Para Giorgi, isso comprova quão necessária é a higiene oral adequada e focada em cada paciente. Ele explica que, através da boca, vírus como o Sars-CoV-2, a herpes e uma infinidade de bactérias podem ser transmitidos para a corrente sanguínea e piorar quadros já graves de outras doenças. Amostras recolhidas em pesquisas nos EUA apontam a presença de uma bactéria que só existe na boca, a Porphyromonas gingivalis, no cérebro de pessoas que morreram de covid e de Alzheimer.
“Como ela foi para o cérebro?”, indaga.
Nesta entrevista, Giorgi, que integra a American Academy of Periodontology, a American Dental Association e a New York Academy of Sciences, relata os principais cuidados a serem tomados na saúde bucal e o efeito da pandemia na boca dos brasileiros.
O que a descoberta do Sars-CoV-2 na gengiva de pacientes significa, na prática?
Isso pode acontecer quando a manutenção da higiene da boca não é bem desenvolvida pelo paciente. O pessoal da Medicina achou que o tecido gengival pode ser um alvo da doença e contribuir para a presença do vírus até na saliva. Quando o microbioma oral sofre um desequilíbrio, a boca ou o sistema imunológico não consegue proteger a superfície oral apenas com os dentes. Quando esse microbioma está desequilibrado ocorre o que chamamos de disbiose, que impede uma resposta do próprio sistema imunológico. Daí a importância de cirurgiões dentistas criarem protocolos individuais, de acordo com o paciente.
O que seriam esses protocolos individuais de higiene oral?
Às vezes, com a idade, o paciente perde a motivação para manter a higiene oral. É comum cirurgiões dentistas serem treinados para, nas UTIs, verificar a saúde bucal dos pacientes.
O que a má higiene da boca pode acarretar para o ser humano, além das cáries?
Amostras colhidas em pesquisas nos Estados Unidos apontam a presença de uma bactéria que só existe na boca, a Porphyromonas gingivalis, no cérebro de pessoas que vieram a óbito de covid e de Alzheimer. Como ela foi para o cérebro? Isso provavelmente tem a ver com a saúde bucal do paciente. Não à toa se criou a medicina periodontal, porque hoje já entendemos que as doenças periodontais podem ser uma agravação para todo o corpo. O dentista passou a ter uma certa importância na saúde geral do ser humano. As doenças periodontais estão associadas a enfermidades como doença coronariana, hepática não alcoólica, doença renal, distúrbios pulmonares e a esclerose, além de contribuírem para cânceres da cavidade oral e outras inflamações. Por isso é importante manter o microbioma oral sempre equilibrado.
Quais os principais sinais de um problema na saúde bucal?
O mais importante é ser aconselhado por um profissional. A doença gengival é perigosa em idosos – mais de 70% dos adultos com 65 anos ou mais têm periodontite, que afeta os ossos e enfraquece as fibras colares que unem dentes ao osso. Isso provoca o enfraquecimento do sistema imunológico.
Além da escovação, o que pode ser feito para manter a saúde oral em dia?
Antes de escovar os dentes, o interessante é fazer uma limpeza prévia, com fio dental e limpadores interdentais. Só com esse procedimento você já evita 70% das doenças periodontais. Mas a escovação e o fio dental tradicionais podem não ser suficientes para afastar as doenças da gengiva e da boca. Outra coisa importante é escovar a língua, principalmente o dorso. E evitar o compartilhamento de objetos com pessoas contaminadas.
Por quanto tempo se deve tomar esses cuidados?
Essas medidas devem ser levadas para o restante da vida. A qualquer momento, as pessoas podem ser infectadas. Também é importante a forma correta de cuidar de escovas e higienizadores. O ideal é mantê-los imersos em água e enxaguante bucal, com clorexidina, que são bactericidas. Nosso mercado ainda não tem isso, mas nos EUA existem pastilhas que você tritura na boca após a escovação matinal e elas liberam bactérias vivas e “boas”, os probióticos orais.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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