Prosseguimos a catequese do Papa Francisco, sobre o “Pai-Nosso”, chegando hoje à penúltima invocação: “Não nos deixeis cair em tentação” (Mt 6,13). O “Pai-Nosso” começa de maneira serena: faz-nos desejar que o grande projeto de Deus se possa realizar no meio de nós. Depois lança um olhar à vida, e faz-nos pedir aquilo de que precisamos todos os dias: o “pão de cada dia”. Em seguida, a oração concentra-se nas nossas relações interpessoais, muitas vezes poluídas pelo egoísmo: pedimos o perdão e comprometemo-nos a concedê-lo. Mas é com esta última invocação que o nosso diálogo com o Pai celeste entra, por assim dizer, vai ao cerne do drama, ou seja, ao âmbito do confronto entre a nossa liberdade e as ciladas do maligno.
Não esqueçamos: o “Pai-Nosso” começa com “Pai”. E um pai não arma ciladas aos filhos. Os cristãos não têm que lidar com um Deus invejoso, em competição com o homem, ou que se diverte a pô-lo à prova. Estas são as imagens de tantas divindades pagãs. O Pai não é o autor do mal, a nenhum filho que pede um peixe ele dá uma serpente (cf. Lc 11,11), como ensina Jesus, e quando o mal se insinua na vida do homem, combate ao seu lado, para que possa ser libertado. Um Deus que combate sempre por nós, não contra nós. É o Pai! É neste sentido que rezamos o “Pai-Nosso”.
Se formos tentados a praticar o mal, negando a fraternidade com os outros e desejando um poder absoluto sobre tudo e sobre todos, Jesus já combateu por nós esta tentação: confirmam-no as primeiras páginas dos Evangelhos. Logo depois de ter recebido o batismo, pelas mãos de João, no meio da multidão dos pecadores, Jesus retira-se no deserto e é tentado por Satanás. Começa assim a vida pública de Jesus, com as tentações que vêm de Satanás. Satanás estava presente. Muitas pessoas dizem: “mas por que falar do diabo que é uma coisa antiga? O diabo não existe”. Repara no que te ensina o Evangelho: Jesus confrontou-se com o diabo, foi tentado por Satanás. Mas Jesus afasta qualquer tentação e sai vitorioso. O Evangelho de Mateus tem um aspecto interessante que encerra o duelo entre Jesus e o Inimigo: “Então, o diabo deixou-o e chegaram os anjos e serviram-no” (4,11).
Enquanto dormimos, Deus nos cuida!
Mas também no tempo da provação suprema Deus não nos deixa sozinhos. Quando Jesus se retira para rezar no Getsêmani, o seu coração é invadido por uma angústia indescritível, assim diz aos discípulos, e Ele experimenta a solidão e o abandono. Sozinho, com a responsabilidade de todos os pecados do mundo sobre os ombros; sozinho, com uma angústia inenarrável. A provação é tão dilacerante que acontece algo inesperado. Jesus nunca mendiga amor para si mesmo, contudo naquela noite sente a sua alma triste até à morte, e então pede a proximidade dos seus amigos: “ficai aqui e vigiai comigo” (Mt 26,38).
Como sabemos, os discípulos, sobrecarregados por um entorpecimento causado pelo medo, adormeceram. No tempo da agonia, Deus pede ao homem que não o abandone e, ao contrário, o homem dorme. No tempo em que o homem conhece a sua provação, Deus vigia. Nos momentos mais difíceis da nossa vida, nos momentos de mais sofrimento, nos momentos mais angustiantes, Deus vigia conosco, Deus luta conosco, está sempre próximo de nós. Porquê? Porque é Pai. Começamos assim a oração: “Pai-Nosso”. E um pai não abandona os seus filhos. Aquela noite de dor e de luta são para Jesus o último selo da Encarnação: Deus desce para se encontrar conosco nos nossos abismos e nas aflições que constelam a história.
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É o nosso conforto na hora da provação: saber que aquele vale, desde quando Jesus o atravessou, já não está desolado, mas está abençoado pela presença do Filho de Deus. Ele nunca nos abandonará! Mas quando chegar para nós este tempo, então podemos rezar: “Tu és o Pai. Mostra-nos que Cristo já carregou sobre si também o peso daquela cruz. Mostra-nos que Jesus nos chama a carregá-la com Ele, abandonando-nos confiantes ao teu amor de Pai”.
Dom Edgar Xavier Ertl – Diocese de Palmas-Francisco Beltrão
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