Dirceu Antonio Ruaro
Na semana passada falei sobre a questão de limites. Tentei deixar claro que é necessário, ou melhor, imprescindível, criar os filhos com limites.
Mesmo que, muitas vezes, a gente sinta mais dor do que eles, é preciso que aprendam que nem tudo o que se quer é possível se ter.
A frustração é parte importante da formação da pessoa, entender que há limites e que nem tudo se pode, é fundamental. É bom que os pais e educadores entendam que a frustração estimula a produção de hormônios de estresse. Em momentos de frustração, enfrentamos emoções semelhantes àquelas que ocorrem quando estamos diante de uma grande dificuldade. E isso é pedagógico, no sentido de aprendizagem para a vida.
Isso nos mostra que é preciso que pais e educadores não tenham medo de dizer “não” quando é necessário. Ensinar crianças e adolescentes a lidar com a frustração não é fácil, mas é necessário se quisermos formar pessoas melhores, mais respeitadores para além do “politicamente correto”.
E, certamente uma das questões que vão fluir é a ideia de “certo e errado”.
Isso, de fato, é muito complexo. Há muitas teorias, especialmente no contexto social que vivemos. Para muitas correntes o certo e o errado não existem, são conceitos abstratos que precisam ser aplicados a cada situação ou a cada vivência e dela extrair o que se pode, ou não, considerar como certo ou errado.
Na minha humilde opinião, penso que isso é uma questão de relativismo que não ajuda muito na educação das crianças, especialmente as menores.
A família, pelo seu próprio contexto vivencial tem e vive conceitos do que seja certo e errado, mesmo porque há questões de fundo religioso, ético, moral.
Por isso, penso que cabe, sim, aos pais ensinar os conceitos de certo e errado levando em consideração a sua religião, os seus valores, a ética social e humana, além de questões legais.
Assim sendo, penso que é importante ensinar e ajudar o filho a fazer as melhores escolhas e, talvez, seja o melhor caminho para que ele aprenda a reconhecer o que é certo e o que é errado. A mediação dos pais na tomada de decisões dos filhos volta-se, principalmente, a fazê-los perceber o certo e o errado para que desse modo, possam refletir sobre suas escolhas. E para que isso efetivamente aconteça, o diálogo entre pais e filhos é essencial.
Concordo que, em muitíssimos casos ou situações vivenciais o conceito de certo e errado pode ser pessoal para muitas coisas, mas existe, sim, socialmente aquilo que o senso comum considera certo ou errado.
Na educação de filhos, é comum que os pais tentem ensinar a eles que não se consegue nada com gritos, desrespeito, situações corriqueiras de boa educação, como aprender a falar na sua vez, não se intrometer na conversa de adultos, sem pedir licença, ouvir as pessoas antes de emitir opinião, saber que o outro pode pensar diferente da gente, enfim os pais percebem por aqui o desfile de coisas com as quais não concordam, consideram erradas e tentam ensinar aos filhos.
Na atualidade é difícil conviver com crianças, jovens e adolescentes que não tenham nenhum limite, que querem vencer pelo grito, pela força, pela ameaça.
Por isso, considero que conversar é o meio pelo qual os pais podem intermediar sem imposições. A interação estabelecida pela conversa contribui para a construção de um filho capaz de refletir e pensar criticamente sobre o que é certo e o que é errado, além de criar laços afetivos mais fortes, o que também é crucial na educação dos filhos.
Parece-me que estabelecer uma relação afetiva sólida e cheia de amor e cumplicidade faz com que os filhos se sintam mais confiantes em relação a seus pais. Desse modo, sentem-se seguros e o exercício diário da educação ao invés de parecer um mal, torna-se uma questão de amizade, parceria e diversão. Porém, vale a pena lembrar que procurar o equilíbrio também faz parte da educação dos filhos. Nem sempre o tom amigável é favorável. Estabelecer limites nas horas certas também contribui na definição do que é certo e errado.
Mas é importante lembrar que o que já falamos diversas vezes, o exemplo educa mais do que as palavras. Por isso, a vivência, o exemplo dos pais, também é peça chave desse jogo.
Pai e mãe são sempre as principais figuras nas quais os filhos espelham-se e buscam, mesmo que inconscientemente, inspiração. Definir exatamente o que é certo e o que é errado e ainda conseguir passar essa noção aos filhos é tarefa árdua que se torna sólida com a prática diária dos preceitos e valores da família e faz com que os filhos internalizem tudo o que é exposto durante as conversas.
É preciso lembrar que a vivência das noções de certo e errado, de justiça, de solidariedade, vão-se desenvolvendo ao longo do tempo e de forma cada vez mais complexa. No início as crianças aprendem o que é certo e errado quando os pais a reprendem, porém, o mais importante é prepará-las para a vida, para quando os pais não estarão mais por perto para repreender, para mostrar o que é certo ou errado, quando a consciência das vivências familiares poderão apontar para o que é bom ou ruim, certo ou errado, pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.
Doutor em Educação pela UNICAMP, Psicopedagogo Clínico-Institucional e Pró-Reitor Acadêmico UNIMATER