E lá se vai nosso rebento! Ganhar o mundo, aportar em outros portos, singrar outros mares.
Ficamos com o coração apertado de angústia e os olhos marejados de saudade antecipada vendo aquele ser tão amado sumindo na paisagem da retina. A alma em prece a seguir os passos em pensamentos rogativos de proteção divina.
E a vida tem que seguir…
A rotina, os afazeres e compromissos se impõem nos obrigando a retomar a rota dos dias e, felizmente, com sua praticidade, nos assegurando a sanidade mental. O trabalho, os estudos, os amigos e familiares queridos nos ajudam nesta nova fase de reestruturação do dia a dia.
O fato é que quando um filho querido sai de casa para estudar ou trabalhar fora, estabelece-se a dualidade de sentimentos, a ambivalência de emoções.
Se por um lado choramos a falta daquele a quem cercamos com tanto amor, tantos cuidados e até mimos, por outro vibramos com ele, com sua conquista.
Ficamos orgulhosos da sua vitória e também por ver que fizemos a coisa certa ao criar um filho com autonomia, capaz de ser independente em suas escolhas e autoconfiante para enfrentar a solidão.
Pais saudáveis devem poder passar por este processo elaborando a dor da perda sem entrar em um quadro de síndrome do ninho vazio. Sem ficar de luto, nem deprimido a ponto de não conseguir dar seguimento a sua vida pessoal sem a presença do filho.
É esta fase, ainda, um desafio para o casal. É preciso ver se há amor, camaradagem e cumplicidade suficientes para voltar a ser uma dupla, um par, aquele que teve amor e companheirismo para juntos formar uma família. Ou o corre-corre do cotidiano levando as crianças de lá pra cá, participando de um sem número de atividades com eles, serviu para camuflar a solidão a dois, o distanciamento destes pais?
No começo é, sim, penoso, especialmente para as mães, muitas vezes tão preocupadas com o conforto, segurança e bem-estar do seu filho adorado. É uma adaptação natural, com períodos de lágrimas e muita saudade, mas que não pode descambar para um inconformismo, nem autopiedade.
Confiemos na educação que lhes demos, nas raízes e na base sólida que eles têm para recorrer em momentos de crises.
É vida que segue! É a roda da vida girando, fazendo nossos filhos tornarem-se homens adultos, para, amanhã, eles também terem coragem de lançar seus filhos ao mundo. Tal qual um arco que se curva para lançar a flecha o mais distante e firme possível.
Dra. Valéria Azevedo – Médica Psiquiatra
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