Você não escolheu o seu corpo. Você era um espermatozoide não pensante e sem emoções, viajou, encontrou o óvulo, fecundou e putz grilis, que merda. Herdou as condições físicas dos seus pais, aceite e um beijo. Mas você pode modificá-lo, lógico, seja com atividades físicas, boa ou má alimentação, com sedentarismo, pilates, sentado no sofá comendo Ruffles e tomando Fanta ou correndo dos crushs. São dois polos: o corpo perfeito daquele seu amigo do Instagram que você dá likes ou a condição da vida, por preguiça, que te leva a acumular gordura, triglicerídeos e colesterol ruim. De toda a maneira, a nossa relação com o organismo parece que nunca está a contento. Invejo as pessoas bem resolvidas com suas carnes.
Desde quando o homem resolveu ser bípede, existe uma relação difícil com a estrutura física. Certos casos, inclusive, podem ser patológicos, como apontou o neurologista Oliver Sacks. Em determinadas situações, as pessoas nem reconhecem seus próprios braços. Fisicamente é uma coisa, mentalmente, é outra. Alguns até se mutilam. Já outros indivíduos procuram motivos ou razão para dar condição aos seus pensamentos, como seguir o mandamento de que o importante é ter uma alma saudável. “A ideia de que somos espíritos presos dentro de um invólucro carnal é tão poderosa, tão persuasiva, que você tende a pensar assim, mesmo que não seja crente”. São milênios de quase protagonismo entre o que entendemos por alma e essa coisificação física. E dá-lhe disciplina, cilícios e flagelações. Mas, também, dá-lhe anorexia, bulimia e cirurgias plásticas.
A atração pelas intervenções é tão prazerosa que torna a dor um prazer irremediável. Vide as tatuagens. São tão viciantes, é uma experiência maravilhosa, um alívio quando você vê o resultado, ainda mais quando faz com um profissional do caralho. Alô Ricardo Reis, para mim, você é o melhor. Enfim, o rabisco na pele nos dá a sensação de que podemos derrotar o inimigo pelo menos uma vez, além de nos dar a dica: quem manda no meu corpo, sou eu, não você, espírito reencarnado. Se queria fazer algo, que fizesse em outra vida, não com a minha, seu jaguara. Se não escolhemos o corpo, ao menos cabe a nós fazermos o que bem entendermos dele. Abraço!
Léo Handa – jornalista, redator e radialista