Curiosamente, pai e filho estrearam na F-1 com a mesma idade: 22 anos. O heptacampeão mundial começou na categoria em 1991. Ele entrou na metade do campeonato e correu em apenas seis das 16 corridas daquele ano. Com quatro pontos, foi o 14º colocado geral entre 41 pilotos – um deles era Ayrton Senna, o campeão da temporada.
Em 2021, Mick já disputou mais provas que o pai em 91. Após oito etapas, zero ponto. Figura no 18º e antepenúltimo lugar. Se a comparação envolver o primeiro ano completo de Michael na F-1, os números do pai se destacam mais ainda. Em 92, ele terminou em terceiro no campeonato de 16 provas, inclusive com uma vitória.
Para os especialistas ouvidos pelo Estadão, essa disparidade tem relação direta com a forma como cada piloto entrou na F-1. Michael fez sua primeira corrida logo pela Jordan, equipe mediana da época. Em seguida, foi para a Benetton, pela qual ganhou seus dois primeiros títulos, em 1994 e 95. Mick começou pela Haas, considerada a pior equipe do grid atualmente.
“Não dá para comparar. A Benetton era o que tinha de bom. Não era a primeira, mas devia ser a segunda. Seria melhor que a Ferrari hoje em dia, como se fosse a Red Bull do ano passado. O Michael nunca teve carro ruim”, afirma Tarso Marques, que disputou 24 corridas na F-1 entre 1996 e 2001.
“O carro do Mick é muito desequilibrado, nem dá para guiar direito. Aí fica difícil dizer se ele está indo bem ou não. O fato é que o Michael entrou pela porta da frente na F-1. E o filho entrou pela porta de trás”, diz Luciano Burti, outro contemporâneo do Schumacher heptacampeão. “Ter a sorte ao seu lado também é fundamental na F-1.”
Os dois ex-pilotos da categoria são unânimes ao afirmar que Mick tem talento, mas não mostra o potencial de um campeão da categoria. “Posso dizer que ele é talentoso, mas não é brilhante com outros da sua geração, como o George Russell e o Lando Norris. Também são muito jovens e logo de cara mostraram uma velocidade diferente. Ainda não vi nada no Mick que possa dizer que é brilhante”, avalia Burti. “Ele é um piloto normal. Se eu fosse contratar um piloto, contrataria outro. Não é fenômeno. Se fosse, a Ferrari já teria contratado ele”, opina Marques.
Mick chegou à F-1 após ser campeão da F-2, principal campeonato de acesso à categoria mais famosa do automobilismo mundial. “Ele tinha o melhor carro do grid. Mas quando começou a andar na frente, estava andando bem direitinho. Mesmo com o melhor carro, fazer pole e ganhar corrida não é para qualquer um. Parecia um pouco forçado quando ele entrou na F-2, por ser o filho do Schumacher, mas ele mostrou que tem competência”, diz Burti.
O ex-piloto da Jaguar não descarta que Mick, integrante da Academia da Ferrari, possa vir a ser campeão no futuro. “É do interesse da F-1 ter um cara como ele campeão. Então, a Ferrari poderia se empenhar em treiná-lo e dar o melhor equipamento. Esse ‘vento a favor’ ajuda muito. Se tiver a ferramenta certa, pode vencer.”
O TALENTO DO PAI – Adversário de Michael nas pistas, Marques lembra das características que tornaram o alemão um dos maiores recordistas da categoria. “Acho que foi o primeiro a levar a preparação física muito a sério. Ele era muito bem preparado. O Senna e outros acabavam as corridas sem conseguir ficar em pé. Andar uma corrida inteira no limite físico é coisa para poucos”, aponta.
O ex-piloto da Minardi vê Schumacher pai como um dos mais completos que já viu. “Ele juntou uma combinação de coisas. Era super inteligente nas pistas: aprendia rápido e cometia poucos erros. Ia bem em todos os fundamentos em todas pistas, com chuva ou no seco. E sabia comandar muito bem uma equipe. Todos trabalhavam em torno dele. E isso era mérito dele”, afirma.
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