Em 2015, na Carta Encíclica Laudato Si´ (LS), sobre a o cuidado da casa comum, o Papa Francisco propôs ao mundo, não somente aos cristãos católicos, a “conversão ecológica”. Para o Papa Bergoglio não se trata tanto de propor ideias, como sobretudo falar das motivações que derivam da espiritualidade para alimentar uma paixão pelo cuidado do mundo. Com efeito, não é possível empenhar-se em coisas grandes apenas com doutrinas, sem uma mística que nos anima, sem uma moção interior que impele, motiva, encoraja e dá sentido à ação pessoal e comunitária. Temos de reconhecer que nós, cristãos, nem sempre recolhemos e fizemos frutificar as riquezas dadas por Deus à Igreja, nas quais a espiritualidade não está desligada do próprio corpo, nem da natureza ou das realidades deste mundo, mas vive com elas e nelas, em comunhão com tudo o que nos rodeia (cf. LS n. 216).
Modelo de conversão: São Francisco de Assis
Francisco não somente optou pelo nome “Francisco” para o seu pontificado, mas, de igual modo, modelo de uma sã relação com a criação como dimensão da conversão integral da pessoa. Isto exige também reconhecer os próprios erros, pecados, vícios ou negligências, e arrepender-se de coração, mudar a partir de dentro. Para realizar esta reconciliação, devemos examinar as nossas vidas e reconhecer de que modo ofendemos a criação de Deus com as nossas ações e com a nossa incapacidade de agir. Devemos fazer a experiência duma conversão, duma mudança do coração (cf. LS 218) para estabelecer uma relação harmoniosa com o todo da casa comum, o meio ambiente.
Todavia, para se resolver uma situação tão complexa como esta que enfrenta o mundo atual, não basta que cada um seja melhor. Os indivíduos isolados podem perder a capacidade e a liberdade de vencer a lógica da razão instrumental e acabam por sucumbir a um consumismo sem ética nem sentido social e ambiental. Aos problemas sociais responde-se, não com a mera soma de bens individuais, mas com redes comunitárias, ou seja, para o Papa: as exigências desta obra serão tão grandes, que as possibilidades das iniciativas individuais e a cooperação dos particulares, formados de maneira individualista, não serão capazes de lhes dar resposta. Será necessária uma união de forças e uma unidade de contribuições. A conversão ecológica, que se requer para criar um dinamismo de mudança duradoura, é também uma conversão comunitária e acrescentamos com o sucessor de Pedro, “uma conversão eclesial” e “conversão social/política”.
Esta conversão comporta várias atitudes que se conjugam para ativar um cuidado generoso e cheio de ternura. Em primeiro lugar, implica gratidão e gratuidade, ou seja, um reconhecimento do mundo como dom recebido do amor do Pai. Convido todos os cristãos a explicitar esta dimensão da sua conversão, permitindo que a força e a luz da graça recebida se estendam também à relação com as outras criaturas e com o mundo que os rodeia, e suscite aquela sublime fraternidade com a criação inteira que viveu, de maneira tão elucidativa, São Francisco de Assis (cf. LS nn. 219-221). Finaliza o Papa sugerindo-nos atitudes concretas e objetivas diante do Criador e suas criaturas e seus meios.
Súplica para o tempo da Quaresma!
Ó Deus, autor de toda misericórdia e bondade, que indicastes o jejum, a oração e a esmola como remédio contra o pecado, acolhei benigno esta confissão da nossa humildade, para que, reconhecendo as nossas faltas, cometidas contra todas as criaturas, sejamos sempre regenerados pela vossa misericórdia. Enfim, ó Deus, que vossa Palavra realizais de modo admirável a reconciliação do gênero humano, concedei ao povo cristão da Diocese de Palmas-Francisco Beltrão, correr ao encontro das festas que se aproximam, cheio de fervor e exultando de fé e como peregrinos de esperança. Assim seja!
Dom Edgar Xavier Ertl – Diocese de Palmas-Francisco Beltrão
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