Por Thelma Miguel
Ser avó muda nossa perspectiva de mundo e de nós mesmas. Passamos a visualizar o tempo com mais atenção torcendo para ele não se apressar. Queremos aproveitar todos os segundos. Ser avó, ao contrário do que muitos pensam, não nos envelhece, pelo contrário, rejuvenesce!
O sentimento de acolhimento e a ternura presente nos olhares das crianças nos faz sentir uma força esquecida em meio ao cotidiano. Este estado mágico é algo que nunca havia vivido até ser avó e hoje sei que apenas as vovós sabem do que estou falando.
Ser avó, nem sempre é fácil, há de se ter sabedoria e cautela. Nossos netos não são nossos filhos. As responsabilidades e todas as decisões sobre as crianças são dos pais. Este precisa ser um exercício diário das avós.
Aconselho, às vovós mais ansiosas, não sufocarem a nova família com conselhos exagerados na tentativa de suprir todas as necessidades. Não é isso que as novas mamães e papais precisam. Menos ainda os netos.
Algumas dicas são sempre válidas. Algumas já sabia, outras aprendi na prática. O momento do nascimento da criança é deles, esteja presente se solicitada. A vontade é de ficar grudadinha, mas tente se segurar.
A família necessita de uma rede de apoio, isto é certo, mas cuidado com as invasões. Não tire da mãe ou do pai o prazer de dar o primeiro banho, por exemplo. Caso eles estejam inseguros, apoie e transmita segurança, mas não os substitua.
Uma mãozinha na organização da casa e na alimentação pode ser bem-vinda quando solicitada. Nada de sair invadindo o espaço alheio. Ofereça ajuda para cuidar do bebê entre as mamadas permitindo que a nova mamãe possa dormir.
Pergunte sempre como proceder com as crianças. Quase tudo que você aprendeu e fez quando foi mãe está ultrapassado. As condutas médicas e relativas à introdução alimentar mudaram totalmente.
Nunca dê chupeta, mamadeira, chuquinha ou qualquer outra coisa escondida da mãe. Importante frisar também que não existe leite fraco, não atormente a nova mamãe com crendices.
Não tenha vergonha de nada. Sente-se no chão, cante cantigas, bata palmas, sorria e gargalhe com todas as forças. Compre livros, leia ou invente histórias para os pequenos. Dê cambalhotas se conseguir. Seja criança outra vez!
Entre amadurecer e virar avó, descobri uma nova mulher dentro de mim, cheia de energia e planos. Renasci e fiz da escrita uma nova profissão. Sonho com o dia em que, adultos, meus netos conhecerão a mulher que fui. Estarei eternizada nos versos e textos que escrevi.
Ah, uma última dica… Deixe a mulher que existe em você fluir com todas as suas nuances. Não é porque você se tornou avó que virou um ser assexuado e sem vida pessoal. Empodere-se e viva com plenitude e alegria!
*Thelma Miguel é médica, escritora e poetisa carioca e acaba de lançar a coletânea de poemas O Silêncio e o Grito.