O dia era 8 de março de 1960 e Emilia Adoroti Labres tinha acabado de concluir o antigo colegial, aos 19 anos. Embora já tivesse trabalhado em uma loja, foi naquele dia, quando entrou no Departamento de Obras do Estado, que sua vida profissional começou de fato. Tornava-se a partir daquele momento uma servidora pública do Paraná, função que ainda se orgulha em informar mesmo após 63 anos na ativa.
O Dia Internacional das Mulheres, celebrado em 8 de março, só foi oficializado pela Organização das Nações Unidas em 1970, dez anos depois, mas quiseram os acasos da vida que fosse a data que marcaria o início da jornada de Emilia na administração pública.
De lá para cá, já viu 22 governadores ocuparem o posto e se aposentou na Secretaria de Administração no final da década de 80. “Eu entreguei o meu pedido de aposentadoria e o diretor na época, brincando, disse que não aceitava. Voltou um tempo depois com a proposta que eu continuasse. Eu aceitei. Não fiquei e nunca quis ficar um dia parada”, conta.
“Tenho uma satisfação enorme em dizer que sou servidora pública. Não se fala muito, mas é o servidor que faz a máquina do Estado funcionar. Nesses anos todos fui me adaptando a todas as novidades e seguirei me adaptando no que for preciso”, completa.
“Eu me tornei servidora em uma época que o destino da mulher era ser dona de casa, esposa e mãe. Eu fui tudo isso, mas também priorizei o meu lado profissional. No começo éramos poucas, mas isso tem mudado cada vez mais. Eu acredito nas mulheres. E você sabe por quê? Porque mulher é capaz de tudo”, enfatiza.
Com 82 anos, Emilia atua na Procuradoria-Geral do Estado e os colegas são unânimes. “A Emilia? Primeira a chegar e a pedir novas demandas. Ela quer e gosta de trabalhar”, diz a chefe de Gabinete da PGE, Carolina Schussel. “Impressionante como está sempre disposta e sorrindo”, afirma a colega Anna Lucia Kus, que há 26 anos trabalha lado a lado com Emilia.
A opinião da servidora é compartilhada pela procuradora-geral do Estado, Leticia Ferreira da Silva, atual gestora da Emilia. “Para nós e, particularmente para mim, ver a Emilia empolgada, dedicada e sempre disposta, acaba sendo um combustível. Mais um exemplo da competência e resiliência das mulheres”, salienta.
Mãe de dois filhos e avó de três netas, Emilia é modesta ao falar que “talvez” seja um exemplo para a família e para outras mulheres. Mas o “talvez” da servidora é uma certeza para a neta Thaysa Labres. “Ela é meu maior orgulho e inspiração, principalmente por ser mulher, ter passado por tantas coisas e trabalhar com tanto amor. Hoje a equipe da Procuradoria é como a segunda família da minha avó e eu só tenho a agradecer, pois é um trabalho que a faz muito feliz e que ela se orgulha em dividir conosco”, afirma.
E o trabalho ainda promete ser longo. Ao ser questionada se pensa em uma nova data para parar, ela mal termina de ouvir a pergunta e já dispara com um sorriso de canto: “Não”.
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