Cirurgia robótica: uma realidade para a oncologia

Tecnologia é benéfica para o médico, que terá melhor visualização dos órgãos e muito mais opções de movimentos, e também para o paciente, já que a recuperação é mais rápida

Várias especialidades médicas atualmente utilizam a cirurgia robótica como alternativa para cirurgias convencionais. Com apenas algumas pequenas incisões, o cirurgião introduz equipamentos como pinças, tesouras e câmera que serão movimentadas pelo robô com o comando do cirurgião através de um console, o que proporciona maior precisão durante o procedimento.

Na área da cirurgia oncológica o método também já é uma realidade, com diversos benefícios para os pacientes e, apesar de ainda não estar disponível em Pato Branco, o serviço já é oferecido por médicos habilitados, sendo a chegada de um equipamento robótico uma expectativa não muito distante.

Conforme o médico oncologista André Luiz Bini, a rotina da cirurgia é basicamente a mesma que das outras especialidades. “O que muda nesse tipo de procedimento é que existe um robô que vai fazer os movimentos transmitidos pelo médico no paciente. Através de um console com imagens em 3D o médico opera os instrumentos do robô”, explica. Além disso, a cirurgia robótica é considerada minimamente invasiva, sendo uma evolução da cirurgia laparoscópica.

Dentre as principais vantagens da técnica para o paciente destacam-se a rápida recuperação e a segurança. Já para os cirurgiões, explica Dr. Bini, a melhor visualização dos órgãos devido ao aumento de 10 a 15 vezes e imagens tridimensionais, bem como a enorme possibilidade de movimentos abrangendo circunferências acima de 520 graus demonstram a superioridade do método. Como desvantagem observa-se ainda um custo elevado para a instalação do equipamento, o que resulta em elevação do custo das cirurgias.

Em relação ao tempo em centro cirúrgico, o médico esclarece que a robótica é um pouco mais demorada devido ao aumento da complexidade e maior número de itens necessários, exigindo uma melhor preparação do paciente para tornar possível a instalação do robô.

Indicações

O médico especialista conta que o robô pode atuar em cavidades como a abdominal e a torácica, que anteriormente eram acessadas de forma aberta. É cada vez menos necessário abrir o abdome ou o tórax com um corte grande, ao invés disto são feitos pequenos furos por onde se introduzem os instrumentos robóticos. “A técnica pode ser utilizada para qualquer órgão intra-abdominal ou intra-torácico”, comenta. Ele acrescenta ainda que outras especialidades cirúrgicas também vem utilizando a robótica, sendo que a cirurgia torácica, cirurgia cardíaca, urologia, cirurgia do aparelho digestivo e ginecologia estão entre e as principais.

A robótica pode ser utilizada tanto para tratamento quanto para diagnóstico nos casos mais difíceis ou em tumores de localização interna com difícil acesso aos métodos tradicionais. Sempre que possível o diagnóstico passa pela etapa da biopsia, e para isso pode ser indicada retirada parcial ou total do tumor, de acordo com cada caso. “Vamos pensar em tumor de pulmão, por exemplo. Se ele estiver próximo aos principais canais respiratórios, o diagnóstico pode ser feito antes do tratamento através da broncoscopia, um exame semelhante a endoscopia digestiva mas direcionado para o pulmão. Após o diagnóstico são feitos exames para conhecer o real estágio da doença para, somente depois, indicar o tratamento, que pode ser cirúrgico ou não. Se o caso for mais avançado, o tratamento poderá ser feito quimioterapia, radioterapia ou ambos, dependendo de cada caso”, avalia o oncologista.

Outro exemplo citado por Dr. Bini é quando não se consegue um diagnóstico prévio, como em um paciente que tem um tumor pulmonar periférico mas que não está chegando à parede torácica, onde seria possível ter acesso por agulha para fazer a investigação. “Nesse caso a indicação é de realizar primeiro a cirurgia, com objetivo de diagnóstico e também de tratamento”, observa. Aqui novamente pode ser indicada a cirurgia robótica para maior conforto e segurança para o paciente.

Todas essas indicações avaliam, em primeiro lugar, uma classificação geral de risco. Usualmente, se o paciente pode fazer uma cirurgia aberta com anestesia geral sem contraindicações, a cirurgia com o robô também poderá ser realizada e com menor risco, já que ela é minimamente invasiva.

Algumas cirurgias em especial ganharam grande aprimoramento com a modalidade robótica, onde anteriormente o acesso cirúrgico tradicional enfrentava maior dificuldade técnica. Um bom exemplo disso é a cirurgia de próstata que devido à localização do órgão no fundo da pelve e abaixo da bexiga, o acesso pela cirurgia aberta é mais tátil do que visual, e mesmo para a cirurgia laparoscópica que não proporciona grandes angulações, neste caso a cirurgia robótica tem se tornado “padrão ouro” na escolha do procedimento, inclusive obtendo melhores resultados que as técnicas anteriores.

O tempo de recuperação do paciente também é uma vantagem da robótica e depende da cirurgia a ser feita. Em cirurgias com a abertura abdominal ampla, a convalescença que levaria de 45 a 60 dias pode ser reduzida para em torno de 15 a 30 dias no caso da cirurgia robótica.

As contraindicações são, de forma geral, as mesmas de quem não poderia fazer uma cirurgia aberta, ou em alguns casos quando não é aconselhável submeter o paciente à anestesia geral, podendo realizar outro tipo de anestesia para cirurgia convencional.

Doença silenciosa

O especialista conta que, entre os cânceres, são mais de 200 tipos de tumores, cada qual com comportamento diferente e por isso também os tratamentos são diferentes. Por ser uma área ampla da medicina, existem especialidades médicas que atuam em conjunto como oncologia clínica, a cirurgia oncológica, a hematologia, a radioterapia e diversas outras. As áreas de enfermagem, nutrição, farmácia, psicologia, odontologia e fisioterapia acrescentam ainda cuidados essenciais ao tratamento do câncer de forma geral.

O diagnóstico do câncer nem sempre é facilmente obtido com apenas um exame, e há inúmeros casos em que se descobre a doença já em uma fase mais avançada, onde a expectativa de cura é bastante reduzida.

Devido à gravidade que a doença normalmente apresenta, com um desfecho inevitavelmente fatal quando não tratada a tempo, recomenda-se que a prevenção seja sempre efetiva para que tenhamos uma melhor qualidade de vida e possamos reduzir o risco de desenvolver algum tipo de neoplasia.

Estamos falando da prevenção primária, que tem por objetivo tentar evitar o surgimento de uma doença, neste caso, o câncer. Há cinco pontos principais, sendo a alimentação saudável, atividade física regular, não fumar, não consumir bebidas alcoólicas ou beber com moderação e o bem-estar emocional e saúde mental são fundamentais para uma boa qualidade de vida.

Já a prevenção secundária diz respeito justamente ao diagnóstico precoce das doenças. Através de exames de rastreamento que devem ser realizados rotineiramente, de acordo com a idade, o histórico familiar e os fatores de risco de cada pessoa. Hoje em dia não cabe mais a frase “não vou procurar a doença porque quem procura acha”, porque em se tratando de câncer, quanto mais cedo a doença for descoberta, maior a possibilidade de cura, e este diagnóstico precoce muitas vezes só é atingido quando descoberto através dos exames de rotina, antes mesmo de manifestar qualquer sintoma. Quanto mais tardio o diagnóstico, também mais reduzida é a possibilidade de curar o câncer. Ao não fazer exames de rotina você pode estar desperdiçando uma oportunidade de ficar bem.

Salienta-se ainda a importância de valorizar os sintomas, pois sintomas que persiste por mais de 2 a 3 semanas podem ser o indício de um problema mais grave. Para Dr. Bini, é importante ligar o alerta no caso de uma dor que se prolonga por mais de três a quatro semanas, assim como tosses persistentes, diarreia que não cessa, presença de sangue nas fezes, sangue na urina, entre outros.

Quem tem um histórico familiar de câncer também precisa estar mais atento, já que os fatores genéticos podem influenciar no surgimento da doença. Mesmo que a maioria dos tumores não apresentem essa característica hereditária, cerca de 40% das neoplasias podem “passar” para os descendentes.

André Luiz Bini é médico oncologista em Pato Branco – CRM 15231 – RQE 10977

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