Sabemos menos do que aparentamos saber

            Nada mais difícil hoje do que detectar com precisão, qual poder tem mais força sobre a humanidade inteira, poder esse diga-se de passagem, também dando sinais inequívocos de que está desgastado em todos os lados, quem de nós ousa em sã consciência afirmar que a situação política internacional está estável? O descontrole dessas ou daquelas instituições, mostra que só pensar hoje não basta, que só o bom senso pode não nos salvar do pior, é preciso mais, é imperioso uma reforma total naquilo que comumente se convencionou chamar de poder, poder esse que nunca esteve à altura de quem o detém, quantos foram aqueles que por terem poder demais se esconderam em seus labirintos, justificando todo tipo de ato, se para o bem ou para o mau? A desumanização tem atingido níveis insuportáveis, sem que tenhamos discutido em profundidade essa crucial temática.

            A grave crise de conviver com o outro tem tomado ares apocalípticos, quando temos a oportunidade de revermos nossas posturas hostis, damos de ombros, não aproveitamos as já parcas oportunidades para fazermos desse mundo uma casa mais acolhedora e com menos sofrimento, aparece que para alguns o quanto pior melhor é a melhor solução, pelo menos para os seus interesses. Num tempo em que o ser humano alcançou um nível extraordinário de conhecimento, esse parece que não está servindo de muita coisa, ao invés de sabedoria, cultivamos cada vez mais ignorância, raiva, desconfiança, medo e ódio; ultimamente o poder que vemos florescer é aquele que esmaga o outro, aquele que destrói e mata populações inteiras indefesas, tudo em nome da segurança nacional, quanta irracionalidade despejada, quantos sacrifícios inúteis contra os miseráveis, os mais fracos.

            Quem de nós viu, ouviu ou comentou algo sobre a 79ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, que aconteceu nos últimos dias do mês de setembro de 2024? Uma reunião de líderes do mundo inteiro que pouco ou quase nada fez de concreto para um mundo em chamas, com muito custo mais uma vez a ONU lançou um desafio para revisar como anda a nossa caminhada como comunidade humana, afinal hoje tornou-se corriqueiro afirmar que tudo é emergente, complexo demais, que precisávamos ter agido ontem e que talvez amanhã seja tarde demais; todos ali reunidos em assembleia mundial sabem o que deve ser feito, que a irracionalidade bélica é um caminho sem vencedores, que o grau de brutalidade aí diante de nossos olhos só servirá para aumentar ainda mais as tantas divisões já existentes, nosso vácuo de moralidade atingindo níveis alarmantes.

            Não se pode naturalizar de forma ingênua e prepotente a crise climática como estamos fazendo hoje, isto é, de achar que ela é assim, sempre foi assim e assim o será perpetuamente, ou pior ainda, que ela se resolverá por si própria, no seu devido tempo, sabemos já por vozes e estudos abalizados que todas as crises que aí campeiam, estão intimamente ligadas umas às outras, que todas elas são criadas devido as inúmeras ruínas humanas que foram sendo construídas ao longo do tempo e hoje parecem não ter freio algum. A ambição colocou o ser humano numa encruzilhada devastadora, o seu sempre crescente complexo de arrogância tem levado muitos à ruína e parece ser a falta de visão mais alargada que está travando a saída do ser humano de sua menoridade; falta-nos a coragem verdadeira para sentarmos à mesa e analisarmos com seriedade os problemas.

            Bioeticamente, a ONU tem seus lampejos de lucidez e coerência, mas falta a ela muito mais, nela se fala de tudo, mas ninguém ouve, ali se tratam de muitos assuntos, mas ninguém quer resolvê-los, pois se isso vier realmente a acontecer, muitos acabarão perdendo, a ONU alerta, mas todos a ignoram, como se ela fosse uma simples criança chorona, que não sabe o que diz, que ela está dominada por forças escusas, quando na verdade não precisamos ser lá muito experts para sabermos que precisamos mudar nossa caminhada, que nosso tempo e recursos são limitados, que é impossível um crescimento sem fim, que o Planeta sofre com nossas ações descontroladas e insensíveis; não podemos cair em conversas de que nada por ser feito para se mudar a situação atual, nós podemos sim, temos muita força quando unidos e fracos demais quando estamos todos dispersados.

Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, Mestre em Bioética, Especialista em Filosofia, ambos pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, Doutor e Mestre em Filosofia, professor titular do programa de Bioética pela PUC-PR. Emails: ber2007@hotmail.com e anor.sganzerla@gmail.com

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