Impossível passar pelas proximidades do número 520 da rua Tapajós de Pato Branco e não notar. O que antes era um muro branco, nas últimas semanas vem ganhando cor, por meio da expressão artística de Clóvis de Melo.
Vizinho da agência do INSS, ele afirma “sempre achei tristonho”, ao mesmo tempo que sempre esteve pedindo aos responsáveis do lugar para dar mais vida. E assim, neste ano Melo teve a autorização para pintar o mudo da agência da Previdência Social e assim, tentar dar mais cor para que precisa esperar na fila.
“Pretendo fazer até o final do muro, e na entrada da agência fazer alguns coloridos”, revela o artista que até então vem utilizando apenas o azul em seus traços, cor que para ele transmite paz, ao completa, “talvez se fosse todo colorido, não chamasse tanto a atenção.”
Assim, de segunda a sexta-feira, após o trabalho Melo cumpre uma rotina de duas horas, que podem variar; do trabalho silencioso e de imersão total na sua grande tela, a passagem de alguém que lhe elogia e também faz comentários que no dia seguinte podem estar compondo a obra de arte.
Representação
Melo é categórico em afirmar que não há no muro uma representação de Pato Branco, porém, algumas semelhanças em determinados pontos podem ser vistas, uma vez que ele vem pintando cenas de interior, com casas que lembram as moradias de descentes de italianos, o que é muito habitual, não apenas no município, mas na região como um todo.
“Enquanto vou pintando, vou criando”, diz ele ao revelar que inesperadamente uma sugestão de alguém que admira a obra, pode aparecer no painel. “De repente chega uma pessoa a fala, ‘por que você não pinta uma ponte’, e acaba saindo a ponte.”
E em falando em admiração da obra, Melo afirma que muitas vezes ele tem a sensação de estar atrapalhando, pelo fato de a sua mais nova tela, ser em uma área de semáforo, e que muitas vezes as pessoas param. “Eles param, olham, tem elogio, uma palavra de incentivo. E essa é a melhor parte.”
O pedido do artista é que todos cuidem do muro. “Claro que eu moro aqui do lado, e vou tentar dar uma conservada, mas quero que eles [a população] cuide e aproveite bem.”
Técnica para realização da pintura
Um olhar mais de perto de obra de Melo ainda em fase inicial é possível observar que antes mesmo da tinta ganhar seu lugar, traços proporcionais delimitam cada cena.
“Tem que se desligar do mundo e entrar ali [no trabalho que está fazendo], se imaginar ali, como se estivesse brincando”, diz completando “quando se está pintando eu entendo que tudo o que você tem na memória o cérebro joga para fora, por isso que não tem uma coisa (…) [programada], pintou pintou, não tem regra nenhuma.”
No entanto, não são só com pinturas que Melo se manifesta artisticamente em suas horas de folga. Ao longo da vida, ele se especializou em artes com isopor, fazendo personagens, castelos, cenários de baile. “A pessoa que desenha, sabe fazer muito do resto [manifestações artísticas manuais].
Conhecimento
“Tudo o que eu sei hoje, aprendi sozinho. Não tenho nenhuma formação técnica”, afirma Melo completando que não pode dizer como e quando o gosto pelo desejo e pintura surgiram em sua vida. “Tenho cadernos guardados de quando tinha 6 anos e já tinha desenhos neles. Então já se nasce com aquilo, talvez não consiga transmitir tão facilmente, mas desde criança tem a tendência para desenhar, fazer letras (…).”
Assim, as manifestações artísticas que sempre foram um momento de lazer para Melo, no momento atual ganham mais visibilidade. “Com os recursos de hoje, através da internet, talvez se torne mais conhecido [o trabalho], mas são coisa que a vida inteira me acompanharam.”