Nos últimos dias, a internet vivenciou um pesado ataque da geração Z, ou seja, os nascidos no início dos anos 2000 em diante, aos millennials, geração de pessoas que nasceu entre 1981 a 1996, quando os mais jovens apontaram tudo o que acham “cringe” nos mais velhos que, coitados, não sabiam nem o que o termo significava. O resultado foi uma chuva de memes.
Tomar café da manhã, gostar de café, assistir a série Friends, ser fã de Harry Potter, usar calça Skinny, ter contatinhos, pagar boletos, beber litrão, dividir o cabelo de lado, usar o Facebook, tagear foto com hashtag, assistir jornal, responder com emoji, calçar sapatilha, ter foto real em perfil de rede social, achar que a abreviação “fds” significa fim de semana, usar unha francesinha, ser rockeiro, tudo isso, para os mais jovens, é cringe.
Mas o que é “cringe”, afinal?
Depende da sua idade. Cringe pode ser defino como “uó” se você tem de 25 a 30 anos, “mico” se você tem de 30 a 35 anos, mas, em resumo, é algo constrangedor, vergonho, ultrapassado. É o que você sentia pelo comportamento dos seus pais quando era adolescente.
Por que ser cringe é tão ruim para os millennials?
Os millennials são as pessoas que pegaram a transição entre o mundo analógico e digital quando ainda eram jovens. Eles viveram o “boom” da internet na adolescência, por isso tem uma certa familiaridade com esse universo.
Você deve estar pensando: se eles estavam aqui quando tudo isso era mato, deveriam dominar esse ambiente, não é mesmo?
Não! Porque quando se fala em avanço tecnológico pós-internet é tudo muito rápido, e acompanhar a velocidade de mudança só é possível para quem já nasceu dentro dessa tecnologia. Quem precisou se adaptar consegue entender, mas não ser protagonista, mesmo que se esforce muito.
A explicação para essa inaptidão é a forma como o cérebro se desenvolveu na infância, como aprendeu a raciocinar. As gerações mais novas conseguem processar, mesmo que superficialmente, várias coisas ao mesmo tempo, com muito mais agilidade. Eles ouvem música, escrevem, assistem e conversam fisicamente e online sem que uma coisa atrapalhe a outra.
É importante entender que os Millennials são uma geração formada de pessoas criadas por pais da Geração X, que foram jovens nos loucos anos 70 e 80, sem internet, com muita liberdade sexual e drogas. Foi a primeira vez que não era socialmente obrigatório casar, ter quatro filhos, casa própria e estabilidade financeira antes dos 25 anos.
O motivo dessa flexibilidade social da geração X é meramente econômico: a economia se tornou mais estável com os Baby Boomers, geração anterior, dos nascidos entre os anos de 1940 a 1960, no “boom” econômico americano. Eles possibilitaram que os filhos “alongassem” a sua adolescência.
Os avanços tecnológicos também elevaram a longevidade a outros patamares, e a vida prolongou-se com qualidade por mais de três décadas. Assim, uma mulher que se unia em matrimônio e era mãe aos 15 anos, hoje junta as escovas de dente, caso seja sua vontade, aos 40, e é mãe aos 50, caso seja a sua vontade, mesmo que não tenha um(a) companheiro(a). Sim, o mundo mudou. Ainda bem!
E, diante de tantas mudanças, a gente, a partir da geração X (nascidos entre 1960 e 1980), é incentivado a se achar super descolado. #sqn (e essa hashtag cringe, o que a gente faz com ela?)
Por que os millennials serem cringe é tão bom para a geração Z?
A geração Z é formada por adolescentes, certo? Invariavelmente filhos de Millennials ou de X, que são pessoas que se acham descoladas e que tomam café da manhã, assistiram Friends, são fãs de Harry Potter, usam calça Skinny, têm/tiveram contatinhos, pagam boletos, bebem litrão, dividem o cabelo de lado, usam o Facebook, tageam foto com hashtag, assistem jornal, respondem com emoji, calçam sapatilha, têm foto real em perfil de rede social, acham que a abreviação “fds” significa fim de semana, usaram (pelamordedeus que ainda usam isso!) unha francesinha, são rockeiros.
Conforme o psicanalista Bruno Peres de Oliveira, na busca por uma identidade, o adolescente nega tudo aquilo que vem dos pais. Na outra via, fica difícil aos pais acompanhar as transformações, que estão cada vez mais rápidas, acompanhando a velocidade do digital.
“A questão é que a distância entre os pais e o adolescente é necessária. E para haver distanciamento, é preciso que exista o abismo entre gerações”, define. “Ou seja, ser cringe é extremamente necessário para o desenvolvimento natural da adolescência do filho na transição para a vida adulta”.
Sendo assim, siga o conselho do profissional: se você quer que seu filho seja adulto algum dia, seja cringe. Pelo bem do mundo. Nenhuma adolescência pode durar para sempre.