No primeiro domingo de novembro, dia 5, celebramos a solenidade de todos os Santos. Na Introdução do Sermão sobre essa festa litúrgica, São Bernardo de Claraval (1090-1153) nos ajuda com suas profundas perguntas: “Para que louvar os santos, para que glorificá-los? Para que, enfim, esta solenidade? Que lhes importam as honras terrenas a eles que, segundo a promessa do Filho, o mesmo Pai Celeste glorifica? De que lhes servem nossos elogios? Os santos não precisam de nossas homenagens, nem lhes vale nossa devoção. Se veneramos os Santos, sem dúvida nenhuma, o interesse é nosso, não deles. Eu por mim, confesso, ao recordar-me deles, sinto acender-se um desejo veemente”. Para a solenidade dos santos a Igreja nos oferece o Evangelho das Bem-aventuranças (cf. Mt 5,1-12) como caminho de santidade, caminho para a felicidade, ou seja, um itinerário de vida cristã, proclamado pelo Santo de Deus Jesus Cristo. É felicidade e aventura, bem-aventurada, ventura ou bem-aventurança. As bem-aventuranças são a carta do Reino, como o “Pai-Nosso”, é a oração do Reino e a Eucaristia o banquete do Reino. São os três pilares que nos conduzirão à santidade segundo os critérios do Evangelho de Jesus Cristo.
Programa de vida
O que pensamos quando falamos de santidade, de santo? As Bem-aventuranças devem ser entendidas como uma proclamação da chegada do Reino de Deus para as pessoas que vão ficar felizes com isso. Elas são a proclamação da amizade de Deus para aqueles que participam do Espírito que é evocado. As bem-aventuranças são um programa de vida para todos os que escutam a palavra de Cristo e a põe em prática. Este programa de vida já entra em ação desde que alguém se torna discípulo de Jesus: os que estão realizando este programa já são Santos. Razão deste texto na festa de hoje. Se entendêssemos as Bem-aventuranças somente como uma compensação para depois da morte, elas seriam “ópio do povo”. Mas elas são, ao contrário é verdade, um incentivo para realizar, desde já, o novo espírito, que traz presente o Reino de Deus. Somos santos já, na medida em que pertencemos a Deus no presente. Então, também o futuro de Deus nos pertence. A leitura do Apocalipse e o Evangelho destacam a santidade dos mártires que são perseguidos por causa do Evangelho, os que lavaram as vestes no sangue do cordeiro. Testemunhar Cristo com seu sangue é a marca mais segura da santidade – santos – os consagrados a Deus.
Santidade é um processo por toda a vida
São João Maria Vianney dizia que “os santos não são santos do mesmo modo; há santos que não poderiam ter convivido com outros santos…, nem todos seguem o mesmo caminho. Mas todos chegam ao mesmo lugar”. Nenhum de nós é perfeito, é santo. Quanto mais nos aproximamos de Deus, de Sua luz, mais enxergamos nossos limites e defeitos. Essa foi a experiência de grandes santos, de muitos místicos, que – justamente por causa desta proximidade com o divino – se sentiam grandes pecadores! Por outro lado, se a humildade nos leva a enxergar nossas qualidades e dons, ela também nos leva a atribuí-las à generosidade de Deus. Tudo é dom! Tudo é bondade do Senhor! Nisto consiste a santidade. Reconhecendo-nos pecadores, abrimos as portas do nosso coração e da nossa vida a fim de que o Senhor deposite em nós o seu amor de entranhas, o amor de misericórdia. Eis onde brotam os caminhos de santidade como estilo de vida e vida cristã.
Valha-nos os conselhos de São Bernardo: “Animemo-nos, enfim, irmãos. Ressuscitemos com Cristo. Busquemos as realidades celestes. Tenhamos gosto pelas coisas do alto. Desejemos aqueles que nos desejam. Apressemo-nos ao encontro dos que nos aguardam. Antecipemo-nos pelos votos do coração aos que nos esperam. Seja-nos um incentivo não só a companhia dos santos, mas também a sua felicidade. Cobicemos com fervoroso empenho também a glória daqueles cuja presença desejamos. Não é má esta ambição, nem de nenhum modo é perigosa a paixão pela glória deles”.
Dom Edgar Xavier Ertl – Bispo da Diocese de Palmas-Francisco Beltrão
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