Há silêncios que incomodam e ruídos que fazem bem. Há barulhos irritantes e silêncios desejados. O doente precisa de silêncio para dormir. A senhora idosa, que vive sozinha, vibra de alegria quando o celular chama ou quando ela escuta passos de gente que vai visitá-la.
Ah, mas que dizer desses celulares e seus originalíssimos e, por vezes, irritantes toques que incomodam? Há pessoas que falam em alta voz, em conversas intermináveis, completamente desinteressantes, em salas de espera de médicos, nos aeroportos, nos ônibus… Fala o daqui e o de lá. Um diz: “Estou quase chegando”. O outro liga por ligar. Um terceiro: “Oi, amor, estou chegando, daqui em breve a gente se vê. Não aguento de saudade”. E as conversas duram e perduram, nos mais variados ambientes, dezenas de minutos a fio. Dentro em breve, ao lado da proibição de fumar, deverá existir uma placa: “Proibido falar ao celular”.
Verdade que há sons, também de celulares, desejados e esperados. Por exemplo, a mãe que está afastada ou cujo filho desapareceu ou foi sequestrado. Ela vive com o celular por perto. Um dia soa o aparelhinho e ela ouve a voz do filho: “Mãe, estou no pedaço. Não aconteceu nada de ruim. Estou chegando. Prepare um bife à milanesa e uma boa macarronada”. Bendito toque de telefone!
Há outros ruídos ligeiramente irritantes, como o barulho penetrante de sacolas de plástico. Na celebração da Missa alguém fica remexendo a sacola para encontrar uma caneta ou um caderno de endereços. E o pior é que demora até encontrá-lo. Enquanto isso, haja paciência!
Por outro lado, há ruídos que ficam para sempre em nossa memória e, quando os recordamos, eles nos fazem bem: a chuva de pedras que caia no telhado de zinco da casa da infância, a cantoria do vendedor de picolés, a mãe nos chamando para almoçar, o sino da capelinha chamando para a missa. Que saudade!
Há essa criança pirracenta, chorona, teimosa que esbraveja e golpeia os pais, que grita na sala de espera do médico ou do dentista. E os pais nos deixam padecer ingloriamente. Não fazem nada. Há esse pigarro ou essa tosse do homem que sofre de asma e que sentou na primeira fila do salão onde estava sendo realizada a cerimônia de formatura de seu neto.
De outro lado, vem à mente esse suave ressonar do bebê que, depois de queimar em febre, conseguiu pegar no sono; como há também essa voz carinhosa do amado que soa ao ouvido da amada. É como aquela bela música, da qual gostamos e que enche o nosso coração de alegria. O silêncio é uma educação do ouvido, mais do que da língua. Como é difícil ouvir sons delicados quando estamos falando. E a voz de Deus é um som muito delicado e principalmente a ouvidos não acostumados a Ele. Há ruídos que incomodam e silêncios que fazem bem.
Pe. Lino Baggio, SAC
Paróquia São Roque – Coronel Vivida
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