Paulista de família pernambucana, Burle Marx, morto em 1994 aos 84 anos, passou a maior parte da vida no Rio e morou no sítio por mais de 20 anos. O paisagista é conhecido especialmente por ter introduzido ao modernismo o uso de plantas nativas brasileiras, criando o que hoje se chama de paisagismo tropical moderno. Entre parques, jardins públicos e privados, ele projetou mais de 3.000 instalações.
O sítio reconhecido pela Unesco tem 405 mil metros quadrados de área. São mais de 3,5 mil espécies de plantas tropicais e subtropicais. Há ainda sete edificações e seis lagos, além de acervo museológico com mais de três mil itens. Entre eles, “coleções de arte moderna, cuzquenha, pré-colombiana, sacra e popular brasileira, de cristais e de conchas, além do mobiliário e dos objetos de uso cotidiano da casa”, como descreve o Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan).
Tido como o principal projeto do paisagista, que tem seu legado espalhado pelo País e até fora dele, o sítio foi a residência de Burle Marx por 21 anos, entre 1973 e 1994. Ele já havia adquirido o terreno em 1949, e desde então cultivava o jardim. Hoje, o espaço é visitado, anualmente, por cerca de 30 mil pessoas. Comprada por Burle Marx e por seu irmão, a propriedade era uma antiga plantação de café e banana localizada no meio da Mata Atlântica, a cerca de 50 quilômetros do centro do Rio.
“A chancela estabelece um compromisso para manter os valores excepcionais que tornam esse lugar de importância para toda a humanidade. Temos a missão de preservar para as futuras gerações este espaço de aprendizado e de fomento ao conhecimento sobre natureza, paisagismo, arte e botânica”, disse, em comunicado, a presidente do Iphan, Larissa Peixoto.
Indicação
O processo rumo ao reconhecimento da Unesco começou em 2015, quando o sítio foi inscrito na lista indicativa brasileira. O documento final foi formalmente entregue em janeiro de 2019, concentrando-se na defesa do valor do local como laboratório botânico e paisagístico. Do conjunto faz parte a Cozinha de Pedra, onde o paisagista organizava encontros frequentados por artistas, poetas, arquitetos – figuras como Helio Oiticica, Ligia Clark, Pablo Neruda, Oscar Niemeyer, Susan Sontag.
O passo seguinte, agora, será a elaboração de um plano de gestão para o sítio e para o entorno dele, e apontar iniciativas para coibir eventuais ameaças.
Terceira vez
Esta é a terceira vez em que o Rio de Janeiro tem o reconhecimento da Unesco nessa categoria. A primeira se deu em 2012 e dá o devido valor à paisagem carioca, na relação da cidade com o mar e as montanhas. Em 2017, foi a vez do Sítio Arqueológico Cais do Valongo, na zona portuária, por onde cerca de 90 mil africanos escravizados chegaram à América do Sul desde 1811.
Apesar de ter vivido no Rio e de lá ter desenvolvido outros projetos renomados – como o paisagismo do Aterro do Flamengo, do Museu de Arte Moderna e do Palácio Gustavo Capanema, por exemplo -, Burle Marx criou projetos marcantes em outras cidades. São dele os jardins do Palácio do Itamaraty e do Eixo Monumental, em Brasília, e o do Parque do Ibirapuera, em São Paulo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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