Dirceu Antonio Ruaro
Amigos, no texto da semana que passou, abordei questões relacionadas à mudanças e desafios na pré-adolescência numa tentativa de dialogar com pais e educadores preocupados com as mudanças que ocorrem a partir de certa idade nas crianças e se intensificam a partir dos 11 anos, (muitos até antes).
Enfatizei que é preciso continuar mostrando aos pré-adolescentes que regras comportamentais continuam existindo e que, nessa fase da vida deles, precisam aprender que essas regras se intensificam ao mesmo tempo que se diversificam.
Isso é importante para que eles compreendam que a vida em sociedade, à medida que vai se alastrando, também, aumentando em complexidade. Pais e educadores precisam estar muito bem preparados para os desafios que se apresentarão daqui em diante.
É comum haver muito questionamento sobre o que seja uma sociedade democrática, o papel das regras nas famílias, na escola, na sociedade de modo em geral.
Certamente os pais e educadores terão pela frente dia menos dia, questionamentos sobre o conceito de sociedade democrática e o porquê, apesar das boas intenções das regras, parece que a sociedade não é exatamente justa e democrática.
Obviamente que o modelo de sociedade que criamos é posto em dúvida pois, mesmo os pré-adolescentes, sabendo das regras de convivência, não conseguem respeitá-las adequadamente.
Observações como a existência da luta pelo poder se sobrepõe ao bem comum, fazendo com que tenhamos uma sociedade hipócrita e falsa é muito comum nessa fase.
Sabemos que a grande maioria das famílias, desde a infância tenta viver e mostrar a relação entre regras morais e o agir moral. Ora, se a sociedade prega que não se pode “roubar” e diante de grandes roubos, a nação se cala ou, de outra forma, justifica o erro, como será que se dá a compreensão dessa relação na cabeça dos pré-adolescentes jovens?
Lembro aqui de certa vez, numa época de campanha eleitoral, que viajávamos pelo estado de São Paulo, e era muito comum a frase: “rouba, mas faz”, na defesa de um candidato ao governo do estado.
Como se justifica isso para pessoas em formação e desenvolvimento de caráter?
Como se pode cobrar dessas “crianças” o que é permitido e o que o não é permitido fazer?
Como insistir que a sociedade precisa ter um sistema de normas coerente e respeitoso com os seus cidadãos, sem cair no vazio do discurso de que “todos são iguais perante a Constituição”?
Como é que “essas crianças” podem agir no futuro, quando vivenciam, no presente, o total desrespeito às leis (que são normas e regras) criadas para dar sentido à vida em comunidade e ao mesmo tempo organizar e fazer fluir a sociedade?
Questões como essas povoam o mundo de pais, educadores e pré-adolescentes que, observam, entre decepcionados e incrédulos que vale mesmo na sociedade é o ditado popular “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”.
Que necessitamos de regras de comportamento social, não há dúvidas, mas a questão é complexa quando pensamos que nossas crianças e adolescentes precisam conhecer e, aprender, a respeitar as regras a fim de que possam exercer sua autonomia crítica em relação aos acontecimentos e vivências sociais, entendendo quando há violação de princípios éticos e morais fundamentais (lembro novamente do “rouba, mas faz”).
Para pais e educadores é importante entender como, ao longo do desenvolvimento os indivíduos (especialmente crianças e pré-adolescentes) aprendem a compreender os princípios de justiça que estão na base das regras sociais. Mais que isso, aprendem a compreender os contextos sociais dos acontecimentos e das possíveis violação de regras, tentando entender abusos e injustiças cometidos por indivíduos que se julgam acima das regras e normas da sua sociedade.
Por isso, para pais e educadores é importante entender que o desenvolvimento moral é a descoberta dos princípios de justiça que se dá fortemente na pré-adolescência e na adolescência.
Logicamente que, nessa fase, além dos conflitos da vivência das regras por parte dos outros, há os conflitos do próprio desempenho pessoal, da construção de suas regras pessoais e compreensão da vivência comunitária, especialmente na família e na escola.
Nessa fase vai se consolidando a aprendizagem sobre o próprio comportamento moral e ético com base nas experiências vividas (criança, irmão, aluno, amigo, pai, mãe…) conscientizando-se das expectativas de seu círculo social estendendo a importância das relações baseadas na confiança, no respeito, na gratidão, pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.
Doutor em Educação pela UNICAMP, Psicopedagogo Clínico-Institucional, Pró-Reitor Acadêmico UNIMATER