Ele vai apresentar na conferência casos de sucesso, como os leilões de energia do governo, que garantiram o crescimento desta fonte em 1.500% desde 2012, atingindo este ano 11 mil megawatts (MW) de potência instalada, a mesma capacidade da usina de Belo Monte, no Pará.
“Mesmo com esse crescimento todo, ainda temos muito que avançar, porque hoje a solar é apenas 2% da matriz energética, um porcentual pequeno diante do potencial, que pode chegar a 32% em 2050 e ultrapassar as hidrelétricas, segundo estudos e consultorias internacionais”, informou Sauaia.
O executivo já participou virtualmente de dois eventos da COP-26 e na próxima semana vai apresentar o caso da energia solar no Brasil no Pavilhão brasileiro, mostrando que em menos de 10 anos o País passou de 7 megawatts (MW) de potência instalada da fonte para 11 mil MW. Além da Absolar, Sauaia é vice-presidente do Global Solar Council, uma entidade internacional fundada em 2015, na COP21, que reúne 40 países.
“A Global Solar é uma iniciativa privada de apoio ao desenvolvimento e aos compromissos assumidos pelos países para redução de gases efeito estufa, reconhecendo que a energia solar fotovoltaica é uma grande ferramenta a favor da redução de emissões no mundo como um todo”, explicou, lembrando que o setor de energia ainda é o principal emissor de gases efeito estufa no mundo.
Um primeiro acordo foi assinado na COP-26 entre representantes globais da energia solar e eólica, com objetivo justamente de acelerar a instalação dessas fontes, que hoje já são as mais baratas em grande parte do mundo. Segundo Sauaia, a fonte solar já é mais barata em países que representam dois terços da população mundial. Além de custar menos, destacou, a fonte tem sustentabilidade, já que é uma tecnologia reciclável, com reaproveitamento dos equipamentos no final da vida útil.
“É uma oportunidade enorme de vários países virarem esse jogo. Vários países estão com metas e compromissos audaciosos (na COP-26), colocando a energia solar como uma grande ferramenta para atingir o objetivo”, afirmou.
Ele cita o caso dos Estados Unidos, segunda maior economia do mundo e também segundo maior emissor do Planeta, que apresentou dois compromissos estratégicos. A primeira é de que a matriz elétrica inteira vai se tornar limpa até 2035, meta governamental, e a segunda meta é de que a energia solar vai passar de 4% para 45% do suprimento de energia até 2050. “É uma gigantesca revolução solar que os Estados Unidos vai promover neste horizonte”, ressaltou.
Para ter sucesso, os Estados Unidos alocaram há cerca de dez anos recursos específicos para pesquisa e desenvolvimento, a fim de reduzir o custo da energia solar, o chamado Sunshot, uma referência ao programa Moonshot, que levou o homem à lua. Segundo Sauaia, o Brasil deveria fazer algo parecido, para incentivar ainda mais a energia solar no País.
“O Brasil poderia estar indo muito melhor. O Brasil está atrasado nas duas pontas, nas usinas de grande porte e na geração distribuída. Países muito menores do que o Brasil em termos de população, como é o caso da Austrália, já estão atingindo 3 milhões de sistemas solares nos telhados e o Brasil não chegou nem ao primeiro milhão (de sistemas solares)”, informou.
Hoje, o Brasil tem 800 mil consumidores atendidos e cerca de 750 mil sistemas solares em operação. O maior crescimento foi conduzido pela geração distribuída. “A gente já tem mais de meia Itaipu (hidrelétrica) em telhados solares e demandou zero do governo em investimentos. Hoje são as pessoas, o CPF investindo em energia solar, três em cada quatro sistemas de geração solar no Brasil estão nas casas, 42% de todo investimento feito foi pelo CPF”, disse o executivo, que destaca também a importância dos leilões de energia, mas que por questões conjunturais, têm contratado cada vez menos energia.
O Brasil é um dos países com energia solar mais barata do mundo. Desde o primeiro leilão, em 2014, o preço da solar fotovoltaica caiu 70%, de US$ 100 o megawatt-hora (MWh) para entre US$ 20 e US$ 30 o MWh no último leilão de 2019.
“Nós temos esse recurso abundante (irradiação solar), nós temos totais condições, mas precisa ser estruturado um plano claro de governo, como os EUA lançou, como a China lançou, como a Índia lançou. A gente precisa incorporar essa tecnologia como eixo estratégico do nosso desenvolvimento sustentável, tanto na geração de grandes usinas, como para sociedade poder investir ela própria nessa tecnologia”, avaliou.
Sauaia observou, no entanto, que a energia solar não é uma “bala de prata” e o mundo vai precisar de outras energias, como eólica, maior uso de biomassa e biogás, e das próprias hidrelétricas para alcançar as metas do Acordo de Paris e tentar manter o aquecimento global em 1,5 graus. A eletromobilidade, na avaliação do executivo, será fator fundamental para a descarbonização da economia, assim como o fim ou pelo menos redução dos incentivos governamentais à energia fóssil.
“Os veículos elétricos vão ajudar a reduzir muito as emissões, porque dentro do mundo da energia, os transportes são parte forte da emissão, inclusive no Brasil. O setor de transporte hoje emite mais do que a geração de energia elétrica, por conta da nossa base de energia renovável . Essa virada para a eletromobilidade e para os combustíveis verdes, etanol, biodiesel, de baixa emissão, também vão ter papel estratégico”, destacou.
A expectativa de Sauaia é de que o Brasil finalize em breve a adesão da Aliança Solar Internacional, da qual é signatário desde 2016, o que vai abrir as portas para financiamentos internacionais para o setor, programas de capacitação de pessoas, de pesquisa e desenvolvimento, entre outras vantagens. O processo ainda depende do Congresso Nacional, mas já foi aprovado pela Comissão de Minas e Energia. A entidade quer mobilizar mais de US$ 1 trilhão em investimentos para a implementação de energia solar até 2030.
“É importante o Brasil finalizar esse processo de adesão, que não tem custo nenhum, para que a gente tenha protagonismo nessa entidade governamental multilateral, assim como já aderimos à Agência Internacional de Energia (AIE) e à Irena (Associação Internacional de Energia Renováveis).
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