérvia. O dinheiro arrecadado poderá ajudar Rosângela nos custos da viagem.
“Eu conversei com a Rosângela para tentar arrecadar um valor com uma sapatilha (dela) autografada. Achamos que um leilão seria uma forma diferente por ela ser a primeira mulher a correr abaixo de 11 segundos e ainda medalhista olímpica”, explica Úrsula.
O gesto é uma retribuição às sapatilhas que Rosângela já doou para Úrsula na época que a empresária era atleta. Todas as que Úrsula usou quando corria foram doadas pela medalhista olímpica. As semelhanças entre as duas, no entanto, não se limitam à carreira esportiva e ao gesto de amparo. Úrsula conta que antes de ser empreendedora, trabalhou como motorista de aplicativo por quatro anos para complementar a renda.
“Hoje o que eu mais escuto são motoristas falando que foram assaltados. O Rio de Janeiro infelizmente está perigoso, ainda mais para mulheres dirigindo. Acho triste saber que uma medalhista olímpica está sem equipe e patrocínio e precisando trabalhar em aplicativo para ter que seguir carreira”, lamentou Úrsula.
A história de Rosângela ganhou espaço na imprensa brasileira no começo de novembro, quando a atleta, pelas próprias redes sociais, revelou que havia sido dispensada do clube Pinheiros sem explicações. Na mesma postagem, ela citou que uma de suas fontes de renda era o trabalho que fazia como motorista de aplicativo – atividade que ela já realizava antes da dispensa -, expondo um problema de desvalorização no esporte que coloca em risco a continuidade na carreira de parte dos atletas no País.
O fim do vínculo com o Esporte Clube Pinheiros, para o qual ela competiu por sete anos, aconteceu após a participação de Rosângela na Olimpíada de Tóquio.
Desde então, a velocista de 30 anos segue uma rotina que se resume a treinar de manhã e à tarde, e dirigir pelo aplicativo à noite. Porém, no último mês, ela contou ao Estadão que, por conta da carga de treinamento e do aumento do preço do combustível, tem encontrado mais dificuldades para fazer o trabalho como motorista. “O meu carro é movido a gasolina, e aqui no Rio de Janeiro a gasolina está na faixa de R$ 7,20. Então, eu estava trocando seis por meio-dúzia, fazendo cento e pouco em um dia, e tendo que guardar os cem reais para estar no dia seguinte rodando”, disse.
VAQUINHA ONLINE – Para conseguir arcar com os custos de passagem, hospedagem e alimentação que vai ter no Mundial, Rosângela revelou que fará uma “vaquinha online” (um financiamento coletivo) nas suas redes sociais nos próximos dias. “Eu preciso custear passagem, hotel, alimentação. Devo ficar umas três semanas na Europa. Eu fiz o levantamento dos valores e vou estar lançando a vaquinha no final dessa semana ou no início da próxima”, revelou.
Rosângela Santos fez parte do time que conquistou a medalha de bronze no revezamento feminino 4x100m na Olimpíada de Pequim, uma das quatro que ela representou o Brasil. A honraria, contudo, só foi obtida depois da desclassificação da equipe russa por conta de um escândalo de doping. No currículo, a velocista também é tricampeã em Jogos Pan-Americanos, e foi recordista sul-americana dos 100m rasos.
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